"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Tanta gente nas ruas de Tbilisi, ontem, de bandeira da União Europeia na mão. Coisa quase de exército medieval, o estandarte não podia cair no chão, de maneira nenhuma, era símbolo, abrigo e bóia de salvação. E, quando por momentos parecia que ia ser derrubado, logo uma multidão se juntava para amparar o porta-estandarte. No país de Estaline as pessoas não saíram à rua com a bandeira da União Soviética erguida a pedir o regresso do capitalismo de Estado, saíram com a da União Europeia e pedem integração, livre circulação e liberdade. Dá que pensar.... Não, não dá, segundo o partido pan-eslavista português isso acontece porque os protestos são artificiais, instigados e financiados pela... União Europeia. Ainda não perceberam, ou ainda não acreditam, que o muro de Berlim caiu para o lado de cá, não caiu para o lado de lá. Torce-se a realidade para se encaixar na ideologia e tudo se explica com um "por causa da intensificação da escalada belicista dos Estados Unidos, da NATO e da União Europeia".
Security forces operate during an anti-government demostration following the ouster of Peru's former President Pedro Castillo, in Lima, Peru January 24, 2023. Reuters/ Pilar Olivares
A woman waves a Peruvian flag in front of riot police during the 'Take over Lima' march to demonstrate against Peru's President Dina Boluarte, following the ousting and arrest of former President Pedro Castillo, in Lima, Peru. Reuters/ Sebastian Castaneda
Demonstrators embrace during a protest against Chile's government on the second anniversary of the protests and riots that rocked the capital in 2019, in Santiago, Chile. Reuters/ Ivan Alvarado
"Avó, o que quer dizer CCCP?". "Conspiração Comunista Contra Portugal". Lembrei-me disto ao ver Miguel Mario Díaz-Canel Bermúdez, presidente de Cuba, na televisão a acusar os Estados Unidos de estarem por detrás dos protestos de rua na ilha.
Têm a noção de que ao acusarem os manifestantes cubanos de serem marionetas dos Estados Unidos estão a usar exactamente o mesmo argumento que Salazar usava em Portugal com a União Soviética?