"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O sismo teve epicentro na Fonte da Telha, uma frente de mar/ praia partilhada entre os municípios de Almada e Sesimbra, mas quem apareceu nas televisões foi Carlos Moedas, de Lisboa, equipado de fluorescente para um cataclismo de proporções bíblicas, chateado com o Partido Socialista que lhe perguntou pela app, anunciada numa acção manhosa de propaganda num arremedo de terramoto em 2022, e que ninguém encontra, nem na Play Store nem em lado nenhum. Uma "politização da notícia" diz o homem que aproveita qualquer rodapé de notícia para vestir o colete da Protecção Civil sem qualquer contraditório ou espírito crítico. Telefona e lá estão as televisões de microfone estendido, as mesmas que andaram meses a fio com o taberneiro ao colo, curiosamente do mesmo partido do inefável Moedas. Como diria o fala-barato que tem cadeira em Belém, há aqui uma entorse informativa.
Todos os dias aparece um ministro ou um secretário de Estado numa televisão a anunciar alguma medida que vai resolver um problema qualquer na vida do cidadão, uma negociação concluída para entrar em vigor, a prestações, ao logo dos próximos anos, um projecto aprovado que vai estar concluído daqui por uma década, um processo de intenções apresentado como um dado adquirido. No tempo do governo anterior isto era propaganda socialista, e nem sequer tinha esta dimensão, nem de longe nem de perto, agora é "o Governo em movimento".
Na outra guerra, a do impacto das imagens na opinião pública ocidental, de lágrima no canto do olho no sofá frente à televisão, e que cresceu com brinquedos inócuos, nada de "children´s toys", o Hamas continua na frente e a marcar pontos. A campanha "The Jacket" da Zara, concebida em Julho, fotografada em Setembro, por pressão da opinião pública é retirada em Dezembro, apesar de não ter nada a ver com nada. Não adianta, é o que temos.
[Ainda é possível encontrar imagens disponíveis online apesar de alguma imprensa da especialidade já as ter retirado. No The Daily Front Row só mesmo através da cache, por enquanto]
Depois dos mísseis hipersónicos russos, que nunca ninguém viu e nem sequer conseguem ganhar guerras, as bombas israelitas com capacidade para pulverizar 500 cadáveres da face da terra. Quinhentos - 500 - quinhentos mortos, número avançado pelo Hamas ainda a coisa ia com 5 minutos de ter acontecido, trezentos - 300 - trezentos mortos, uma meia hora depois, anunciado por uma organização com "saúde", num nome à ocidental para credibilizar a pantomina, e que também é pertença do Hamas. E as imagens são 20, quanto muito 30 sacos de cadáveres, já lá iam quase 24 horas passadas.
Como é que o Hamas, perito em propaganda, prontamente replicada pelos idiotas úteis a ocidente, perdeu esta oportunidade de chocar a opinião pública ocidental, sempre de lágrima no canto do olho por ataques onde as imagens são sempre crianças, muitas crianças, sofrimento de crianças, com uma montanha de cadáveres ali à mão de semear e só mostrar 30 sacos?
"És um aldrabão e apoiante de genocídio do povo Palestiniano", ou o dia em que me acusaram de ser apoiante do Hamas no Twitter.
[Link na imagem "A wounded donkey sits near houses and buildings destroyed in Israeli strikes, in Jabalia in the northern Gaza Strip, October 11". Reuters/ Anas al-Shareef]
O pormenor está nos corpos das crianças israelitas nunca aparecerem expostos como os das crianças palestinas, como nesta foto de Hatem Ali para a AFP Photo, numa despedida com familiares e amigos só do sexo masculino. Noutras fotos, e imagens nas televisões, as mulheres aparecem na frente, em acções de protesto ou em manifestações de sofrimento, onde até parece que têm vontade própria e são seres humanos, não fora o serem só elas, como nas escolas nos idos do fascismo em Portugal, homens de um lado, fêmeas do outro.
[Na imagem "Relatives pray by the body of Amir Ganan, who was killed in an Israeli airstrike, during his funeral in Khan Younis, Gaza Strip, Tuesday, Oct. 10, 2023". AP Photo/ Hatem Ali]
É necessário reprimir severamente as ações dos serviços secretos estrangeiros e identificar efetivamente traidores, espiões e sabotadores, alertou Vladimitr Putin
Newly placed Ukrainian billboard in Kherson, southern Ukraine, Nov. 27, 2022. From left, the billboard reads in Ukrainian: "Dear, you are Free" and "Kherson, Hero City". AP Photo/ Bernat Armangue
A quantidade de jornalistas e analistas e comentadeiros e paineleiros em todas as rádios e televisões que no minuto seguinte ao bombardeamento cobarde e criminoso de um centro comercial se apressaram a desculpar e a arranjar justificação para o terrorismo programado de Putin, "foi um erro", "foi uma falha de cálculo", "alguma coisa deve ter acontecido", "as coordenadas do verdadeiro alvo estavam erradas", "ali a poucos metros há não sei o quê", "a fábrica ao lado trabalha para o exército", "rebeubeu, pardais ao ninho", seguido da mesma lengalenga na imprensa escrita um dia depois, depois de quatro meses a ver barbaridades a cores e em directo que só conhecíamos a preto-e-branco e em diferido dos documentários da II Guerra Mundial e a ver um boneco vestido de verde com uma ecrã atrás a debitar propaganda e a "alta precisão" dos mísseis russos. A papagaios deste calibre o Vladimir Vladimirovitch agradece.
Em cima o print screen da conta da superstar trauliteira do PCP no Twitter no elogio ao propagandista luso às ordens de Putin com a capa de "jornalista", aquele que acha, diz e escreve, que o 25 de Abril tem dono e que o PS é inimigo da revolução, seguido da notícia da execução a sangue-frio pelas tropas russas do fotojornalista Marks Levin. "a cobrir uma zona de guerra. Mas mesmo na zona de guerra". O PCP que diz não apoiar e invasão russa da Ucrânia, até porque não há invasão coisíssima nenhuma, é uma "operação", magister dixit pela boca de Jerónimo de Sousa, o PCP indignado com o ataque à liberdade de expressão e de imprensa que foi a proibição em espaço da União Europeia das agências de propaganda russas Sputnik e Russia Today, o PCP de onde não sai um pio sobre a proibição da Novaya Gazeta pelo regime de Putin nem sobre os jornalistas que caem como pardais a mando do Kremlin. É a diferença entre jornalismo e propaganda e propaganda e jornalismo numa zona de guerra. Mas mesmo na zona de guerra,
Aqueles que há uns tempos protestaram, e bem, pelas notícias "com agenda" por jornalista da Agência Lusa com ligação ao Chega, são os que agora defendem que o "jornalista Z" está a fazer um óptimo trabalho independente na frente russa ao serviço da CNN Portugal.
Mupis e outdoors de Moscovo começam a ser preenchidos com posters a identificar a Suécia como um país de nazis. "Desnazificar" a Suécia é a próxima "operação militar especial"?