O Verdadeiro Artista
Nasceu já o 25 de Abril ia com três meses de idade mas tem memórias do PREC, da revolução vermelha e das paredes pintadas:
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Nasceu já o 25 de Abril ia com três meses de idade mas tem memórias do PREC, da revolução vermelha e das paredes pintadas:
Assim mesmo, como se usava, antes de ter perdido o "que tem o" para "do". É o spot promocional que a televisão pública passa em tudo o que é intervalo e separador para depois remeter para o site "A história da extrema-esquerda em Portugal". PCP igual a "extrema-esquerda" no canal público de televisão, repetindo a lengalenga que o pensamento único dominante repete a todas as horas, em todos os espaços de comentário político, em todas as televisões e escamoteando o papel que os comunistas portugueses tiveram na estabilização e consolidação do sistema político, até mesmo como força de contenção à dita extrema-esquerda. E quando a RTP resolver fazer a história da extrema-direita em Portugal abre o spot promocional com imagens do famoso cerco ao congresso do CDS no Porto?
[A imagem é do site]
[*] "Golpe de Estado PRECiano"
Comités populares, de bairro, de fábrica, de lares da terceira idade, de esquina e de café. Do infantário. O que Otelo nos diz é que a crise que o país atravessa proporciona o aparecimento de todo o tipo de loucos salvadores da Pátria.
O tempo de Otelo já passou - praise the Lord! -, mas, como cantava Fausto na Madrugada dos Trapeiros, “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir”, e convém não baixar a guarda:
(Imagem)
Manuel Serra
Quando era teen, aí por alturas do PREC, ia pela calada da noite, mais a restante maralha, fanar bandeiras às sedes dos partidos. Os alvos preferidos eram as do PSD e as do MRPP e, quando não eram fanadas, eram trocadas – hastear as “laranjas” nos “vermelhos” e os “vermelhos” nas “laranjas”, sem sequer sonharmos que pouco tempo depois seriam “dois em um na unidade do Espírito Santo”.
Disse-me uma vez o meu pai ao ver a minha invulgar colecção, e desconfiando da minha dedicação à causa vexilológica: “Havias de ser apanhado e levar umas valentes sarrafadas no lombo que era para ver se aprendias a ser homenzinho”. Era disso que se tratava: criancice.
Ali no café da extrema-esquerda, onde nos idos do PREC nem o pessoal do PCP se atrevia a entrar, estava um fulano tranquilamente sentado a beber uma cervejinha, com um pin da UNITA na lapela.
Surge esta posta no seguimento da minha escolha para avatar no Twitter, nos 35 anos do 25 de Abril, da bandeira do PRP / BR.
Eu e este ilustre (já falecido, paz à sua alma) que aparece ao meu lado na foto, como cabeças de lista, ganhámos em 1976 em eleições livres e justas, a corrida para a Direcção da Associação de Estudantes da Escola Industrial e Comercial de Setúbal – actual Secundária Sebastião da Gama –, então afecta ao PRP / BR.
Ganhamos é pouco, arrasámos. Com quase 400 votos (a esta distância não posso confirmar os números) contra 50 e poucos da anterior direcção, e cento e muitos de uma lista afecta ao PS. O PSD e o CDS na altura em Setúbal, eram como os gambozinos, não existiam.
Depois seguiu-se a ruptura com tudo o que esteve por detrás, ou ligado à composição desta lista, veio o punk, e parti para outra que, assim a oportunidade surja, será vítima de abordagem condigna.
Adenda: A foto foi tirada à porta da sala da Ass. De Estudantes no dia da vitória.
(*) Período Revolucionário Em Curso)
Excerto da entrevista a Pires Veloso, o vice-tolo vice-rei do Norte a propósito lançamento do seu livro de memórias Vice-Rei do Norte:
Pergunta: Na altura dizia-se que a norte estava a extrema-direita e que havia o perigo da contra-revolução. Esse perigo nunca existiu?
Resposta: Para mim, isso foi tudo inventado. Diziam que havia uma Maria da Fonte, e o cónego Melo, e tal. (…). O que havia era um clima de terror. As pessoas tinham de vir para a rua dizer que eram de esquerda, por medo.
