"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
E ficam desde já os candidatos a um curso superior, que não vão tirar por não poderem pagar as propinas, o orçamernto não chegar para os manuais e sebentas, nem tampouco para pagar um quarto e alimentação a kms de casa, que tirado o canudo as propinas vão ser devolvidas por cada ano de trabalho a mil e poucos euros de salário mensal, nem que seja num call center um num hipermercado.
Rui Rio, que é contra o fim das propinas no ensino superior porque assim são todos a pagar o benefício de alguns, é a favor de que o Estado incentive a iniciativa privada na constituição de faculdades de medicina, não havendo aqui o todos a pagar o benefício de alguns, que ainda por cima vai ser pago por alguns, por via do numerus clausus da propina a pagar para ter curso privado de medicina, muito in. Adiante. Andamos [andam] aqui todos a batalhar há bués [já vem no dicionário] com a baixa natalidade que, mais cedo do que tarde, vai inverter a pirâmide etária e pôr em causa o Estado social, e ainda ninguém se lembrou de acabar com a propina nos infantários e creches. É que por este andar, e numa vintena de anos, por falta de candidatos, o problema do acesso ao ensino superior deixa de se colocar. Se calhar na altura inventam uma propina para as universidades sénior, que é o que vai restar.
Qualquer cidadão com filhos paga propinas desde os primeiros dias de infantário até ao último dia de mestrado, sendo que as da faculdade são as mais baratas de todas. E se fossem gozar com quem vos talhou as orelhas?!
Filho de pobre ou remediado é para trabalhar – e barato porque temos de competir com a China, ou para fazer estatística no banco de desempregados que é para os que estão a trabalhar não se esquecerem de que têm o lugar por "caridade cristã". Ide para o dual, aprender a ser um homenzinho ou uma mulherzinha, que é bem bom. E além disso vem aí a reindustrialização do ministro da Economia que não gosta de ovos estrelados e todos os braços são poucos.
Mas depois a gente vai ler a pergunta colocada e vê uma manipulação grotesca das conclusões para compor o título da propaganda governamental "notícia". Não vai ser preciso muito engenho à Pitagórica para concluir que 50 e tal por cento dos funcionários públicos concordam com os cortes propostos pelo FMI para a Função Pública ou que mais de 50% dos utentes dos hospitais apoiam um aumento substancial das taxas moderadoras.
Se a ideia era limpar a imagem de Nuno Crato e ressuscita-lo como um defensor da escola pública, parabéns à central de informação do Governo, mas como este Governo não tem ideia nenhuma para nada que não seja a ideia de destruir tudo para construir de novo à medida da religião ideologia que professa, Pedro Passos Coelho faz figura de mentiroso e vem dizer que não disse aquilo que na realidade disse, e faz figura de ignorante e impreparado ao dizer que o ensino secundário é financiado directamente pelos utilizadores, ao mesmo tempo que declara o desaparecimento do ensino secundário pela sua obrigatoriedade até ao 12.º ano de escolaridade.
Apesar de (ainda) não ter filhos na Universidade durante 12 – doze – 12 anos paguei propinas: entre berçários e infantários, 6 anos pela rapariga e 6 anos pelo rapaz. E “propinas” é favor porque não há ninguém neste país a pagar uma média de 200 euros mensais numa universidade do Estado. Mas como não tem impacto mediático, nem é passível de criar circo e espalhafato com os meninos na rua em manifestação, nos intervalos das Praxes e das Queima das Fitas patrocinadas pelas cervejeiras e pela mesada do papá, não são «injustas socialmente” [nem] constituindo “uma taxa sobre as famílias».
(Na imagem Winnetka, Illinois, June 1950, Student Rue at New Trier High School by Alfred Eisenstaedt, Life magazine photo archive)
Uma lista candidata à Direcção da Associação de Estudantes da Universidade de Coimbra resolveu grafitar as Escadas Monumentais com palavras de ordem contra as propinas. E teve logo direito a tempo de antena. E dizia o cabeça da lista numa televisão que pagam 720 – setecentos e vinte – 720 euros por ano. Obviamente, do ponto de vista do n.º 1 da lista, uma enormidade. Eu diria mais: um atentado; um roubo; sei lá… um ataque à democracia!
Vou tentar ver a coisa de um ponto de vista simples. Alguns dirão simplista. Tanto se me dá; sou uma pessoa simples que faz uma análise simples das coisas. Tive um filho 5 anos num infantário, nada do topo ou de elite: uma IPSS. Porque, infantário público, ao contrário das universidades, é mentira. Pagava por mês 120 euros, com excepção do mês de Agosto que é mês de férias – o mundo para em Agosto, pelo menos em Portugal. Apesar de eu ter tido férias em Julho. E o puto não ter posto os pés no infantário; apesar de pago. E em Agosto tive de ir chatear os avós porque o infantário estava fechado, e é para isso que os avós servem, dizem-me alguns.
Cento e vinte euros por mês, vezes 11 meses (que na realidade são só 10), dá, se as contas não me falham, 1 320 euros por ano. Mais 600 euros que as ditas propinas universitárias e o puto ainda nem sequer sabe ler ou escrever. Vezes 5 anos que é o tempo normal para se andar na Universidade até terminar o curso… E ainda têm a lata de vir falar nas propinas!
Pelo menos o puto na IPSS não tem praxe ao caloiro, não falta às aulas – a menos que esteja engripado – e não apanha pielas na Queima das Fitas ao som do Quim Barreiros. Nem chumba o ano.
Não me fodam com a estória das propinas que, bem vista as coisas, no fim do curso ainda ficam a dever dinheiro ao contribuinte. Já me basta pagar pelo meu filho, quanto mais ter de pagar pelos filhos dos outros!