O mundo ao contrário
[Imagem]
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
[Imagem]
Ouvir o CDS Nuno Magalhães invocar "o coração da propriedade privada" – as heranças e as doações, no debate quinzenal no Parlamento, para questionar António Costa a propósito de uma alegada reposição do imposto sucessório, faz-me lembrar a história de Afonso VI de Leão e Castela – O Bravo, que herdou do pai, Fernando I – O Magno, o Reino de Leão, que era tudo propriedade privada, por direito e investidura divina com a bênção papal e que já vinha desde tempos remotos, até ao dia em que um tal Henrique de Borgonha, como recompensa por ter ajudado Afonso a tirar a propriedade privada a outros privados, ter levado a filha Teresa e mais um bocado de propriedade privada como recompensa – o Condado Portucalense. A partir daí é mais História, com o neto de Afonso a bater na mãe e a bater em tudo o que mexia e respirava a sul de Guimarães, a tirar propriedade privada a outros privados e a distribuir propriedade privada por privados amigos, hábito que a sua descendência nunca havia de perder até chegar ao ponto em que a propriedade privada, por razões geográficas e políticas, deixou de poder ser tirada a outros privados e começou a ser transmitida por herança, doação ou cruzamentos sanguíneos, até aos dias de hoje, dias em que "o coração da propriedade privada" vai a debate parlamentar pela mão do partido do coração da propriedade privada, ex partido do ex-combatente, da lavoura, do contribuinte, do idoso do reformado e que me desculpem os que ficaram esquecidos.
[Imagem]
A direita, na sua relação com a propriedade privada, no insaciável apetite pela posse da terra, inverte o principio da expropriação da propriedade privada pelo poder politico para uso e beneficio comum, expropriando a propriedade publica para uso e beneficio de alguns, com o argumento da exploração rentável e da criação de riqueza.
Curioso, ou nem por isso, que o "futuro sustentável da Nação" e "a herança que vamos deixar às gerações vindouras" desapareça do discurso do PSD e do CDS quando toca ao ambiente e à propriedade da terra. Se calhar é por a geração partidária presente lucrar com o negócio e ainda deixar uma boa herança à descendência…
Capitalismo 2.0, em modo "Assembleia dos Compartes", a esbulhar o património comum:
«Assunção Cristas, ministra da Agricultura, revela […] que o regime da Reserva Ecológica Nacional vai desaparecer […]»
[Imagem]
Naquele "programa" das noites de segunda-feira na RTP 1, que serve para o cidadão comum «aferir semanalmente o seu índice de normalidade», e esta semana intitulado "Vozes Independentes", a páginas tantas Fátima Campos Ferreira interrompe um paineleiro convidado para lhe perguntar se o grupo a que pertence não é daqueles que «põem em causa a propriedade privada». Pois. Andamos nisto, vai para 40 anos, preocupados com os grupos que podem por em causa a propriedade privada, quando há mais de 100 anos uma minoiria, estruturada num emaranhado de laços sanguíneos, se abotoa com o património comum de séculos de história, e esbulha a propriedade colectiva.
[Imagem]
«Cubanos já podem comprar e vender automóveis»
[Imagem Nikita Khrushchev's shoe-banging incident, 902nd Plenary Meeting of the UN General Assembly held in New York on12 October 1960]