"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Mais vale cair em graça do que ser engraçado e Jerónimo de Sousa, que tem por imagem de marca o recorrer a provérbios e ditos populares "por dá cá aquela palha", devia ter este à cabeceira e perceber, ainda que habitando outra dimensão, os limites do engraçadismo para não ter de levar "nas entrelinhas" e com retroactivos.
Ainda em modo Jerónimo de Sousa, "toma e embrulha". E ficamos por aqui porque já tens, Jerónimo, idade suficiente para ser do tempo das "companheiras", figuras secundárias e obedientes, de apoio ao camarada militante nas casas clandestinas. Um bom chefe de família. Macho man.
O wishful thinking da direita, ressabiada e analfabeta política, "vencedora" das eleições mas a continuar sem perceber o funcionamento do sistema parlamentar-constitucional, é que a derrota de Edgar Silva nas Presidenciais seja o empurrão para o PCP fazer cair o XXI Governo Constitucional, o do Costa, o do monhé [à boca pequena] e assim haver um regresso triunfante de Pedro Passos Coelho ao poder, agora em coligação com alguém que o CDS queira disponibilizar e que tenha coluna vertebral para pau-mandado [que Paulo Portas já viu o filme e saiu de mansinho antes que fosse tarde] e antes que comecem as manobras de bastidores dentro do PSD, que o "pote" já era. O PCP que se viu na obrigação de se chegar à frente no day after às legislativas de 2015, pressionado pelo resultado eleitoral do Bloco de Esquerda, ia agora chegar-se atrás e tirar o tapete a António Costa, ao PS e ao Bloco de Esquerda, pressionado pela "vitória" eleitoral de Marisa Matias. Que os comunistas são tudo e até malucos, sabem. Wishful thinking.
Em quem votou Américo Amorim nas Presidenciais de 2006 e de 2011? Em quem vai votar nas Presidenciais de 2016, o homem a quem 2 – dois – 2 milhões de pobres não superam a fortuna e que em 2009, quando já estava no Top of the Pops dos mais ricos, não teve pejo em despedir 195 a ganhar o salário mínimo nacional, por antecipação ao que a crise global iria «certamente evidenciar»? Em quem vota Américo Amorim?
Os 42 anos de democracia também já têm um tempo e um passado, é o tempo passado da monarquia-republicana dos políticos que lutaram muito contra a ditadura e a opressão, que fizeram muito por Portugal e pelos portugueses, que se esforçaram muito pelo regime democrático e pela consolidação da democracia parlamentar partidária, que deram os melhores anos da vida pelo Estado de direito e por isso devem ser, monetariamente, recompensados e que quando a conversa não lhes interessa sacam do argumento do "populismo" e rematam com o da "demagogia", assim a modos que uma "Lei de Godwin" dos políticos pantomineiros-manhosos.
Queria escrever qualquer coisa sobre O Debate Presidenciais 2016, Todos Contra Todos, Sampaio da Nóvoa Contra Marcelo Rebelo de Sousa, Edgar Silva Contra Marisa Matias, Almeida Cândido Ferreira contra Almeida Penteado Morais e Vitorino de Rans abençoado por Mateus 5:3 "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus", mas tudo aquilo foi tão tão tão mau que bloqueei.
O Público tinha, a ilustrar esta notícia, uma grande foto de Sampaio da Nóvoa em cima do palanque onde, numa conjugação, numa feliz conjugação de luzes e sombras, o fotógrafo o captou com uma mascarilha de Lone Ranger nos olhos e, só quem em pequenino nunca leu bd do Mascarilha, do Lone Ranger, do Zorro é que pode ser pequenino ao ponto de dizer o contrário ou até ver alguma segunda intensão nisso, depreciativa da personalidade ou atentatória à imagem do candidato. E o facto de um par de horas depois o Público a ter substituído [por pressão da candidatura?] por outra, medíocre e com ar de parolo, diz mais do jornalismo que temos em Portugal do que do candidato à Presidência da República.
É um filme a preto-e-branco, rodado há muitos anos por Francisco Ribeiro e Arthur Duarte, continuamente remasterizado a cores pelas televisões, também de há um ror de anos para cá, e é do que o pessoal gosta, o pagode ri-se muito, tem uma lágrimazinha pelo meio e volta a rir-se muito até ao fim e, até os que nasceram ontem, vêm com o lamento "nunca mais fizeram filmes portugueses como antigamente... desaprendemos...". Desaprendemos nada.
O MRPP bom, excluindo o MRPP que deu Durão Barroso a Portugal e à Europa, foi o MRPP que, ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa e do CDS, apoiou a primeira candidatura de Ramalho Eanes à Presidência da República, nada comparado com o MRPP mau que declara apoio a Sampaio da Nóvoa e que faz a amnésia e a desonestidade intelectual da nova direita que não apoia Marcelo Rebelo de Sousa cata-vento mas que vota Marcelo Rebelo de Sousa eu-não-disse-o-que-disse.