"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O Natal da Meo tem uma mulher preta com a filha [divorciada, mãe solteira?] e uma rapariga com trissomia 21, num contexto de família maioritariamente branca com um velho à cabeceira da mesa. A pouco e pouco vamos ficando uma série 'amaricana'.
"Por cada pack comprado oferecemos um iogurte às famílias mais necessitadas", diz o comercial da Danone a passar nas televisões. Até admitimos que haja quem goste de brincar à caridadezinha, escusavam era de gozar com as famílias as pessoas.
"Quem é que nunca teve problemas com o motor de arranque?"
O regresso de alguns comerciais às televisões dizem mais do estado da Nação em tempos de Covid-19 que horas a fio de comentadeiros com avença no prime time generalista e em contínuo no cabo.
Já nem digo machista, é preciso ser estúpido para fazer publicidade deste nível depois da participação portuguesa no Europeu de Atletismo. E ficamos só por este Europeu para não encalacrar ainda mais o "criativo", ok?
Já nem digo estúpido, é preciso ser um perfeito imbecil para comprar o produto motivado pela publicidade.
A campanha publicitária mais bem gizada desde os idos do vinil quando as editoras mandavam emissários a comprar singles e LP’s de norte a sul de Portugal nas lojas que forneciam os dados de vendas para o Top que passava depois na televisão única nas tardes de domingo.
Fazer cartoons com o profeta Maomé? Pode. Fazer cartoons com o Papa e Jesus Cristo na cruz, de todas as maneiras e feitios? Pode. Gozar com o guarda-redes do Sporting Clube de Portugal e guarda-redes da Selecção Nacional [como Helder Postiga e Hugo Almeida são os pontas-de-lança, porque é o que temos, temos pena]? Não pode.
Não foi à toa que Marcello caetano foi longamente ovacionado de pé no estádio de Alvalade 15 dias depois do "golpe das Caldas" e um mês antes do 25 de Abril de 1974.
Um castanheiro [?] um carvalho [?] que dá laranjas [?] pêssegos [?], uma família que contra as mais elementares regras de segurança, ensinadas às crianças logo nos primeiros anos de ensino, face a uma colossal tempestade se abriga debaixo de uma árvore. O logro, a mentira, a irresponsabilidade do sistema financeiro que colocou os Estados debaixo da maior crise dos últimos 90 anos e aos cidadãos sacrifícios e privações de que já não havia memória, e que voltará a colocar, porque a árvore, passada a tormenta, torna a dar frutos, tudo explicado em 01:05 minutos num spot publicitário do BPI [Banco Português de Investimento]. Muito obrigado senhor Ulrich pela sessão de esclarecimento.
A menina [Uma nova emigrante fora da zona de conforto? Uma embaixadora da boa imagem de Portugal? Uma embaixatriz casada com um embaixador da boa imagem de Portugal?] está triste nas margens do Sena em Paris…
O iPhone apita. É uma mensagem da Mãe Pátria, Portugal, que é masculino, mas Pai Pátria não fica lá muito bem.
É o José Luís Asnô que, lá do escritório de advogados e da administração dos aeroportos, onde foi colocado por mérito e competência, "acredita que a estabilidade seria melhor presente de Natal que PS e Governo poderiam dar a Portugal", e mais as boas festas da irmã ao som de Pedro Abrunhosa.
A menina fica muito feliz e de coração quente.
WTF, Antena 1??? Novos emigrantes, forçados + José Luís Asnô, instalado do sistema + Pedro Abrunhosa, instalado da música sou-muito-bom-os-novos-que-aguentem-que--me-deu-muito-trabalho-para-chegar-até-aqui, a sério?!
Fosse ainda o maquiavélico Miguel Relvas ministro da Propaganda e podia jurar que a ideia é passar ouvintes para a concorrência privada até acabar de vez com a rádio pública.
Não, não tem a ver com "guerra de civilizações" nem com "guerra ao terrorismo" nem com "terrorismo islâmico" nem com "islamofascismo" nem com a "superioridade moral do Ocidente" nem com "american way of life" nem… ou tem?
Foi preciso esperar 56 anos [a contar da data do início das emissões regulares da RTP - 7 de Março de 1957] para que em Portugal, a primeira e a última potência colonial, o país que "inventou" o mulato, que deu novos mundos ao mundo e essas coisas todas que são bonitas dizer, fosse possível ver na televisão publicidade, dirigida à classe média, com casais multirraciais. Vão ser precisos outros 57 anos para ver publicidade com casais do mesmo sexo?