"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O partido das polícias e da lei e da ordem anda há 24 horas a desmentir e a desacreditar as polícias e a inventar insegurança para criar desordem. São os descartáveis na caminhada até ao poder, por mais hinos nacionais que entoem com a mão direita no coração.
"Se soubesse o que sei hoje tinha ido para a GNR quando saí da tropa. Fulano de tal fez isso e já está reformado com uma boa reforma sem se chatear nada".
"Não arranjas emprego em lado nenhum? Vai pra polícia, pá!".
Não há um único português que não tenha alguma vez na vida ouvido esta formulação, dos pais, de familiares, de amigos. Não há um único. À imagem do que antes acontecia com Direito, para onde ia toda a gente que não tinha média para entrar em mais lado nenhum, só vai para a polícia quem não sabe fazer mais nada. E chegámos aqui. Racismo, xenofobia, homofobia, justicialismo, desrespeito total pelo Estado de Direito, recurso à mentira, violência, condenações atrás de condenações no tribunal europeu. 50 anos do 25 de Abril.
Ah e tal o ministro Carneiro da Administração Interna telefonou para a RTP, e disso deu conhecimento ao povo e aos policias, e é inaceitável num Estado de direito democrático um governante pressionar ou tentar condicionar um órgão de comunicação social, e tal, a propósito de um cartoon que nem era sobre os dele, e tal, os que se viram cartoonados [inventei agora] sem dó nem piedade a puxar o gatilho sem dó nem piedade e vai daí meteram um processo em tribunal, e tal, e ficaram desde logo a saber que podem contar com o ministro Carneiro, e tal, porque isso o próprio se encarregou de badalar mais rápido que a própria sombra, que também envolve disparar, e podem ficar lá muito bem descansados nos grupos do WhatsApp e Telegram e nas páginas do Facebook, e tal, a tecerem loas ao Ventas e ao Chaga e que vão matar os pretos e os ciganos e ainda meter na ordem aqueles filhos da puta monhés que andam para aí a trabalhar em trabalhos de merda, e tal, que isso e os relatórios dos fóruns e organizações internacionais que dão conta de um problema sistémico de racismo, xenofobia, homofobia nas polícias portuguesas, ainda antes do Cabrita ser ministro, para o ministro Carneiro são pinares comparado com um cartoon sobre a polícia franciu, e tal.
O Ventas do Chaga, que nunca ouviu falar dos ataques racistas a um polícia negro, nos comentários a uma publicação no Twitter alusiva ao 40.º Curso de Formação de Oficiais da Polícia, se calhar no princípio de que tudo o que é preto é bandido, quer todos os responsáveis políticos no Parlamento porque é inaceitável o ódio contra os polícias, num cartoon que passou na RTP a propósito do assassinato de um puto em França, que meteu o país a ferro e fogo durante mais de uma semana, e conseguiu a proeza de levar atrás de si a direita da "liberdade de expressão", dos cartoons de Maomé e do #JeSuisCharlie, ambos, o Ventas do Chaga e o homem sem passado, "o meu passado chama-se Passos", o inventor do Ventas, à procura do circo mediático e do barulho que distrai, como muito bem referiu o ministro da Cultura, entregue a deputados que quando saem para o trabalho deixam o cérebro em casa, como se pode verificar pelas prestações dos representantes do Chaga e do PSD na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, e que levou a nulidade intelectual que temporariamente lidera o PSD a apodar Pedro Adão e Silva de pedante intelectual. Isto nem inventado. Agora imaginem esta dupla chegar um dia ao governo da nação, ataque à polícia é quando o Ventas do Chaga quiser, que o PSD vai atrás, liberdade de expressão é quando o Ventas do Chaga quiser, que o PSD vai atrás, Estado de direito é quando o Ventas do Chaga quiser, que o PSD vai atrás, polícia tem força de juiz, que é o que o Ventas do Chaga quer e o PSD vai atrás, comissões parlamentares de inquérito são A Quinta das Celebridades ou o Secret Story, que o PSD vai atrás.
Uma publicação no Twitter alusiva ao 40.º Curso de Formação de Oficiais da Polícia ilustrada com a foto de um polícia negro com a descrição “Queres tornar-te Oficial da Polícia? Esta é a oportunidade pela qual esperavas” recebeu comentários como “O que está um preto a fazer na polícia portuguesa?”, “Parece-me que alguém trocou a foto do polícia e do ladrão”, ou “Anúncio da PSP… de Moçambique?”.
Uma publicação da PSP. Da PSP do Movimento Zero, o do discurso de ódio racista, xenófobo e homofóbico no Facebook, a PSP dos polícias que receberam em braços o Ventas do Chaga na escadaria do Parlamento; o Ventas do Chaga calado e mudo no Twitter, e já não vai tanto tempo quanto isso, por contraste com a verborreia acéfala de cada vez que um polícia é agredido em serviço. Há polícias e há polícias, e há os pretos, os ladrões, os polícias de Moçambique, e as televisões que só vão ao Ventas do Chaga quando o Ventas do Chaga lhes dá sinal de que vai vomitar algo.
Houve um tempo em que o juiz estava do lado do polícia-agressor-polícia, mesmo com as marcas da agressão-tortura na pele do reú, debaixo dos seus olhos na barra do tribunal. No tempo em que as reuniões políticas eram interrompidas com a entrada da polícia no recinto para identificar e deter quem ousava criticar o regime e pensar de maneira diferente.
[Na imagem, de autor desconhecido, Eduardo Cabrita, que conseguiu estar seis anos no Governo, 4 - quatro - 4 dos quais com a tutela, e não dar por nada]
"Ó senhor agente, não me bata nas costas, bata-me nas nádegas, se faz favor". "Ó senhor agente, já me bateu muito nesta face, eu dou a outra. Obrigado". "Ó senhor agente, tenha calma que eu ponho-me a jeito, não suje a farda".
Marcelo Rebelo de Sousa, leal como um Pit bull, convoca o director-geral da polícia para discutir a reestruturação/ fusão do SEF com a PSP nas costas do primeiro-ministro e do ministro da tutela, em mais uma descarada exacerbação de funções e competências com que tem pautado o seu mandato desde o primeiro dia em que foi eleito, e com vista a condicionar a acção do Governo, ao mesmo tempo que, por interpostas pessoas, Magina da Silva e o moço de recados da Presidência, despede o alegado ministro da Administração Interna duas vezes no mesmo dia com intervalo de poucas horas. O mesmo Marcelo em que António Costa vai votar para um segundo mandato em Belém, a iniciar quando andar entretido com a presidência portuguesa da União Europeia e o Governo em Lisboa em roda livre.