"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
E o que diz a Igreja Católica à direita beata do tugão com lugar cativo nas primeiras filas das igrejas de boca aberta para receber o "Corpo de Deus"? Diz que a propriedade privada é um direito legitímo mas não absoluto.
Faço minhas e volto a propor a todos algumas palavras de São João Paulo II, cuja veemência talvez tenha passado despercebida: «Deus deu a terra a todo género humano, para que ela sustente todos os seus membros, sem excluir nem privilegiar ninguém». Nesta linha, lembro que «a tradição cristã nunca reconheceu como absoluto ou intocável o direito à propriedade privada, e salientou a função social de qualquer forma de propriedade privada». O princípio do uso comum dos bens criados para todos é o «primeiro princípio de toda a ordem ético-social», é um direito natural, primordial e prioritário.Todos os outros direitos sobre os bens necessários para a realização integral das pessoas, quaisquer que sejam eles incluindo o da propriedade privada, «não devem – como afirmava São Paulo VI – impedir, mas, pelo contrário, facilitar a sua realização». O direito à propriedade privada só pode ser considerado como um direito natural secundário e derivado do princípio do destino universal dos bens criados, e isto tem consequências muito concretas que se devem refletir no funcionamento da sociedade. Mas acontece muitas vezes que os direitos secundários se sobrepõem aos prioritários e primordiais, deixando-os sem relevância prática.
Portanto o "amor ao próximo" e a "caridade cristã" não interessam para nada, eles que morram longe, ainda por cima são do outro lado do mundo, e o Estado que nos devolva o dnheiro que lhe devemos.
Requisição civil dos estivadores por uma greve, reivindicativa salarial e contra a precariedade, que bloqueia a economia? Pode.
Requisição civil dos hospitais privados por causa de uma pandemia que mata, entre outros, os estivadores necessários à economia paralisada pela Covid? Não pode.
"Ontem foi dada a garantia ao CDS, por parte do senhor Presidente da República, de que no quadro do próximo estado de emergência não está equacionada uma requisição civil dos serviços de saúde" do setor privado e social"
Liberais que não só acham um salário mínimo, que garanta um mínimo de dignidade a quem o aufere, impedimento para a criação de emprego e gerador de desemprego e miséria, como defendem uma economia a competir pelos baixos salários, muitas horas por dia e poucos dias de descanso, incomodados com o "trabalho escravo" que é a hipótese defendida por Ana Gomes da requisição pelo Estado dos hospitais privados para fazer face à segunda vaga da Covid 19. Que a saúde nunca vos falte para aprenderem a diferença entre trabalho escravo, regulação do mercado do trabalho, requisição civil e parvoíce disfarçada de teoria económica.
Depois de a TVI ter revelado uma gravação onde a senhora bastonária da Ordem dos Enfermeiros aparece a acertar estratégias com os sindicalistas, no telejornal da noite na SIC Notícias a senhora dirigente da Associação Sindical dos Enfermeiros utiliza uma expressão que diz tudo e que automaticamente posiciona o sindicato que dirige: "um Governo apoiado pela esquerda". Todas as greves convocadas pela CGTP são greves decididas na sede do PCP à Soeiro Pereira Gomes e que não levam em conta o país que quer trabalhar, nem têm respeito pelos outros cidadãos que, indirectamente e por tabela, se vêm envolvidos nestas manigâncias dos comunistas e dos funcionários públicos, calaceiros que não podem ser despedidos e que vivem bem a expensas do erário público e de todos os outros que se levantam cedo para ir trabalhar, isto só para utilizar alguns dos argumentos a que a direita radical recorre de cada vez que há uma greve que lhe escapa ao controlo. Os enfermeiros terem uma bastonária industriada em S. Caetano à Lapa, e sindicatos por "enfermeiro quadrado" a orquestrarem greves alimentadas por donativos "Jacinto Leite Capelo Rego" é "a justa luta dos enfermeiros" inserida no legítimo direito à greve, que não causa prejuízo a ninguém, nem aos próprios, sem a noção do ridículo, ou do insulto, ao tal do país que se levanta cedo para ir trabalhar, que são os 57 anos para a idade de reforma e um aumento de 400 € de salário. Vai-se ver e, tudo isto dito e reivindicado, a grande maioria até é contra a legalização das drogas...
Como é que se requisita civilmente [de requisição civil] alguém que não tem nenhum vínculo contratual com nenhuma empresa ou entidade [no caso do Porto de Setúbal]?
"Eu requisitado? Porquê eu e não o senhor ministro requisitador? Ou o senhor doutor Marco António Costa do PSD, que não se calou com isso uma semana inteira?". [o requisitado a falar para com os seus botões].
E as televisões dias, semanas a fio, a todas as horas certas, em todos os noticiários a papaguear esta coisa da "requisição civil".
"por determinismos ideológicos e políticos" não pode haver uma greve contra uma privatização ditada pelos por determinismos ideológicos e políticos dos partidos da coligação que compõem o Governo que decreta a requisição civil para defender a economia nacional e o interesse público que deixa de ser prioritário a partir do momento em que a empresa for privatizada, ou nacionalizada por outro Estado, como tem sido norma nestes quatro anos de Governo da direita.
Que fica tudo escarrapachado, tim-tim por tim-tim, no caderno de encargos, isso do interesse público e do serviço público e que não há volta a dar-lhe pela empresa ou pelos investidores ou pelos especuladores que comprarem a TAP. Assim como estava tudo escarrapachado, tim-tim por tim-tim, preto no branco, não havia volta a dar-lhe, no caderno de encargos que era a Constituição da República Portuguesa no capítulo que dizia que as nacionalizações eram irreversíveis.
E deixar de argumentar como se fossemos todos um bando de crianças?