"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Bom era quando o camarada Bruno de Carvalho, ilegalmente em território ucraniano, acompanhava a invasão "operação militar especial" e, com fotos no Twitter, encontrava um azove em cada ucraniano morto e uma bandeira nazi e um exemplar do Mein Kampf em cada habitação que devassava, por cá com direito a livro no prelo a dar conta de tão profunda experiência como jornalista "independente".
Deve ser a isto que algumas mentes iluminadas, com avença nos jornais e lugar cativo no comentariado televisivo, chamam de russofobia e censura a tudo o que vem dos lados da Rússia.
Minions do "partido que não é putinista" nas redes a elogiarem o sentido de Estado do neo-fascista Órban, a toupeira de Putin na União Europeia, por afirmar que a guerra foi despoletada pela aproximação da NATO e da UE à fronteira russa, de uma assentada metendo no bolso detrás das calças o famoso "direito dos povos à auto-determinação e independência", na Constituição que tanto exigem ser cumprida, ou o direito de integrarem ou não blocos e alianças que muito bem entenderem, na famosa Acta de Helsínquia, sempre invocada pelos candidatos à Presidência da República e ao Parlamento Europeu, onde foi metida por Brejnev como defesa no tempo em que a fronteira da Rússia URSS ficava em Berlim.
De onde mais menos se espera sai um Jacques Doriot.
O taberneiro pode insultar toda a gente, o taberneiro pode levantar falsos testemunhos, o taberneiro pode mentir com quantos dentes tem na boca [porque estamos na era do pós-verdade], o taberneiro pode dizer coisas e a seguir dizer que nós não o ouvimos dizer aquilo que disse, o taberneiro pode dizer tudo isso e o mais que lhe aprouver, mas ninguém pode dizer nada ao taberneiro, ninguém pode apontar nada ao taberneiro, ninguém pode dizer "o senhor diz e faz exactamente o contrário daquilo que diz quando está ao balcão da taberna" porque isso entra na categoria de ataque a um deputado eleito por um partido com assento parlamentar na casa da democracia, coitada da democracia.
A Rússia pode invadir um Estado soberano, porque sim, porque aquilo é tudo União Soviética, e "por causa da intensificação da escalada belicista dos Estados Unidos, da NATO e da União Europeia"; a Rússia pode bombardear áreas residenciais, infantários, escolas e hospitais, porque aquilo estava tudo pejado de azoves, como reportou o excelentíssimo militante do PCP jornalista tuga, que viu e fotografou uma bandeira nazi e um exemplar do Mein Kampf em todas as casa onde em que entrou no Donbass, e que continua a ver mesmo sem lá estar; a Rússia pode fazer isso tudo e ainda ameaçar os vizinhos da Ucrânia com uma invasão e o resto do mundo com uma guerra nuclear; a Ucrânia não pode efectuar ataques cirúrgicos em território ucraniano ocupado pela Rússia - Donbass e Crimeia, por causa da morte de civis inocentes e porque isso é o envolvimento da Ocidente, da União Europeia, da NATO, e dos Estados Unidos, não necessariamente por esta ordem, no ataque a um estado soberano, a Rússia.
A Rússia financia partidos que se sentam no Parlamento Europeu ao lado do partido do taberneiro. O Partido Comunista da URSS Rússia apoia a política de Putin contra a Ucrânia e o resto do mundo. O Partido Comunista Português não é putinista.
«This morning an electronic billboard on my way to work is displaying this Putin quote: "Russia's borders do not end anywhere"», deixa no Twitter, agora X, Steve Rosenberg, editor da BBC News na Rússia, ou, como diz o partido que não é putinista, "por causa da intensificação da escalada belicista dos Estados Unidos, da NATO e da União Europeia".
Ukrainian servicemen look their smartphones as they wait, shelting from the autumn rain as they stand next frescos in St. Michael's Cathedral in Kyiv on November 2023, amid Russian invasion in Ukraine. Sergei Supinsky
A questão que se colocava era se a Rússia, enterrada até aos cabelos na Ucrânia, tinha capacidade para aguentar mais que uma frente de batalha. O Azerbeijão chegou-se à frente e acabou com o separatismo fomentado aliado arménio de Putin, não era de estranhar que a seguir fosse a Moldávia e a Geórgia voltasse ao terreno.
O nível de alucinação é de tal ordem entre os minons, do partido que não é putinista, de serviço às redes que atingimos o ponto em que a presença da Europa em África é neo-colonialismo e exploração das riquezas naturais mas o avanço da Rússia é ajuda ao desenvolvimento e libertação das grilhetas imperialistas.
Lula sabe perfeitamente que os tais 100% foram alcançados na II Guerra Mundial; Lula sabe perfeitamente que na II Guerra Mundial se ganhou tudo; Lula sabe perfeitamente que na II Guerra Mundial o inimigo foi completamente derrotado; e Lula sabe perfeitamente que a Europa do Estado social, da paz [duradoura] e prosperidade como a conhecemos hoje, íman para milhões de pessoas em todo o mundo, brasileiros incluídos, e até para aqueles que são vítimas de guerras que a Europa foi inventar onde elas não existiam, teve o seu embrião no day after à derrota total da Alemanha nazi, dos tais 100% que Lula diz não serem possíveis. Lula sabe perfeitamente isso e muito mais, e pelos vistos também sabe tocar violino na pele que se propôs vestir neste seu regresso.
Invocar Martin Niemöller quando se é apanhado com a boca na botija, ou quando se lhe cai a máscara de grande democrata, como forma de desviar a conversa e passar a ideia de que vem aí o fascismo com pezinhos de lã, devia ser considerado uma emenda à Lei de Godwin. Vem isto a propósito do ex Brigadista Vitor Jara, 50 anos por estas alturas no Chile de Pinochet, convertido em observador independente numa região ocupada e em guerra, num processo eleitoral onde os eleitores votam sob coação do cano das AK-47, em eleições não reconhecidas pela comunidade internacional, poucos meses depois de massacres de populações civis e de deportações de crianças, e da desculpa/ justificação que amanhou para nos atirar à cara que aqui, no ocidente, burguês e capitalista, onde cresceu, engordou e tem qualidade de vida, somos todos uns ignaros. Não fora assumir a fraude da sua militância podia ter adaptado o tal do Niemöller para terminar o concerto de violino em 5374 caracteres nas páginas da Visão:
“Primeiro eles vieram buscar os constitucionais democratas [Kadets], e eu fiquei calado — porque não era constitucional democrata.
Então, vieram buscar os mencheviques, e eu fiquei calado — porque não era menchevique.
Em seguida, vieram buscar os anarquistas, e eu fiquei calado — porque não era anarquista.
Depois vieram buscar os socialistas revolucionários, e eu fiquei calado - porque não era socialista revolucionário.
Foi então que os bolcheviques vieram me buscar, e já não havia mais ninguém para me defender."
Mas isso era honestidade demais para tamanha espinha dorsal do militante de um partido que não é putinista.