"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Acordamos com as primeiras páginas "Costa enfrenta Marcelo", "Costa desafia Marcelo", lá dentro, no Público, "Costa não obedece a Marcelo" [verdade] quando, independentemente da urgência e da justeza dos apoios por que esperam 130 mil desesperados compatriotas nossos com a corda na garganta e um túnel ao fundo da luz, isso será julgado no dia das eleições, a verdade é que "Marcelo enfrentou a Constituição", "Marcelo desafiou a Constituição", "Marcelo não obedece à Constituição" que juro defender e fazer cumprir. Estas seriam as letras gordas, verdadeiras, a ilustrar primeiras páginas.
O presidente vitalício da Fundação Casa de Bragança, reeleito Rei de Todos os Portugueses, de gravata azul vai ao Vaticano prestar vassalagem e ver a sua autoridade reconhecida pelo Papa. Cumprir e fazer cumprir a Constituição da República no Estado laico.
Depois dos comunistas terem tomado todas as cidades, de norte a sul do país, Marcelo, no decreto presidencial que renova o estado de emergência e antecipando a inevitável queda do muro de Berlim e derrocada da RDA, fala na "reunificação das famílias" [a partir do minuto 09:53].
Marcelo Rebelo de Sousa, que auto-confinou por vontade presidencial em Março de 2020, havia meia centena de casos e menos de uma mão de mortos, e que logo no desconfinamento andou de norte a sul do país a ver se a água das praias estava boa de sal, enquanto bebia imperais em alegres cavaqueiras grupais e partilhava bolas de Berlim com putos que lhe apareciam pela frente, depois de ter salvo duas jovens de morrerem afogadas com água pelo joelho; Marcelo Rebelo de Sousa que "não é especialista em regras sanitárias", depois de ter apelado a muitos milhares na Feira do Livro de Lisboa e na Fórmula 1 no Algarve, enquanto perorava sobre a "percepção negativa" que as pessoas têm da Festa do Avante!, Marcelo Rebelo de Sousa que explicou a todos os portugueses como haviam de contornar as restrições do Natal, que tanto se "empenhara" em salvar, para logo a seguir fazer uma visita de campanha eleitoral a um lar de idosos, sem saber o resultado de um dos milhentos testes Covid que já fez desde que a pandemia deu à costa, com as televisões a passarem imagens da urgência do hospital de Setúbal a rebentar pelas costuras, com doentes arrumados pelo chão onde havia espaço, e do hospital de Torres Vedras, com ambulâncias com cinco horas de fila de espera, enquanto aproveitava para passar um ralhete aos portugueses por não levarem o confinamento a sério; Marcelo Rebelo de Sousa, depois de toda a pressão que fez sobre o Governo para um segundo confinamento, com encerramento das escolas, no dia em que toma posse para novo mandato presidencial vai a assapar para o Porto para um passeio pelo bairro do Cerco, perante a estupefacção os portugueses confinados, incrédulos nas janelas e varandas, rodeado por uma multidão de jornalistas e por outros mais afoitos que viram aqui o sinal de partida para o que aí vem. A seguir vamos todos salvar a Páscoa.
A Cristina na imagem é o quadradinho que Marcelo não arranjou no sítio da Presidência para parabenizar o PCP, nem o minuto que não usou para telefonar a Jerónimo de Sousa, e a prova provada de que qualquer cata-vento pode ir à Festa do Avante! desde que compre o bilhete.
Se as pessoas não circularem o vírus não circula, parece ser dado por todos adquirido. Parece. E como é que se consegue que as pessoas não circulem? Fechamos a ilha, como fizeram australianos e neo-zelandeses - para nós não dá; impomos a lei do chicote sem dó nem piedade - como fizeram os chineses, mas suspender a democracia está fora de questão; forçamos um confinamento recorrendo à figura do "estado de emergência", consagrada na Constituição da República do Estado de direito democrático, e vamos gerindo a coisa. Por isso a necessidade de "reabrir a economia" à cultura, ao desporto e às escolas, tudo actividades que movimentam milhares de pessoas a horas certas em locais fechados - o vírus a circular, soa a desculpa para não se dizer que se vota contra só por se ser do contra.
Marcelo estava muito irritado. É testado dia sim dia sim, qualquer coisa como mais de 80 vezes, quando há portugueses na mesma situação que chegam a esperar até 72 horas para fazer um teste, passa os dias feito barata tonta a correr o país de lés a lés e a falar sobre tudo e mais alguma coisa, arranja maneiras de contornar as restrições e não se coíbe de o dizer em público. Mas Marcelo estava irritado por não ter recebido notificação da DGS se podia ou não participar no debate "todos contra todos" para as presidenciais.
