"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Se o Parlamento Europeu quisesse efectivamente premiar quem se distingue na luta pela liberdade e pelos direitos humanos punha de lado a hipocrisia e o cinismo, e que pomposamente se renomeou como realpolitik, e não embarcava na política do facto consumado ao distinguir como distinguiu os «cinco protagonistas do movimento da Primavera Árabe» [a Síria aparece aqui para enfeitar].
A mesma política que permitiu os negócios com Kadhafi até minutos antes dos bombardeamentos da NATO, a mesma política que permitiu que os ditadores Mubarak e Bem Ali tivessem assento, e acento, na Internacional Socialista até quase à hora da sua deposição.
Se o Parlamento Europeu quisesse efectivamente premiar quem se distingue na luta pela liberdade e pelos direitos humanos distinguia, por exemplo, o povo saauri, e por arrasto todas as mulheres [não é fácil ser mulher por aquelas bandas], na figura de Amanitu Haidar.
De certeza que há muitos bons negócios muitas boas razões para o não ter feito.
Adenda: por uma razão ou por outra não foi escrito na altura devida, como não gosto de ficar a remoer “assuntos pendentes” esta noite já vou dormir mais descansado.
Uma vez vi, salvo erro no canal História, um documentário sobre uma empresa norte-americana especializada em mudar imóveis de local. Desde uma cabine telefónica a uma mansão, tudo mexe. Até uma catedral com quase 200 anos andou uns quilómetros para o lado (com padre e tudo!) para facilitar o traçado de uma auto-estrada.
Ora se quem, na prospecção de petróleo e gás e de novos mundos negócios ao mundo ao negócio não salvaguardou "uma área de protecção" à Liberdade, à Democracia e aos Direitos Humanos em terras do Magrebe e do norte de África, quem nos garante a nós que vai respeitar um monte de pedras, velhas do séc. XII? Contrate-se já os amAricanos da mobilidade e pregue-se com o mosteiro em Alfeizerão!
Parece que Kadhafi convocou os Vândalos para massacrar o império e se adivinha aí uma horda de deserdados, originários da Africa Proconsularis, às portas da riqueza e do bem-estar europeu. Nada que não fosse de esperar. Anos e anos a fio a amparar ditadores e todos os atropelos possíveis e imaginários aos Direitos Humanos, tudo muito bem embrulhado - e com o lacinho de cetim - em papel realpolitik, ao invés de se apostar nas reformas do(s) regime(s), na criação de riqueza nos países e na qualidade de das populações autóctones.
As pessoas, salvo raras excepções, quando saem dos seus países é porque aspiram a melhores condições de vida para si e para os seus. É fácil de perceber e nem acho que seja preciso explicar isso a uma nação chamada Portugal.
José Sócrates e Luís Amado, despidos do avatar “ministro”, vão conseguir viver, até ao fim dos dias das suas vidas, de bem com a suas consciências, por terem alinhado a Força Aérea Portuguesa ao lado da força aérea que bombardeou o seu próprio povo?
Agora que o mundo tal como o conhecemos/ conhecíamos se desmorona em 15 dias já nos podem explicar a eleição de Portugal para o Conselho de Segurança da ONU ou vamos ter de esperar por uma qualquer Wikileaks?
Quem assim fala tem sido um dos principais beneficiários com o estado em que as coisas (ainda) se encontram), com os baixos salários, com a ausência de educação e de cuidados de saúde, com os atropelos aos Direitos Humanos em geral e das mulheres em particular, com a inexistência de um sistema de segurança social, hábil e inteligentemente colmatado por organizações fundamentalistas e terroristas, com a cumplicidade para com as ditaduras corruptas e torcionárias, e a que se convencionou chamar "realpolitik". Para ser levado a sério o artigo devia vir assinado: Ângelo Correia, engenheiro (que a Direita é muito ciosa do estatuto), presidente da Câmara do Comércio Luso-Árabe.
«É fundamental para a estabilidade e para a segurança da Europa (…) em termos políticos mas também em termos de segurança e estabilidade para a Europa (…) um debate coerente sobre toda a problemática que está em causa neste momento para a Europa, para o Ocidente, mas também para a estabilidade do sistema internacional (…)» A partir do minuto 03:36
Pois. A €uropa, o Ocid€nte e o Sist€ma Int€rnacional.
Nós [Ocidente] temos dois problemas graves: o primeiro é sermos burros, o segundo é não querermos aprender.
Começou na Tunísia com os resultados conhecidos, na Argélia o número já vai em quatro, e alastra agora ao Egipto e à Mauritânia. Para nós, europeus, e para a nossa realpolitik cúmplice do terrorismo de Estado, o peso das mortes. Destas e das silenciosas.