"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
António Costa, que tinha o Presidente da República no bolso por via da maioria absoluta, conquistada de mão beijada, numas eleições convocadas por Marcelo com a esdrúxula explicação do chumbo do Orçamento do Estado, de modo a facilitarem o calendário eleitoral na corrida à liderança do PSD, está refém do Presidente Marcelo, por um misto de trapalhadas, amiguismos resultantes em incompetências, checks and balances dentro do PS, sobranceria e arrogância de quem vive desligado do dia-a-dia do comum dos portugueses. Como cantava o Johnny Thunders em 1977, "Baby I'm born too loose, Oh baby I'm born too loose". Cavaco, no sarcófago da Coelha, deve estar morto [outra vez] de riso.
Podemos ver a remodelação governamental de dois prismas completamente opostos e que ainda assim se complementam:
- O da nova geração promovida a cargos de governação, ganhando currículo e experiência governativa para um futuro mais ou menos próximo;
- O do estrangulamento de que padece o PS; dos cargos directivos em circuito fechado - pais/ filhos/ maridos/ mulheres, não colocando em causa as competências das pessoas em questão, questionando antes se um qualquer outsider com as mesmas competências e capacidade consegue alguma vez atingir semelhante patamar; da imagem passada para o exterior de um partido fechado sobre si, afastando ainda mais o cidadão da política.
O CDS, que não está no Governo, vem pedir a remodelação do Governo, onde o CDS está de corpo e alma, ainda antes de conseguir votar, ao mesmo tempo contra e a favor, da moção de censura do PS, ao Governo onde o CDS está e não está.
Diz que os partidos políticos estão descredibilizados aos olhos dos cidadãos.
Ataca-se no Pão: sai Correia de Campos da Saúde, para acalmar as hostes internas e as hostes nas ruas.
Ataca-se no Circo: sai Isabel Pires de Lima da Cultura, para acalmar as elites.
Sócrates pode ter muitos defeitos, mas parvo não consta no rol. A remodelação é feita principalmente à esquerda. O PSD não atrapalha Sócrates, de tão entretido que anda a atrapalhar-se a si próprio.
A remodelação é feita à esquerda. A direita em Portugal sempre se deu mal com a rua; à excepção de um curto período no PREC em que andou de braço dado com a Igreja a atacar e incendiar sedes de partidos de esquerda a norte de Rio Maior. As ruas sempre foram monopólio da esquerda. A contestação nas ruas à política para a Saúde estava a capitalizar à esquerda.
Os mesmos problemas que a direita tem com a rua, têm-nos também com as coisas da cultura. Um complexo de que não se consegue livrar (Gonçalo Reis (revista Atlântico) explica). As gentes da cultura e das artes andaram sempre maioritariamente pela esquerda. E, a um ano e picos das eleições, uns escritos por aqui e por ali, nos blogues e nos jornais; umas entrevistas e uns debates por acolá; não matam mas moem. Fazem mossa.
No timming certo. No dia em que o bastonário da Ordem dos Advogados volta à carga no discurso de abertura do ano judicial; onde o Governo levou mais um puxão de orelhas do Presidente. No dia em que a ONG Reprieve ressuscita Guantanamo.
Os media portugueses sempre tiveram dificuldade em lidar com enxurradas de informação.
Ele há com cada operação cirúrgica!
Post-Scriptum: e fala-se e escreve-se sobre o ministro do Ambiente que também devia ter ido à sua vidinha. Porquê?! Com o que aí vem de obras, interessa é nem sequer haver ministério do Ambiente, quanto mais um ministro!