"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Num dia chama gorda a uma cidadã, noutro faz comentários alarves sobre o decote de uma imigrante. Marcelo, o inimputável Supremo Taberneiro da Nação, em roda livre com a cumplicidade cobarde dos media
O Presidente da França, distrito de Bragança, Trás-os-Montes.
Os media precisam disto para o clickbait, ele precisa dos media para fazer barulho, muito barulho, e parecer que é o governante disto tudo. A dúvida é se o pagode fica contente por gostar muito de circo ou se lhe é indiferente por falta de exigência cívica. A exigência que os media do clickbait não têm, entregues a estagiários e maçaricos, pés de microfone, sem "instinto matador" na pergunta, por gritante falta de cultura política e com o espectro do "olho da rua" no subconsciente.
Terminou mais um Circo Marcelo, aquela coisa que convoca para parecer que governa, que é muito importante, e fazer ruído, muito ruído que lhe permita aparecer, também conhecida por Conselho de Estado. Desarmou-o António Costa que, conhecendo a fibra do protagonista, entrou mudo e saiu calado de uma tertúlia que valia zero no plano constitucional e em termos de governação. Amuado com o falhanço do ruído e da macacada, pré anunciada pelo convocante, veio o líder a prazo do PSD em modo piadista acusar António Costa de amuar, ele que até se andava a portar bem e a fazer um notório esforço para não meter aquela cara de Danny Kaye a pontuar cada dissertação, quiçá aconselhado pela entourage a se fazer de sério, que aquele sorriso pateta era contraproducente por passar a ideia de estar sempre a gozar com o pagode. Terminou mais um Circo Marcelo, até o próximo que resolver armar a tenda para parecer que governa a França. E governa mesmo, é ali ao pé de Bragança.
António Costa na resposta a um Presidente que constitucionalmente não governa, e perante quem o Governo não responde, antes de um Conselho de Estado convocado para se pronunciar sobre matérias que não são da sua competência.
"Eles nem pensem que se ficam a rir porque ainda vai voltar tudo às minhas mãos e depois vão ver o que é bom, eheh". Isto é um Presidente, uma criança de cabelos brancos a ameaçar o Governo em directo pelas televisões, publicamente a mandar recados e indirectas sobre assuntos de tratamento privado com um sorriso trocista nos beiços? O sentido de Estado e a dignidade das instituições do candidato eleito de António Costa e de Ferro Rodrigues onde é que ficou?
Marcelo, o Presidente de todos os portugueses, foi à universidade de verão do PPD fazer aquilo que faz desde o primeiro dia do primeiro mandato: dizer merdas [escolham uma definição para merda], na novilíngua "comentar", ao lado do líder do maior partido da oposição, candidato a ocupar o lugar do actual primeiro-ministro. Agora imaginem a direita do "sentido de Estado" e da "dignidade do cargos e das instituições" se fosse Mário Soares ou Jorge Sampaio num evento do seu próprio partido.
Tornicotim, Tornicotão, eu sou o Saltitão! Capítulo I
Marcelo, desde o primeiro dia do primeiro mandato, dedicou-se de alma e coração à construção da personagem Presidente, seja pela selfies, por aparecer primeiro que os bombeiros no hipermercado onde tinha caído uma avioneta, por comentar tudo em todo o alinhamento dos telejornais, por aparecer no descarrilamento de um eléctrico da Carris em Lisboa, por convocar o Conselho de Estado para se pronunciar sobre tudo o que não é competência do Conselho de Estado, por aparecer nas flash interview no final do pontapé-na-bola, por convidar Lula da Silva para uma celebração que não era da sua responsabilidade, por dar as sentidas condolências à família do George Michael, tudo, tudo. Parece que se farta de governar e até parece que o Governo anda a toque de caixa do Presidente. E para isso contou, e conta, com a prestimosa cumplicidade dos media e dos comentadeiros com lugar cativo nos media. E se perguntarem nas ruas à imensa maioria do anónimo cidadão, e desligado destas coisas da política do disse que disse, é exactamente isso que responde, Marcelo, o tal, o manda-chuva, o maestro disto tudo. Por isso não é de estranhar que no horário nobre apareçam outros aprendizes de Marcelo, Marcelos dos pequenitos, a deixar escapar que "não é inteligente [António Costa] dizer não, sem mais, ao Presidente" e, por omissão de comentário, ser inteligentíssimo o Presidente passar a vida a insinuar que pode demitir o Governo e rebéubéu pardais ao ninho enquanto vai desvalorizando a palavra presidencial. Como diz o pagode, "siga a marinha!".
[Na imagem "Sir John Barbirolli opens the Edinburgh Festival, 1957", autor desconhecido]
Ficou-se a saber que o Ventas do Chaga difunde mentiras com todos os dentes que tem na boca com recurso ao grafismo e às cores do jornal Público e de quem lhe deu de comer e o apresentou lavadinho aos olhos do povo, a Renascença, e logo o Ventas do Chaga apareceu a dizer que não senhor, que as cores nem sequer são assim tão iguais e o grafismo pouco mais ou menos, e vejam vossemecês que nem sequer lá consta os logótipos do jornal e da rádio, portanto isto não é mais que uma perseguição à 3.ª força política e às páginas mais lidas na net que são as do Chaga e blah blah blah e de imediato os jornais as televisões e as rádios se esqueceram de que o Ventas do Chaga difunde mentiras com quantos dentes tem na boca e o foco passou a ser o grafismo e as cores que não são exclusivo nem da Pantone quanto mais do Público e da Renascença e lá vai ele continuar a mentir com quantos dentes tem na boca e os minions de serviço à rede a mentirem as mentiras do chefe porque as cores e os grafismo são protocolo aberto.
