"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Miguel Relvas [+ Pedro Passos Coelho + Tecnoforma + fundos comunitários = Ministério Público] + programa Foral + concurso feito por medida + Agostinho Branquinho [+ José Pedro Aguiar-Branco + escritório de advogados + cheiro a esturro] = Governo de Portugal.
Quase que chega ser excitante ver como Dupont et Dupond usaram um programa, de seu nome Foral – de tornar um concelho livre do senhor feudal, garantindo o usufruto das terras públicas pela comunidade, regulando impostos e estabelecendo direitos de protecção pelo poder central – para atingir o Aforamento – da obtenção da concessão de privilégios da parte do poder central sobre uma propriedade para usufruto e exploração pelo ocupante – e, aqui é que está a arte, recebendo uma renda em troca da exploração [!], o famoso guarda-chuva do Estado onde as empresas se abrigam e que tanta pele de galinha causava a Dupont et Dupond, manifestada nas missas cantadas ao eleitorado, na caminhada para o assalto ao Estado para a restauração do Feudo e reintrodução da Capitação, da Corveia, da Taxa da Justiça, da Banalidade, da Capitação, e do Censo.
Quando nos dizem que andámos muitos anos a viver acima das nossas possibilidades, não é por termos andado muitos anos a trabalhar 8 e mais horas por dia, a ganhar o salário médio ou o ordenado mínimo nacional para pagar as contas no final do mês, pôr comida na mesa, mandar os filhos à escola, e passar duas semanas de férias em Agosto no Algarve. Não.
Quem nos diz que andamos muitos anos a viver acima das nossas possibilidades, é quem governou a vidinha à sombra do guarda-chuva do Estado e do dinheiro do contribuinte, e que chegou depois ao Governo com os votos daqueles às custas de quem sempre viveu, e com o parlapier de que tinham vivido acima das suas possibilidades, e que, agora no Governo, tratam de baixar as nossas possibilidades para continuar a manter o nível de vida a que se habituaram, acima das suas e das nossas possibilidades, e a desmantelar e repartir pelos amigos o pouco que já resta daquilo a que se convencionou chamar Estado social português. É só um upgrade. Acima das possibilidades dos suspeitos do costume.
É esta gentinha, que se esquece do que fez e de como governou a vidinha, que vêm dizer, a quem toda a vida trabalhou para educar os filhos, pagar as contas, e tirar duas semanas de férias em Agosto, que vive acima das suas possibilidades e que é necessária uma cura de empobrecimento, sofrer nesta vida terrena portuguesa, para ganhar o céu dos mercados. Como nos filmes da Chicago a preto-e-branco, "um absurdo".