"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Porque é que ser de um concelho tradicionalmente comunista é vacina contra a ciganofobia, reflectida no score eleitoral do Ventas, nos concelhos da raia alentejana e nos urbanos da margem sul do Tejo onde essa comunidade tem forte implantação?
O CDS "ganhou" as presidenciais. Duas vezes na mesma noite, primeiro com António Carlos Monteiro e depois com o Chicão, a fugir para a frente do Chiquinho que o partido já é.
O PS "ganhou" as eleições, mesmo quando perdeu o respeito por si próprio ao meter Carlos César a reclamar vitória e a apontar que o perigo do neofascismo é para o PSD e não para o país.
O PCP perdeu as eleições. Ponto final. E disse-o preto no branco.
O Bloco perdeu as eleições. Por abada. E tornou a perde-las quando aos 30 segundos de discurso Marisa Matias decide invocar o Ventas do Chaga, vá-se lá saber porquê. Quando o Ventas não fala falam os outros no Ventas.
O PSD "ganhou" as eleições. E no discurso da vitória, Rui Rio, excitado e aos gritos, fez o discurso da vitória do Ventas.
O Mayan liberal "ganhou" as eleições. Dobrou o resultado das legislativas, tinha 1 e picos por cento passou para 3 e picos por cento. A onda liberal a fugir por umas décimas à onda calceteira do Tino a morder-lhe os calcanhares.
António Costa "ganhou" as eleições. E veio logo todo lampeiro parabenizar Marcelo reeleito sem perceber que hoje é o primeiro dia do resto da sua vida.
O Ventas ganhou as eleições. Sem aspas como os outros. Recuperou os votos dos desiludidos do "isto é tudo a mesma merda", "querem é todos tacho", a minha política é o trabalho", "isto queria era um novo Salazar". Recolheu os voto da ciganofobia, é circular pelas estradas da raia alentejana entre Serpa e Marvão para se perceber o score do rato de esgoto. Recolheu os votos das outras fobias todas, do medo dos outros. E os votos dos esquecidos no Portugal profundo. Abriu a boca para a habitual enxurrada de javardice, reclamou ser um enviado de Deus e em boa hora as televisões cortaram-lhe o pio.
Estou em isolamento profilático. Termina na quarta-feira, na verdade. Mas estou a pensar ir votar. Se for vou super armadilhado. Em minha casa estamos todos iguais porque isto foi um jantar que aconteceu cá em casa.
João Miguel Tavares, Comissário Marcelista para o Dia da Raça em Portalegre, no "Governo Sombra" na SIC Notícias.
Todos os comícios de todos os candidatos às presidenciais terminam com A Portuguesa mas nas reportagens dos telejornais o hino nacional só é ouvido em fundo nos comícios do Ventas. Agora pençem [como os minions do Chaga escrevem nas caixas de comentários e nas "redes"].
- Que violência chama violência e quem quem passa a vida a insultar e agredir verbalmente os outros só pode esperar a retribuição, é uma questão de tempo. E depois lá virá o Calimero com o dia negro e o atentado à democracia e a liberdade e o coise e tal quando dos maiores atentados que se podem fazer à democracia e ao Estado de direito democrático são as agressões a jornalistas e a coacção à imprensa, mas isso não é merecedor de condenação ou reparo.
- Que Joseph Goebbels inventou tudo o que havia para inventar em matéria de propaganda e agit-prop e que agora é só ir buscar e remasterizar porque há sempre uns pobres de espírito dispostos a tudo papar.
E foi um processo em crescendo. Começou com a insinuação de fraude eleitoral. Passou para a fraude dos ciganos inventados. Uma perseguição automóvel do Bloco de Esquerda. Uma incursão em território religioso que correu mal e passou ao lado da generalidade da comunicação social. Até uma tentativa de apedrejamento por ciganos verdadeiros com cartazes da candidata que o vai remeter para a terceira posição nas Presidenciais numa luta ombro-a-ombro com o candidato comunista. Tipo a facada do Bolsonaro, mas como os ciganos modernos não usam facas os ciganos inventados estavam lá atrás preparados para que tudo corresse pelo melhor. E o melhor tinha de ser hoje, o penúltimo dia de campanha, porque se fosse amanhã, o último dia, não servia para nada porque não era notícia em lado nenhum por causa do "dia de reflexão".
