"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Os recentes casos a envolverem autarcas, ex-autarcas, secretários de Estado, ministros, políticos e empresários avulso, são a resposta, com um desenho, às duas perguntas que todos nós já colocámos uma vez na vida:
- Como é que aquele borra-botas, que não tem onde cair morto, todos os anos troca de topo de gama, vai passar férias ao fim do mundo, e janta em restaurantes que servem miniaturas ao preço do salário mínimo nacional?
- Como é que é possível tamanho atentado urbanístico e ambiental em zona histórica, em zona de reserva ecológica; quem é que autorizou a construção de semelhantes cagalhões arquitectónicos?
Um ex-deputado do partido que celebra Cuba, lamenta o fim da União Soviética e a queda do Muro de Berlim, não sabe se a dinastia norte-coreana é ou não uma democracia, e que no projecto de teses ao XVIII congresso escreve preto no branco "importante realidade do quadro internacional, nomeadamente pelo seu papel de resistência à 'nova ordem' imperialista, são os países que definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista - Cuba, China, Vietname, Laos e R.D.P. da Coreia". Viva então a República, 'camarada' António Filipe.
Bonito, bonito não são as pirâmides do Egipto, que substituem os ditos cujos e o pito na versão educada. Bonito, bonito é ouvir Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, no 5 de Outubro a fazer um discurso encomendado por António Costa. "There Is No Alternative".
No dia em que se comemora a revolução que instituiu a República e consagrou, oficialmente, a separação de poderes entre Estado e Religião, o Presidente do Estado laico requer à Assembleia da República autorização para uma deslocação ao Vaticano para um beija-mão papal. Muito bem.
Cinco anos depois de Cavaco Silva e do Governo da direita radical, com o 5 de Outubro novamente feriado nacional e a ser comemorado na rua, literalmente na rua, na calçada não na varanda nem nos claustros à porta fechada, com recados de Marcelo Rebelo de Sousa, compactados num discurso de 7 minutos e 43 segundos, para o seu antecessor e camarada de partido e para os seus camaradas de partido e ilhas adjacentes CDS, ex ministros e secretários de Estado e ex ministros não empossados, Asnô e Borges e outros com milhões em comissões de privatizações, a bem da Nação, instados a comentar os recados do Presidente, quando já se começava a recolher as cadeiras na Praça do Município, os representantes do PSD e do CDS bateram muitas palmas e estão de acordo com os ditos que o senhor Presidente deixou ao Governo do PS e à maioria da Geringonça. Estes gajos ou se metem na droga ou gozam connosco...
Quem é que está genuinamente incomodado por Cavaco Silva, não o Presidente da República, que Cavaco Silva é uma coisa e Presidente da República outra coisa completamente diferente, não estar presente na comemoração do 5 de Outubro?
Quem é que ainda se recorda dos últimos nove anos de participações e de homilias de Cavaco Silva no 5 de Outubro?