"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A propósito da reedição da obra, se fosse hoje Zeca tinha escrito os Fantoches de Lavrov, com dedicatória aos partidos alegadamente de esquerda que só querem "a paZ! a paZ! e nada mais que a paZ!", enquanto repetem a propaganda de Putin. Ele que tinha como lema "sou o meu próprio comité central" e por isso era detestado pelos que agora não têm pejo em usar a sua música como banda sonora de festas e eventos.
A Rússia, onde os jornalistas críticos do regime aparecem mortos a balas sem nunca a polícia encontrar os culpados, ou encontrados suicidados sem motivo plausível, e os jornais independentes do poder político são encerrados em nome da liberdade, é a Rússia que lamenta a morte de um jornalista por um rocket russo na Ucrânia. Não lamenta coisa nenhuma, puta que os pariu.
Por cá tivemos tivemos do lado de lá da trincheira um alegado jornalista, por coincidência e só por coincidência militante e candidato autárquico pelo partido pan-eslavista português, aquele que só quer "a paZ! a paZ! a paZ!", que todos os dias encontrava um exemplar do Mein Kampf e uma bandeira com a suástica em cada alegada base ucraniana tomada pelo glorioso Exército Vermelho aos azoves do Batalhão, enquanto lamentava a parcialidade da imprensa ocidental por não mostrar o lado de lá que, para grande infelicidade do Kremlin, não é mostrado por causa dos assassinados e suicidados jornalistas e assim tem de recorrer a estrangeiros desempoeirados.
Isto já nem é uma questão de liberdade de imprensa variável consoante a ideologia ou a latitude mas uma questão de palhaço útil.
Lula da Silva, presidente eleito do Brasil, vem a Portugal convidado para a cerimónia do Dia da Liberdade, que assinala o aniversário da revolução que teve a sua génese nas mortes insanas de portugueses e africanos em nome de um império anacrónico ao qual pôs um ponto final, e que150 anos depois da independência do Brasil deu a independência ao então "Portugal Ultramarino", nome pomposo do fascismo para as colónias africanas, hoje países livres e independentes, membros de pleno direito na comunidade das nações, defender que a União Europeia, os Estados Unidos e a NATO devem parar o apoio à Ucrânia na sua luta para se manter um Estado independente, contra um agressor-invasor colonialista na expansão do seu lebensraum. Não havia necessidade.
Zelensky "não pode querer tudo", e se calhar é melhor deixar a Crimeia para os russos e não se fala mais nisso, disse Lula da Silva antes de viajar para Pequim, onde vai dizer que o camarada Jinping "não pode querer tudo", deve deixar Taiwan seguir o seu caminho, e que tirar a bota cardada de cima do Tibete talvez não fosse má ideia. Não, não vai. Lula só quer a paZ.
The body of a man who was killed with his hands tied behind his back lies on the ground in Bucha, Ukraine, April 3, 2022. On the northwestern fringes of the Ukrainian capital, Bucha had been occupied by Russian forces for about a month, taken as they swept toward Kyiv at the start of the invasion of Ukraine that began in late February 2022. The scenes that emerged from this town near Kyiv a year ago after it was retaken from Russian forces have indelibly linked its name to the savagery of war. AP Photo/ Vadim Ghirda
Putin a partir deste momento tem a cabeça a prémio. Não que alguém vá investir, militarmente ou através dos serviços secretos, alguma coisa que seja na sua captura, passou antes a ser assim a modos que um Slobodan Milošević russo, está em standby para num futuro, que aos homens pertence, ser moeda de troca. E a partir desta data, St. Patrick's Day de 2023, Putin nunca mais vai dormir uma noite descansado, atormentado pelos jogos de poder, ambição e traição, nos corredores do Kremlin. Começaram os dias da tortura para o aprendiz de Estaline.
Os alemães têm um nome para isto: Lebensraum. Por cá, os que passaram da Internacional ao Cominform, do Cominform ao nacional-bolchevismo, do nacional-bolchevismo ao pan-eslavismo, sem pestanejar e sem nunca questionar, deram-lhe um nome mais comprido: "por causa da intensificação da escalada belicista dos Estados Unidos, da NATO e da União Europeia". E nisto o recuperado pan-eslavismo, ao mesmo tempo progenitor e herdeiro do nacional-bolchevismo, é tão, mas tão parecido com o nacional-socialismo, que só mesmo a má-formação cívica e moral pode meter alguém, que se reclama da esquerda e da luta contra o fascismo, a fazer o pino e o flic-flac em defesa do indefensável. E isto começa a ser um problema para toda a esquerda, ter uma franja alinhada com o instigador e financiador da extrema-direita a ocidente.
Lê-se e ficamos a saber que a NATO - Portugal incluído, os 'amaricanos', a União Europeia - Portugal incluído, não só declararam guerra à Rússia como a atacaram. Só difere do discurso alucinado de Putin na véspera porque aqui a NATO - Portugal incluído, os 'amaricanos', a União Europeia - Portugal incluído, se preparam para declarar guerra e atacar a China. Diz que o PCP não é putinista pero que las hay, las hay.
A última vez que a Europa e o mundo viram 200 mil almas num estádio a gritar pela guerra e a aplaudir a morte foi na Alemanha nos idos de 1935. E contam com cúmplices em Portugal, os que se reclamam da luta contra o fascismo. É o exército dos mal-formados. Como receberam educação em casa e os pais lhes incutiram valores só podem maus por natureza para compactuarem e justificarem a barbaridade e selvajaria com a argumentação mais obtusa.