"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Pedro Passos Coelho, o pantomineiro do pin, vai até à zona dos incêndios em missão "OMO lava mais branco" chamar aos outros antes que os outros lhe chamem a ele e, nos pinos e flic-flac que faz à frente dos microfones e das câmaras de televisão, deixa cair aquilo que seria um furo jornalístico, de primeira página e abertura de telejornal, em todo o lado sem comunicação social capturada pela direita radical e com jornalistas dignos da carteira e com brio profissional. O liberal de pacotilha, do Estado mínimo, do "aliviar o peso do Estado", da auto-regulação do mercado em benefício do consumidor, quer que o Estado intervenha no mercado da madeira queimada por forma a regular os preços, "social-democracia sempre!", sem que nenhum "jornalista" destacado para o local como câmara de eco lhe pergunte como concilia a contradição ideológica ou como justifica tamanha arte de contorcionismo, antes destacando que o "PSD quer dirigentes da Protecção Civil recrutados por concurso" e que "Passos Coelho aponta caminhos para a reestruturação da Protecção Civil", só faltando acrescentar o chavão "reforma estrutural". É o que há.
Nas democracias os cidadãos deviam ter o direito de saber qual/ quais os critérios subjacentes à a atribuição do cargo de ministro, e respectivo ministério, a determinada pessoa.
Gastamos 500 milhões de euros, do dinheiro que não há para nada, numa rede de emergência e segurança em parceria público-privada com um bando de gangsters - SLN/ BPN, PT, BES, e que mesmo antes de falhar já não merecia a confiança da Polícia Judiciária, e que depois de falhar em toda a linha, na maior tragédia de que há memória na história recente do país, se audita a si própria com nota máxima e resultados de "Excelente", recebe duas antenas novas, como consignado nos contratos de todas as PPP onde o Estado arca com o prejuízo e o privado com o lucro, aponta o dedo ao marido da culpa nesta história - a Protecção Civil, que desconfia, como todos os portugueses sem ligação ao bando de gangsters que ficou com o dinheiro dos nossos impostos que não há para nada, de que em situações mais complexas o sistema torne a falhar com resultados ainda mais catastróficos Andam a gozar com o pagode?
"Lamento que não tenha sido possível da parte do senhor ministro da Administração Interna uma declaração mais esclarecedora quanto à intervenção do Governo", disse.
"Assumo todas as responsabilidades - as nossas - como é meu dever, certo que todos saberão também assumir as suas, retirando lições de modo a que, no futuro, possamos ser ainda mais capazes"
Almirante Melo Gomes, Chefe do Estado-Maior da Armada, a propósito do naufrágio da embarcação Luz do Sameiro e consequente morte dos tripulantes a 50 metros da praia.
"Os meios de socorro do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) "não podem actuar em missões de busca e salvamento no mar sem autorização prévia da Marinha"
Diário de Noticias de hoje, citando fonte daquele organismo tutelado pelo Ministério da Administração Interna.
Ainda no DN, a mesma fonte:
"Quase nunca dá essa autorização (a Marinha) e, quando é necessária a intervenção de um helicóptero, recorre à Força Aérea, mesmo que os seus meios estejam estacionados mais longe". "Depois só vamos resgatar corpos no mar, porque não nos deixam tentar alvar as pessoas ainda com vida".
Mais à frente a mesma fonte conta que em 28 de Dezembro de 2000, foi detectado por um helicóptero do SNBPC um naufrágio ao largo de Viana do Castelo, foi pedida autorização à Marinha para efectuar o salvamento que foi recusada.
"Mesmo assim o helicóptero resgatou 4 tripulantes e depois o barco afundou-se. No dia seguinte , o Instituto Nacional de Aviação Civil contactou o SNBPC exigindo a identificação dos tripulantes do helicóptero que cumpriu uma missão de salvamento sem autorização da Marinha"
Após a tragédia que foi a queda da ponte de Entre-os-Rios e, ainda o autocarro não tinha sido completamente engolido pelas aguas, já Jorge Coelho, à altura Ministro da Administração Interna, assumia responsabilidades (que não eram suas, sublinhe-se) e pedia a demissão.
Mas o actual Ministro da tutela não se chama Jorge Coelho.
O único a assumir responsabilidades e, possivelmente as terá, não é Ministro, também não se chama Jorge Coelho, e tutela uma instituição em que, as assumpções de responsabilidade costumam funcionar em cadeia hierárquica. Em escadinha. De cima para baixo.
Provérbio do dia: "Quando o mar bate nas rochas, quem se lixa é o mexilhão".
"A ver vamos, dizia o cego" - outro provérbio, para finalizar.