As imagens falam por si:
(Ao minuto 1:08 é possível ver um dos homens do vice-tolo vice-rei, de arma na mão, a proteger quem foi obrigado a vir para a rua dizer que era de esquerda)
No seguimento do post anterior, nem de propósito hoje no Diário de Notícias:
«A memória compreende quatro diferentes estágios: a memorização, o fortalecimento, o armazenamento e a recordação de informações e eventos anteriormente memorizados»
(Link)
(Imagem de Luo Zhongl fanada no New York Times)
Quando Freitas do Amaral era o Seitas do Mal no jornal O Diário, uma grande fatia da actual classe política do centralão andava a armar confusão nas fábricas, nas universidades e nos sindicatos, com um pin na lapela onde era possível ver as efígies de Marx, Engels, Lenine, Estaline e Mao (acho que era esta a ordem), com qualquer coisa “m-l” por baixo. Era tão grande o pin que era quase maior que a lapela. Sinceramente não sei se havia algum pin ainda maior que abarcasse também o Henver Hoxa…
Eram os tempos de se aceitar Estaline, «com alguma crítica», e os tempos em que a China era socialista. Era os tempos em que o pessoal do PC levava nas orelhas – e com razão diga-se – por causa da Hungria e da Checoslováquia. Continuam a levar – e com razão, diga-se outra vez –, mas também se põem a jeito. Aos apóstolos do Timoneiro e aos Faroleiros do Socialismo na Europa, foi feito um conveniente e conivente reset à memória – como no Total Recall com o Arnold Schwarzenegger e a Sharon Stone – e não se fala mais nisso. E aí andam eles pelos intervalos da chuva, apesar de por vezes serem assaltados por visões do passado.
Não sei quem vai entregar o Premio. Não sei se o presidente da Comissão vai estar presente. Pena Hu Jia não poder himself recebê-lo. Porque está preso. Pela oportunidade de olhar olhos nos olhos alguns ex, agora convertidos.
A gente preocupa-se muito com a (falta de) Democracia na China.
(Imagem de Chen Yanning fanada no New York Times)
A FuckItAll descobriu o Botas. Não “o Botas”; aquele; o tal da cadeira de lona igual à que eu tenho na varanda e de quem me lembro sempre antes de me sentar.
A FuckItAll descobriu o meu amigo (à época) alferes Botas; numa sessão de esclarecimento do MFA.
E veio-me à memória os tempos de 1975/ 76 em que eu puto, e o outro Botas puto, o irmão mais novo do alferes; o que era militante da UEC; praticávamos um desporto em que há muito havíamos ultrapassado os mínimos olímpicos.
Consistia esse desporto – e após 30 anos vou fazer uma confissão pública – em roubar as bandeiras que o MRPP hasteava todos os dias na sua sede na Av. 5 de Outubro em Setúbal; ali mesmo por cima do Farelo.
Era um desporto fácil de praticar. Eles hasteavam de dia e nos roubávamos à noite. Simples. Dezenas delas.
Há dias cruzei-me de carro com o alferes do PREC. Não deu para falar; só umas buzinadelas e um aceno.
O que é feito do Botas mais novo? Ainda tens as bandeiras; pá?
(Imagem roubada no TóColante)
Estávamos em 1975 e no auge do denominado Verão Quente. No Alentejo as herdades eram ocupadas e davam lugar às Cooperativas e ao início da Reforma Agrária. O PC manobrava nos bastidores, mas não manobrava no “arame e sem rede”. Havia um descontentamento generalizado da população alentejana por décadas de explorações e humilhações, fomes, baixos salários e repressões, por tudo e mais alguma coisa. Quem tem família oriunda do Alentejo rural, sabe bem do que falo. O que o PC fez, não foi mais do que canalizar o descontentamento das populações, para servir os seus intentos. Aqui, os latifundiários e proprietários, têm tantas culpas no cartório da Reforma Agrária quanto o PC; com a sua mentalidade fechada e falta de visão empresarial. (Que se mantêm 33 anos após Abril, mas isso são contas de outro rosário).