Marcelo vetou politicamente o pacote Mais Habitação apresentado pelo PS, ou pelo Governo, que vai dar no mesmo num sistema eleitoral onde o deputado eleito responde perante a direcção do partido e não pelo cidadão que o elegeu, e logo uns geniais entrevistadeiros dos telejornais do jornalismo da Farinha Amparo e outros não menos geniais comentadeiros vieram a terreiro "Ó da guarda! Aqui-d’el-rei!" que o Governo está a desrespeitar o Presidente, como se no sistema parlamentar constitucional português o Presidente governasse e o Governo respondesse perante o Presidente e ficasse obrigado a prestar vassalagem às vontades presidenciais, e em menos de um fósforo o foco deixou de ser o conteúdo do pacote, sem brejeirices, mas a falta de respeito que o Costa tem por Marcelo, e até o Galamba foi desenterrado outra vez para ser abanado à frente do ecrã.
Não têm uma a ver com a outra mas têm as duas a ver com o mesmo.
Corria o verão de 2013 e na Tomás Cabreira à Praia da Rocha havia filas com dezenas de metros para conseguir um autógrafo do Zezé Camarinha, confortavelmente sentado na esplanada da gelataria mesmo ali junto à praça de táxis.
Corre o Verão de 2023 e temos dezenas na praia de Monte Gordo à espera de vez para uma selfie com Marcelo, que está de férias e não comenta política, enquanto faz um directo diário para os telejornais para desvalorizar a palavra presidencial a comentar política.
Em "Chora, que logo bebes" há um Presidente de férias na praia em modo pateta alegre que todos os dias às 13 horas em ponto veste polo e mete chapéu de pala na cabeça para dizer em directo na abertura dos telejornais que o Presidente está de férias e que não comenta propostas da oposição enquanto repete tintim por tintim as propostas do seu partido na oposição sobre a baixa dos impostos. "É proibida a entrada a quem não andar espantado de existir".
O curioso, até estranho, nesta sequência de audições dos partido pelo Presidente da República, é nenhum, da esquerda à direita e da ditreita à esquerda, lhe ter dito "Fica desde já V. Exa. a saber que só aqui marcamos presença por deferência, respeito institucional, porque não cabem nas competências do Presidente da República audições aos partidos com assento parlamentar a propósito do final da legislatura, assim como não cabe ao Conselho de Estado fazer pontos da situação sobre o estado da Economia, situação social e política, relatórios de comissões parlamentares de inquérito e o mais que der na sua presidencial gana, e disso sabe muito bem V. Exa., uma vez que é professor de direito constitucional". Mas não o dizem e o circo continua.
Marcelo, que conseguiu a proeza de ficar "curado" a tempo de sair do hospital mesmo mesmo mesmo mesmo mesmo na hora da abertura dos telejornais para nos presentear com mais de 20 minutos de conversa da treta em modo pantomineiro enquanto respondia a perguntas imbecis colocadas por palermas com carteira de jornalista, ainda arranjou espaço para elogiar a rapidez e prontidão do Serviço Nacional de Saúde, em dia de greve e com serviços mínimos, como se o Marcelo Presidente fosse alvo do mesmo tratamento do Marcelo da esquina, como se o Marcelo Presidente arriscasse morrer à espera da ambulância, como se quem chamou o INEM tivesse de responder a um inquérito telefónico que inclui saber a freguesia onde o pré defunto teve o episódio antes do envio do meio de socorro, como se o Marcelo Presidente não levasse batedores da polícia a abrir caminho, como se alguém com um episódio não vá primeiro para um hospital central e só depois para o hospital da especialidade, como se na chegada ao hospital os serviços já não estivessem em modo serviços máximos. Mas como o povo gosta é de circo e de sonsice e de jornalismo parvo tipo Joana Latino, siga.
Estiveram os dois, Costa de gravata cinzenta, Marcelo de gravata preta, na inauguração do memorial aos mortos de Pedrogão. Nas televisões com cara de caso e com conversa de ir ao cu. As imagens do eucaliptal cerrado, qual floresta da Guiné ou do Vietname onde nem a tropa especial consegue entrar, pior que antes do famigerado incêndio, nem vê-las. A seguir passa a reportagem de Costa em Mação, antes de chegar a Pedrogão, "já que estão aqui [as televisões] permitam-me que mostre" e aponta para um pinhal novinho em folha, sem réstia de mato, enfileiradinho qual batalhão de bombeiros na formatura à espera da revista. O desordenamento do território, a inexistência de um ministério da floresta ou coisa que o valha, o interior do país subordinado á agenda das celuloses, o lucro fácil do deixar crescer, o abamdono da agricultura e silvicultura tradicional, a desertificação, o falhanço do Estado, tudo continua em su sitio à espera da próxima ignição. Da última vez um tanque da aldeia da roupa branca dos idos do Estado Novo, baratinho, salvou 12 pessoas do churrasco, agora temos o matacão milionário do Souto Moura, deve dar pelos menos para salvar aldeia e meia.