"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Pandora tinha uma Caixa que depois de aberta deixou escapar todos os males do mundo excepto um, a esperança. A esperança de que, como o que foi aprovado não aumenta num cêntimo que seja o encargo para o Orçamento do Estado, ler o dinheiro dos contribuintes, toda esta gente do funcionalismo público e da administração do Estado, que vive numa realidade paralela à dos seus co-cidadãos, venha a ser paga em notas de Monopólio.
"Progressões na carreira congeladas". É-se promovido não por mérito, não por uma avaliação de desempenho, é-se promovido porque sim, porque se está há xis tempo naquele posto e há que passar ao superior, já é tempo de ganhar mais ordenado, seja o melhor do mundo ou o maior calaceiro da repartição, câmara, ministério, junta de freguesia ou hospital.
Não é por nada mas, em caso de necessidade, gostava um dia de ter direito a uma baixa médica ou a uma “assistência à família”, para o caso de não terem sido definitivamente irradiadas do código do trabalho pela aliança chico-esperta entre dirigentes sindicais de meia-tigela e dôtores da mula-ruça.
(Imagem “Dancing Around Whiskey Bottle”, Harold Gauer)
Sinceramente que já cá vai faltando a paciência para o Mário Nogueira porta-voz da casta superior da sociedade portuguesa que não é passível de ser avaliada. E para os jornalistas amorfos, sempre diligentes de microfone permanentemente disponível, a paciência também já vai sendo pouca.
E não é só a mim que vai faltando a paciência, como se pode comprovar na sondagem que o Expresso hoje publica.
«Incapazes de deter Sócrates por outros meios não se coíbem de minar a autoridade do Estado Democrático pactuando com a desobediência às leis da República num caso que em nada o justifica.
Pois aqui fica uma promessa: se Sócrates tiver a coragem de enfrentar estas pressões, mantiver Maria de Lurdes Rodrigues e fizer cumprir a lei sem a desvirtuar eu votarei no PS em 2009 pela primeira vez na minha vida.»
Na “minha” empresa há, entre outros, o cargo de Director Administrativo, o cargo de Director Financeiro, e os respectivos chefes de sector, para só referir aqueles que me dizem directamente respeito.
Cada cargo é ocupado por uma, e só uma pessoa, independentemente de existirem nos quadros da empresa outros trabalhadores (detesto o termo “colaboradores”; soa a descartável) aptos, técnica e profissionalmente para os desempenharem.
Isto dá azo a que, num mesmo departamento, existam vários empregados nas condições exigidas pela administração para poderem ocupar o lugar de director de departamento.
Obviamente que o salário destes é inferior ao de director de departamento ou ao de chefe de sector. Isto é bom ao nível da produtividade e por consequência bom para a empresa. Obriga o que ocupa o lugar de director a não dormir em serviço porque há uma legião em stand by à espreita, e obriga os que estão em stand by a não dispersarem, sempre na mira de ocuparem o lugar imediatamente acima no escalão. E são/ somos todos avaliados, todos os dias, a todos os minutos, até ao mais pequeno gesto e/ ou atitude. E é legítimo que assim seja. E a isto costuma chamar-se competição.
Quando a empresa era uma empresa nacionalizada, os cargos de director e/ ou de chefe de departamento eram ocupados por amiguismo e compadrio. Político; que é o pior de todos. Com a privatização passaram a ser por habilitação académica e competência. E venha quem vier, leia-se partido político, isso não é tido nem achado porque no topo da escala de valores está a empresa.
Há meses que Mário Nogueira anda a dizer que é impensável e inaceitável vários professores terem a mesma classificação e só um poder vir a ocupar o cargo de professor titular.
O que é que ficou registado no Livro de Ponto dos sôtores que dispensaram as Claudias e as Sofias deste país para integrarem a comissão de boa vindas na recepção à ministra e aos secretários de Estado? Esses sôtores vão ser chamados à responsabilidade? As faltas são consideradas justificadas; se sim qual a justificação? Vais ser tido em conta na avaliação com vista à progressão na carreira?
Já agora veja-se a posição que as escolas, fornecedores de recepcionistas à ministra e aos secretários de Estado, ocupam no ranking.
Se eu no meu emprego, na minha empresa, no meu serviço, como lhe queiram chamar, discordar de um determinado trabalho ou serviço, ou até de uma norma, posso – porque tenho autonomia para isso – complicar, burocratizar, encalacrar, de tal forma os procedimentos que a coisa, já não digo não anda nem desanda: anda para trás.
Só que eu não trabalho para o Estado, nem numa Empresa Pública, nem sequer numa empresa nacionalizada, e, no dia seguinte estou no famoso “olho da rua”. Por sabotagem – com ou sem comas – aos objectivos da empresa.