"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O que vale é que o Governo é amigo do contribuinte e sempre se podem descontar na declaração de IRS as facturas da oficina e, com um bocado de sorte com a factura da sorte, vem um topo de gama novo, com direcção e suspensão nova, mais pneus a estrear e os mestres da propaganda ainda fazem um figurão na campanha eleitoral.
Descontando o habitual, e o habitual é a arte que Pedro Passos Coelho domina com mestria e que consiste em aplicar aos outros tudo o que lhe encaixa que nem uma luva – "Aqueles que querem realizar o irrealizável acabam por não ser justos nem oferecer segurança aos cidadãos, acabando por pôr em causa o Estado Social", é, no mínimo, de uma enorme falta de sentido de Estado e de uma não menos enorme falta de respeito por uma instituição que se quer blindada a debates político-partidários e a opções de governação, que o primeiro-ministro se aproveite das câmaras e dos microfones, numa cerimónia oficial dentro das instalações da Polícia Judiciária, para passar recados à oposição e ao consenso, finalmente encontrado entre todos os quadrantes políticos, a pedido do Presidente da República.