O hospital de Setúbal, com doentes arrumados pelo chão, decretou estado de calamidade pela primeira vez na sua história. Mas Marcelo estava muito irritado à porta de casa.
Marcelo, irritado ou bem disposto, não tem respeito pelos portugueses nem pelo Serviço Nacional de Saúde e que os portugueses o levem a sério é um caso sério.
Marcelo esteve em contacto com um assessor a quem posteriormente foi detectada a Covid. Marcelo ficou em confinamento profilático voluntário como, por exemplo, António Costa depois de saber que Macron, com quem se encontrara, tinha acusado positivo? Não. Marcelo como não só fala de tudo como também tem de estar em todo o lado e, se possível, ao mesmo tempo, baseou-se no parecer da DGS, também válido para António Costa, para andar por aí. E, enquanto saltitava por todo o lado, fazia testes, um dia dava negativo, outro dia dava positivo, um dia dava negativo, outro dia... E não só faz testes todos os dias, num momento caótico para o SNS e laboratórios, em que cidadãos anónimos, na mesma situação, chegam a ficar em casa até 72 horas à espera de vez, como se entretém a comunicar o resultado dos testes à comunicação social. Marcelo, qual barata tonta, a continuar o seu trabalhinho de sapa para descredibilizar a política, os políticos, e os testes, não necessariamente por esta ordem.
Tudo tinha sido muito mais simples se Presidente, ministros, governantes, fossem todos vacinados já na primeira leva, que também devia incluir juízes, professores, forças armadas, polícias e bombeiros, mas isso era "alimentar o populismo" e há formas mas simples de o fazer, não é senhor Presidente?
"Depois de ser criticado por pretender fazer várias refeições de Natal com vários grupos de pessoas em plena pandemia, o Chefe de Estado vai limitar-se a um jantar com cinco pessoas esta quarta-feira."
"Tento dar o exemplo de respeitar os confinamentos". "Quero apelar aos portugueses que não estraguem aquilo que se está a fazer" e respeito pelo Serviço Nacional de Saúde.
Marcelo Rebelo de Sousa, que em Março se confinou 14 dias em casa a sete chaves havia meia dúzia de casos Covid-19 no país, vai agora, no pico da segunda vaga, alegremente saltitar de nenúfar em nenúfar a espalhar Covid por onde passa. O exemplo que o Supremo Irresponsável da Nação dá aos indígenas.
Como se alguma coisa dita ou feita nestes trinta e poucos dias que faltam até ao dia das eleições fizesse a diferença, Marcelo Rebelo de Sousa, em campanha eleitoral desde o primeiro dia em que foi eleito para o primeiro mandato, ao mesmo tempo que menoriza a função de Presidente da República em favor da figura "candidato presidencial" passa um atestado de estupidez aos portugueses, sejam ou não seus eleitores.
Marcelo Rebelo de Sousa, leal como um Pit bull, convoca o director-geral da polícia para discutir a reestruturação/ fusão do SEF com a PSP nas costas do primeiro-ministro e do ministro da tutela, em mais uma descarada exacerbação de funções e competências com que tem pautado o seu mandato desde o primeiro dia em que foi eleito, e com vista a condicionar a acção do Governo, ao mesmo tempo que, por interpostas pessoas, Magina da Silva e o moço de recados da Presidência, despede o alegado ministro da Administração Interna duas vezes no mesmo dia com intervalo de poucas horas. O mesmo Marcelo em que António Costa vai votar para um segundo mandato em Belém, a iniciar quando andar entretido com a presidência portuguesa da União Europeia e o Governo em Lisboa em roda livre.
"Oficialmente, a direção nacional do PSD não teve nada a ver com o acordo alcançado com o Chega nos Açores. Oficialmente, o entendimento cingiu-se ao plano regional. Oficialmente, Rui Rio e André Ventura não se articularam acerca das negociações.
PSD e Chega acertaram entendimento político ao mais alto nível, em Lisboa. Comunicado em que Ventura anunciou o entendimento final foi limado pelos sociais-democratas."
"O único problema passou a chamar-se Chega e não foi valorizado nem por Pedro Catarino nem por Marcelo Rebelo de Sousa ao ponto de entenderem que a solução de Governo apresentada pela coligação PSD/CDS/PPM (e que conta com o apoio do partido de André Ventura e do IL) devia ser rejeitada."