"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Há muito, muito tempo, mais precisamente em 2023, Frederico Pinheiro, exonerado do cargo de adjunto do ministro das Infra-estruturas, agrediu duas mulheres no ministério, atirou a bicicleta contra o vidro da fachada do ministério, abriu bué telejornais, não menos primeiras páginas de jornais, motivou uma comissão par[a]lamentar de inquérito, uma rebaldaria sem rei nem roque do Governo socialista.
Há bocado, João Soalheiro, director do Património Cultural, atirou cadeiras pelo ar, exerceu bullying sobre os trabalhadores colaboradores, e os telejornais foram em directo para Marienfeld saber do estado de espírito do Ró náldo, as primeiras páginas foram sobre as lágrimas do CR7, o sofrimento da sua excelentíssima mãe e o sofrimento das não menos excelentíssimas irmãs.
Do Governo "propaganda em movimento" temos Luís Montenegro a chegar à Figueira da Foz, recebido por um Santana Lopes, marreco e com cara de defunto, a propósito do naufrágio de um barco de pesca, mimetizando Marcelo, mais rápido que o INEM, a chegar à queda de um bimotor no telhado de um hipermercado em Tires. Todos os votos contam nas eleições daqui a 6 meses.
Os baptizados "inimigos do povo", pelo líder do partido da taberna, continuam alegremente a representar o papel de "inimigos do povo".
Diz que está em causa a isenção e imparcialidade do governador do Banco de Portugal por ousar admitir regressar como primeiro-ministro a um Governo do Partido Socialista de onde tinha saído como ministro das Finanças para o banco que agora governa, digamos assim. É isso e os heterónimos do Pessoa, ou as personagens do Bowie.
Estiveram os dois, Costa de gravata cinzenta, Marcelo de gravata preta, na inauguração do memorial aos mortos de Pedrogão. Nas televisões com cara de caso e com conversa de ir ao cu. As imagens do eucaliptal cerrado, qual floresta da Guiné ou do Vietname onde nem a tropa especial consegue entrar, pior que antes do famigerado incêndio, nem vê-las. A seguir passa a reportagem de Costa em Mação, antes de chegar a Pedrogão, "já que estão aqui [as televisões] permitam-me que mostre" e aponta para um pinhal novinho em folha, sem réstia de mato, enfileiradinho qual batalhão de bombeiros na formatura à espera da revista. O desordenamento do território, a inexistência de um ministério da floresta ou coisa que o valha, o interior do país subordinado á agenda das celuloses, o lucro fácil do deixar crescer, o abamdono da agricultura e silvicultura tradicional, a desertificação, o falhanço do Estado, tudo continua em su sitio à espera da próxima ignição. Da última vez um tanque da aldeia da roupa branca dos idos do Estado Novo, baratinho, salvou 12 pessoas do churrasco, agora temos o matacão milionário do Souto Moura, deve dar pelos menos para salvar aldeia e meia.
Costa foi à bola a expensas do contribuinte. Com a cumplicidade de Marcelo, que inventou logo na hora uma desculpa e uma justificação. E isto é uma talhada na teoria da cumplicidade que já não há entre palácios e dos tempos que já não são os mesmos. Noutros tempos uma catrefa de deputados baldou-se à função para a qual foram eleitos, falsificaram o ponto e foram ver um jogo qualquer do Foculporto no estrangeiro. Mas já ninguém se lembra disso. Nem os que à época vieram para a linha da frente apontar o dedo à rebaldaria que dava mau-nome à democracia. Rebaldarias maus-nomes e democracias à parte, os mesmos que agora arranjaram uma justificação que não lembrava nem ao Professor Tournesol, que tudo isto faz parte da teia que Costa está a tecer na caminhada para a Europa. Podiam, o Dupont e o Dupont e as pitonísas e os polítologos, explicar ao anónimo Oliveira da Figueira que raio de merda é esta de um alegado socialista tecer teias com o líder da extrema-direita na Europa, uma toupeira de Putin na União Europeia, para chegar onde quer que seja.
António Costa, que tinha o Presidente da República no bolso por via da maioria absoluta, conquistada de mão beijada, numas eleições convocadas por Marcelo com a esdrúxula explicação do chumbo do Orçamento do Estado, de modo a facilitarem o calendário eleitoral na corrida à liderança do PSD, está refém do Presidente Marcelo, por um misto de trapalhadas, amiguismos resultantes em incompetências, checks and balances dentro do PS, sobranceria e arrogância de quem vive desligado do dia-a-dia do comum dos portugueses. Como cantava o Johnny Thunders em 1977, "Baby I'm born too loose, Oh baby I'm born too loose". Cavaco, no sarcófago da Coelha, deve estar morto [outra vez] de riso.
António Costa, artista da rádio e da televisão, a enaltecer os méritos e a virtude de trabalhar de borla... err... do voluntariado e a dar como exemplo o ministro da educação na Expo 98 e os milhões que gera para os bolsos do Cosgrave, do Covões, do Montez, e da Medina filha, as outras Expos privadas desta vida. Muito bom. Trabalhar de borla. Um gajo de esquerda. Que se diz de esquerda. Não lhe ocorreu dar a Festa do Avante! como exemplo. Fica para a próxima. E os estagiários, uns porque estão habituados ao "voluntariado", outros porque estão habituados a deixar o cérebro em casa, caladinhos de microfone esticado e sorriso imbecil na cara. Ser de esquerda dá trabalho.
Aqui há uns tempos, já na vigência da troika e na implementação do programa de desmantelamento do Estado social e extermínio dos funcionários públicos, deu grande rebuliço nos media um dos tais a exterminar que gastou não-sei-quantos milhares de euros em chamadas para linhas de valor acrescentado. Um funcionário público, o malandro, o chulo, o Orçamento do Estado, o dinheiro dos contribuintes, se fosse no privado… Aliás, ou há liaz como diz o senhor Coelho, no privado estas coisas nem se colocam, andam ali direitinhos que nem fusos, olá se andam.
Deve ser alguma linha dessas, jogos, concursos, ou chamadas eróticas. Me liga, vai…