Sexo, género e incorrecções políticas
“Num editorial do «Público», José M. Fernandes cometia a proeza de denunciar a «political correctness» no modo de entender a diferença sexual, sucumbindo ao mesmo tempo aos persistentes preconceitos que envolvem tal questão. Falando do «sexo feminino» e do «sexo masculino», faz esta injunção irónica: «desculpem lá os puristas esta forma antiquada de referir as ‘questões de género’.» E mais à frente fala das «guerras de sexos, ou de género», como se a categoria não abolisse os termos dessa guerra ancestral. Ora, o que o nosso homem manifestamente recusa é que o género seja uma construção cultural que não se refere às determinações biológicas do sexo e surja como uma historicização dos termos da diferença sexual, libertando o masculino e o feminino do existencialismo. E recusa não por meio de argumentos teóricos ou empíricos mas não aceitando sequer a linguagem dos «puristas». É fácil de ver que o purismo está precisamente do seu lado, como acontece com todos os bravos da «political incorrectness», que inventaram o fantasma de um puritanismo alheio para glória eterna das suas concepções puritanas e, às vezes, alarves.”
António Guerreiro na Actual do Expresso este sábado.