Percebem?
[A montagem de Bernie Sandres na recepção cigana ao Ventas é do Nuno Alexandre]
Marcelo estava muito irritado. É testado dia sim dia sim, qualquer coisa como mais de 80 vezes, quando há portugueses na mesma situação que chegam a esperar até 72 horas para fazer um teste, passa os dias feito barata tonta a correr o país de lés a lés e a falar sobre tudo e mais alguma coisa, arranja maneiras de contornar as restrições e não se coíbe de o dizer em público. Mas Marcelo estava irritado por não ter recebido notificação da DGS se podia ou não participar no debate "todos contra todos" para as presidenciais.
O hospital de Setúbal, com doentes arrumados pelo chão, decretou estado de calamidade pela primeira vez na sua história. Mas Marcelo estava muito irritado à porta de casa.
Marcelo, irritado ou bem disposto, não tem respeito pelos portugueses nem pelo Serviço Nacional de Saúde e que os portugueses o levem a sério é um caso sério.
O Ventas hoje insultou toda a gente. Toda a gente não. O Ventas não insultou o Maia liberal, que tem um programa económico igualzinho ao seu. Não insultou o PSD, de que precisa para ser Governo. Não insultou o CDS, porque na moral judaico-cristã nos mortos não se bate.
À parte a família disfuncional onde foi criado, com um avó bêbado que lhe batia, o que não explicando tudo ajuda a perceber a sua má formação, o complexo de inferioridade e o ego recalcado sempre à beira da explosão, o porco na chafurda mimetiza tudo o que Trump faz, desde o gesticular e o movimento de mãos até aos insultos gratuitos a adversários políticos, que para ele são inimigos. Convinha que se visse ao espelho e corrigisse o mau hábito de passar a língua pelas beiças, a de cima e a de baixo, depois de cada enxurrada de verborreia que vomita. É que os humoristas andam aí e os tweets que escreveu ainda não foram apagados: "O insulto e a difamação pública sempre foram e sempre serão as armas dos que não têm razão". [Em print screen].
Cai um avião em cima do Lidl de São Domingos de Rana e Marcelo chega primeiro que os bombeiros.
Na noite da contagem dos votos das eleições autárquicas as televisões sabem que Marcelo está a fazer voluntariado no Banco Alimentar e aproveita para comentar.
Morre George Michael e Marcelo lamenta primeiro que a rainha de Inglaterra.
Cristina Ferreira começa um programa na SIC e Marcelo entra em directo ao telefone.
Descarrila um eléctrico na Rua de São Domingos à Lapa e Marcelo chega primeiro que o INEM.
Fátima Lopes vai para o ar pela última vez na TVI e Marcelo telefona em directo.
"Eu não falo sobre tudo, quem fala sobre tudo é a senhora no seu programa de comentário político". Marcelo Revelo de Sousa para Ana Gomes no frente-a-frente para as presidenciais de 24 de Janeiro de 2021.
O porco na chafurda: "Paulo Pedroso oinc oinc. Paulo Pedroso oinc oinc. Paulo Pedroso oinc oinc. Paulo Pedroso oinc oinc. Paulo Pedroso oinc oinc.".
Quando era por demais evidente que o porco na chafurda ia falar, por esta ordem, no MRPP, em Paulo Pedroso e José Sócrates, o bonzo dos paineleiros-comentadeiros das televisões - Miguel Sousa Tavares, diz que Ana Gomes foi previsível ao falar em Luís Filipe Vieira. Somos [são] tão inteligentes e perspicazes.