"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
- O Correio da Manha [sem til], jornal e televisão, porque vive do clickbait, das audiências, do alarmismo social, das fugas cirúrgicas ao segredo de justiça, do linchamento na praça pública, irreversível por causa do mui famoso "tempo da justiça".
- O partido da taberna, que capitaliza nas urnas a indignação e a revolta das pessoas, açuladas pelo tabloidismo, encaminhadas para o justicialismo do alcatrão e penas que corrói o Estado de direito democrático, "são todos da mesma laia, isto quer é um Salazar".
Os primeiros nunca foram a votos, os segundos têm contra si 82% dos votos em urna.
Pessoas que comentam nas televisões, cujo único atributo para o fazerem é moverem-se bem no amiguismo lisboeta, serem amigos de fulana ou sicrano, conhecerem aquele e aquela, proximidade aos poderes que decidem quais os cartilheiros que, no tempo tal, devem marcar a agenda e passar o spin, que tirando isto não tinham onde cair mortos e ficavam a falar de borla no balcão do café ou no transporte público sem que ninguém lhes passasse cartucho, recebem avença mensal de muitas pensões médias para dizerem aos reformados e pensionistas que não podem ser aumentados no valor da inflação.
Vamos ao que interessa. E o que interessa é este senhor, que passou os últimos 5 anos a insultar os portugueses, vai, aos 62 anos de idade, fazer o que nenhum dos seus conterrâneos vai alguma vez conseguir: reformar-se. O aumento da esperança de vida, a sustentabilidade da Segurança Social e o coise. Este senhor, que passou os últimos 5 anos a insultar os portugueses, vai, aos 62 anos de idade, fazer uma coisa que, nem nos melhores sonhos sonhados, os seus conterrâneos vão alguma vez sonhar fazer: reformar-se com uma reforma milionária. O crescimento económico indexado, a produtividade e o coise também. De certeza que merece. "Auguenta, auguenta!" Auguentamos nós por ele. [Não, não é gralha, é assim que os coitados que auguentam falam].
O personagem que desclassificou e menorizou a figura do Presidente da República e desprestigiou a instituição Presidência ao optar por receber a pensão de reforma, por ser mais elevada, em detrimento da remuneração inerente ao cargo para o qual foi eleito – o de "Supremo Magistrado da Nação", como gostava de papaguear por tudo e por nada, vai, depois do adeus, acumular as duas.
Depois de 4 anos com a pasta de Segurança Social a cargo do CDS, ministro Pedro Mota Soares, depois da sustentabilidade da Segurança Social fragilizada por via da diminuição das contribuuições das empresas, e consequente aumento da mais-valia para os patrões e accionistas, para incentivar a criação de emprego pelas empresas e que afinal é incentivado em 60% pelo dinheiro dos contribuintes depois de um colossal aumento de impostos, o primeiro-pantomineiro, Pedro Passos Coelho, aproveita uma ocasiâo menor, dedicada a criadagem menor, para menorizar o parceiro de coligação, o CDS, e dar um valente pontapé no traseiro do vice-pantomineiro, Paulo Portas, pela reforma da Segurança Social que não foi feita e disponibilizando-se, mesmo na oposição, para a fazer com o Partido Socialista. Como se diz no norte, “bonito, bonito são os colhões a bater no pito”.
Partindo da revolução cultural que foi a sedentarização, permitida pelo adquirir de técnicas agrícolas e pecuárias, e da sua crucial importância na evolução da espécie humana e na organização política, social e económica das sociedades modernas, a partir do surgimento de agregados populacionais – aldeias, vilas e cidades.
Confesso que fico com "pele de galinha" quando ouço estes gordos anafados, de sedentários, habituados que estão a pôr e dispôr sobre vidas alheias, falar em "mobilidade geográfica" como uma das panaceias para os males da sociedade, como se os de Setúbal, por exemplo, fossem alegremente cantando e rindo para Braga, por exemplo também, ocupar postos de trabalho que em Braga não há para os bracarenses, ou vice-versa. A menos que seja a "mobilidade geográfica" do pai da "mobilidade geográfica" moderna – Estaline, desenraizar para subjugar e reinar. Desta gentinha já espero tudo.
Não é só a incompetência dos criançolas, dos gaiatos, dos ganapos, dos putos do PSD/ CDS-PP no, e para o governo da Nação. Não. É também, e acima de tudo, mais um exemplo do total desconhecimento dos dossiers e das matérias: Quando a norma nas empresas privadas de transportes, sublinho privadas, é a passagem à reforma quando é atingida a idade de 62/ 63 anos, pelas razões que os sindicatos que os sindicatos explicam. Ainda assim se calhar é melhor fazer um desenho…
O ministro Miguel Macedo, habituado que está a ver Clint Eastwood, com 80 anos, a perseguir e dar caça à bandidagem, pensou para com os seus botões, "se ele aguenta eles também aguentam. Ai aguentam, aguentam" e, vai daí, decide aumentar a idade com que os profissionais da PSP e GNR podem passar à reserva ou pré-aposentação dos 55 para 57 ou 58 anos.
Paulo Portas, que já não anda a passear Correios da Manha [não, não há engano, é mesmo sem til] debaixo do braço pelas feiras e mercados, fica-se perante o descalabro que se adivinha na manutenção da ordem pública e no combate à criminalidade.
29 anos, um filho, suponho que casado, "portas abertas" num escritório de advocacia, deputado eleito, comissão de Assuntos Constitucionais, de Defesa Nacional, comissão parlamentar de inquérito à nacionalização do BPN, coordenação do grupo de trabalho que acompanha a aplicação de medidas de combate à corrupção, e líder de uma jota. Ufff… Jota de juventude. Um sortudo. Ou um espertalhão.
Preocupam-me mais os cada vez mais com a mesma idade, curso superior, desempregado, a viver em casa dos pais, sem filhos, com a namorada, desempregada, também curso superior e também a viver também em casa dos pais, a grande parte pensionistas que "estão a receber mais do que descontaram".
Há que pôr cobro a isso, dos pais, e há que tomar iniciativas prioritárias, "como a promoção da natalidade", para os filhos.
Nasceu com o cu virado para a Lua. Ou para o Partido. Pode dar-se ao luxo de dizer umas barbaridades sem ser confrontado.
No que concerne aos cidadãos podemos dividir Portugal em duas categorias distintas: os que trabalham para a reforma e os que trabalham para a reforma dos outros.
Populismo e isso. A Democracia tem custos e tal. E já agora a sustentabilidade da Segurança Social e por via disso trabalhar de sol a sol e até morrer.
Uma pessoa liga a televisão e vai por acaso bater a programas, género Opinião Pública na SIC N, onde o “estimado telespectador” liga para dizer de sua justiça, ou nem por isso, e depois vê no canto inferior direito do ecrã: fulano, 57 anos, reformado; beltrano, 60 anos reformado; sicrano, 59 anos, reformado; outro que tal, 62 anos, reformado. Mais de 80% das chamadas são de reformados – e daí não vem grande mal ao mundo, um reformado tem de se entreter com qualquer coisa – mas de reformados numa faixa etária entre os 57 – cinquenta e sete – 57 e os 62 – sessenta e dois – 62 anos.
Os mesmos que puseram esta gente, útil à sociedade, a trabalhar para Portugal Telecom e para as audiências das televisões, de forma a limpar as empresas para as privatizações, são os mesmos que agora falam em aumentar a idade da reforma porque o sistema como está é insustentável.
E o povo engole e continua agarrado ao telefone num exercício de masturbação colectiva a dizer de sua justiça, ou nem por isso.