"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Outro argumento válido, e actual, seria o de escrever que a Marta teve quase tantos namorados quantos os portugueses abrangidos pelo programa dos retornados da emigração do Governo Adjunto, a cargo do Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto, e ainda as inumeras possiblidades de tocadilhos manhosos-brejeiros-machistas com o nome da prova de vida de Pedro Lomba.
Adenda: Vou escrever uma carta ao director [old style] a contar da vez que fui com a Marta num elevador [fui mesmo, não é treta].
Foi preciso esperar 56 anos [a contar da data do início das emissões regulares da RTP - 7 de Março de 1957] para que em Portugal, a primeira e a última potência colonial, o país que "inventou" o mulato, que deu novos mundos ao mundo e essas coisas todas que são bonitas dizer, fosse possível ver na televisão publicidade, dirigida à classe média, com casais multirraciais. Vão ser precisos outros 57 anos para ver publicidade com casais do mesmo sexo?
Eu conheci Susan Boyle. Foi na cidade do Porto no ano de 2006. Era o Paulinho e era dj no café concerto do Rivoli. Um dj ecléctico, que não fazia uma única mistura, tudo na base do corta-e-cola, mas com um extremo bom gosto musical e com uma percepção da casa e da música a usar em função dos clientes, francamente fora do comum. E aguentava a sala cheia até à hora do fecho.
Quando o café concerto encerrou às duas da manhã, fomos todos, os donos, eu, e o Paulinho, fazer a ronda dos bares e discotecas da cidade. O Paulinho, apesar de profissional do ramo, quando ia à frente via-lhe barrada a porta e só acabava por entrar, a contra gosto do porteiro, porque vinha connosco. Tinha paralisia cerebral, e naquele jeito desengonçado de andar, com a boca de lado e com nítidas dificuldades em se exprimir, era um pauzinho na engrenagem da pseudo pop-fashion.
Onde me “doeu” mais – e parecia que doía sempre mais a nós que a ele – foi no Lusitano, um bar frequentado pela comunidade gay e lésbica da cidade. O Paulinho estigmatizado e marginalizado, por uma comunidade ela própria estigmatizada e marginalizada e vitima do preconceito.
No One Is Innocent cantava em 1978 Ronnie Biggs acompanhado pelos Sex Pistols.
Veio esta conversa da treta a propósito desta troca de argumentos.