"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Morreram [em Tábua] a combater o fogo na floresta de uma multinacional que não quer saber". Ontem na RTP, na reportagem a seguir ao Telejornal. Ah, e tal, o problema não é o eucalipto, o problema é o eucalipto selvagem, o desordenado, do pequeno proprietário que não quer saber, só pensa no lucro, a floresta de eucalipto ordenada é que é. E coise. [Os grandes proprietários não pensam no lucro]. É o responso que há décadas nos tentam enfiar pelos ouvidos. "A empresa de celulose foi convidada a comentar mas não respondeu". Não sabemos se a dupla Procissão Cristas & Pires de Lima, os ministros do eucalipto no Governo da troika de Passos Coelho, foram convidados a comentar.
A casa da livre iniciativa privada e do empreendedorismo, com um corpo docente onde pontificam, entre outros, João César das Neves, João Carlos Espada, Vítor Gaspar, a ensinarem o Estado mínimo e que os subsídios, subvenções e rendas só minam a economia e só incentivam o cidadão a anichar-se nas zonas de conforto.
Agora a seguir vem o argumento de que não é tudo farinha do mesmo saco, o populismo, que nem todas as IPSS são todas as IPSS, o populismo, que assim qualquer dia não há ninguém válido para ocupar qualquer lugar que seja, o populismo, que estamos a afugentar os melhores, o populismo. Descontando o facto de "os melhores" e "os mais válidos" serem sempre os mesmos, num círculo amiguista que tem o condão de afastar e interditar a participação dos melhores e dos mais válidos, o populismo é o argumento recorrente para quando as coisas não correm de feição e são ditas na cara, sem floreados nem rococós, de modo a que toda a gente perceba. O que é certo é que na Raríssimas estava o regime todo, as aves raríssimas do famoso "arco da governação", algumas repetentes em tudo o que é organização ou associação, e não é por acaso que as coisas depois acontecem por acaso.
A grande "reforma estrutural" que a 'Geringonça' deixa por fazer é a de moralizar e disciplinar o Estado paralelo ao Estado e subsidiado pelo Estado, a indústria da engorda à custa da desgraça alheia sob a capa do mui nobre argumento de que o Estado não chega melhor ao terreno do que quem já lá está, e que dá pelo nome de IPSS.
Ao ver o 30 Minutos da Rita Marrafa de Carvalho e toda a histeria e irracionalidade à roda de um cantor [?] de 2ª categoria da 3ª divisão europeia, ocorreu-me que as pessoas apesar de continuarem a frequentar festas e romarias, de mais ou menos cariz religioso, deixaram de frequentar a igreja e de praticar a confissão e, ou por motivos culturais ou por motivos económicos, também não recorrem à ajuda de um psicólogo e ficaram assim numa espécie de limbo.
Será mesmo necessário, assim que cai o primeiro nevão do ano na Serra de Estrela, que as televisões se mudem para lá de armas e bagagens, e é entrevistar as famílias-turistas, as famílias-autóctones, os comerciantes, os donos dos hotéis e restaurantes, os GNR’s de serviço, o empregado do limpa neves, o presidente da Região de Turismo, o pastor, o presidente da Câmara da Covilhã, o criador de cães e o mais que venha pelo caminho. Com abordagens da treta a receberem de volta respostas da treta, cheias de lugares-comuns, iguaizinhas às dos anos anteriores?
Todos os anos, desde que me lembro. Só que agora é vezes 6 – quatro canais generalistas, mais a SIC N e a RTP N.
Já que pelos vistos tem de ser, e como diz o povo “o que tem de ser tem muita força”, não era mais fácil – e mais barato – ir buscar umas imagens ao arquivo?
(Imagem roubada ao Scott Polar Research Institute)