"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Os filhos, netos e bisnetos do êxodo da Nakba são sempre "refugiados" palestinos, apesar de terem nascido no Líbano, na Jordânia, na Síria, no Egipto, e de nem sequer saberem apontar no mapa o local de onde os seus antepassados fugiram.
Os filhos, netos e bisnetos das deportações massivas de Estaline são sempre qualquer coisa "étnico", russos étnicos, tártaros étnicos, azeris étnicos, etc, apesar de nem sequer saberem apontar no mapa o local de onde os seus antepassados foram retirados à força e de nem sequer a língua já falarem.
Returnees walk over the border from Sudan into Joda, South Sudan, holding phones up on the raised road in the hopes of getting mobile signal. Most people with no cash receive money from relatives, allowing them to digitally pay for transport further south to Malakal if they are returnees, or Maban if they are Sudanese refugees. Guy Peterson/ Al Jazeera.
O que é que vai na cabeça de um gajo que atravessa o Mediterrâneo numa embarcação manhosa, à mercê das redes mafiosas de tráfico de humanos, que se vê viúvo na Grécia num incêndio num campo de refugiados, sozinho em Portugal, pai de três menores num país estrangeiro, para fazer uma merda destas?
André Ventura tem pai, tem mãe, tem avós, tios, primos, família, não nasceu de geração espontânea, acaso a algum jornalista já lhe passou pela cabeça ir saber o que é que a família pensa, o que é que falhou na educação para sair, e vou ponderar bem os termos, um monte de merda desta envergadura?
José Crespo de Carvalho, Presidente - Comissão Executiva | President - Executive Board - ISCTE Executive Education [sic] da "We Help Ukraine, Organizações cívicas e sociais. A platform to help Ukraine refugees find living support worldwide" [sic] escreve, no Observador, o online da direita radical, que temos de aproveitar os refugiados ucranianos muito bem aproveitadinhos, 30 000 é um número xpto, habituados que estão a "trabalhar no duro" [sic] e em "climas inóspitos" [sic] vêm dispostos a tudo, de sol-a-sol, sem dias de descanso e por qualquer esmola, "sobretudo de sexo feminino e que terão que sustentar, muitas vezes sozinhas, os seus filhos da guerra, serão uma força tremenda para o mercado de trabalho português" [sic]. Entusiasmado com a genialidade do seu raciocínio insinua a ameaça "Mas é também certo que a verificar-se esta vinda haverá muitos portugueses que serão preteridos por ucranianos" [sic], "Seria bom que os portugueses pensassem nisto a sério" [sic] e assim, sem qualquer pudor, passamos para outro nível do capitalismo sem escrúpulos, do desemprego estrutural, como ameaça e pressão permanente sobre os que estão empregados, para os refugiados estruturantes na economia. A "genialidade" de criar uma organização humanitária como biombo para o aumento da mais-valia através da exploração do seu semelhante. A bem dizer não há grande diferença entre o que o senhor pensa e passa ao papel sem pruridos e as máfias que se deslocaram para as fronteiras da Ucrânia afim de desviarem mulheres e crianças para as redes de prostituição e escravatura sexual.