Em plena etapa de ocupação dos latifúndios, lembro-me de ver na altura na televisão, uma reportagem num qualquer embrião de cooperativa. Um trabalhador agrícola discutia em directo com o camarada responsável pela ocupação da herdade. Dizia o camarada, mais ponto menos virgula: “Isto agora é tudo do povo. Vamos trabalhar em conjunto e para o bem comum. As casas são de todos, as alfaias são de todos, o trabalho é comum e os proveitos são de todos.” (Esqueceu-se de referir que antes mandava o patrão e agora mandava o Partido, por interposta pessoa; a sua.) O trabalhador respondia, também mais ponto menos virgula: “Isso é tudo muito bonito… mas há aqui uma coisa que não me entra bem. Ora se fui eu que comprei a enxada, porque é que ela há-de ser de todos? Até daqueles malandros que nunca compraram uma? Assim fico pior que antes! Antes a enxada era minha e agora passa a ser de todos!?”
(Esta situação pode ser comprovada nos vídeos que a RTP editou pelos 25 anos do 25 de Abril).
Vem isto a propósito da mais recente ideia luminosa, vulgo pancada, de Hugo Chávez. No seu programa Aló Presidente diz: “Aquele que tiver um frigorífico que não precise, coloque-o na Praça Bolívar, desprendam-se de algo, não sejamos egoístas. (…) Não tenho riquezas, mas tenho um dinheiro poupado de um prémio que me deram na Líbia de 250 mil dólares. Já doei parte para outra causa, mas o que sobrou vou entregá-lo ao povo.” E pelo meio apelos ao trabalho voluntário “ao sábado e ao domingo, para ajudar as comunidades”, (nada que também não tenha acontecido por aqui no PREC), “não há revolução socialista sem trabalho voluntário.”
Por cá, e em 1975 nunca “chegámos à Venezuela”, apesar de já termos “chegado à Madeira” e no Continente… Mas as analogias e as comparações não deixam de ser interessantes. Porque as culpas no cartório do embrião de ditadura que está em gestação na Venezuela, não podem ser única e exclusivamente assacadas a Chávez. Ele apenas se movimenta no arame, sustido pela rede que foram décadas de opressão de ditaduras militares com o beneplácito dos Estados Unidos. A isto, juntar um factor que tem passado ao lado da generalidade dos comentadores, não sei se deliberadamente ou não, ou talvez pelo politicamente correcto: ditaduras militares comandadas por minorias brancas que oprimiram e exploraram as maiorias nativas. E Hugo Chávez é um índio, um nativo, que desde o início do seu percurso soube explorar até à medula esse pormenor.
As coisas em política nunca acontecem por acaso. Há sempre algo que conduz a algo, e na História há sempre dois lados. Um não pode servir para justificar ou desculpabilizar outro, mas, não vivem per si, nem nascem por geração espontânea.
Hoje o provérbio do dia é retirado da letra de uma canção de Sérgio Godinho: “A sede de uma espera só se estanca na torrente.”
Sou da geração de Paulo Portas; teens no PREC, com tudo o que isso acarreta – ser teen no, e do PREC.
Toda a rebeldia e contestação inerente à idade, devidamente canalizada para a actividade política em liberdade e democracia, pela primeira vez em 50 anos.
Haviam as Jotas, do PS, do PC, do então PPD, do CDS e de mais uns quantos grupelhos dos extremos. Conhecíamo-nos todos e, com mais ou menos fricções, dávamo-nos uns com os outros. Algumas das vezes éramos mesmo parceiros de secretária na turma. Continuo a ter Amigos – com A grande – desses tempos, e que nunca partilharam comigo um ponto de vista ideológico, por mínimo que fosse.
Mas nesta estória, nem tudo foi tão lírico e pacifico como o possa parecer.
Havia uma Jota que sempre se destacava pela negativa, quer na forma, quer nos métodos como reagia e encarava situações adversas. Refiro-me à Juventude Centrista, a Jota do então CDS.
Reuniões-Gerais de Alunos ou Plenários no refeitório da escola, e eram sempre eles os primeiros a chegar, estrategicamente “acampados” à porta e coagindo física e psicologicamente sobre quem ia entrando. Mas, apesar de terem sido os primeiros a chegar, lá dentro eram os que ficavam lá atrás nas últimas filas e, quando a ordem de trabalhos ou as votações não lhes corria de feição, vai de assobiar, insultar e patear a Mesa e a Assembleia.
Nas campanhas eleitorais para a Direcção da Associação de Estudantes, quando a propaganda das listas concorrentes desaparecia ou pura e simplesmente era destruída, adivinhem qual era a que aparecia no lugar deixado vago? A da JC; certinho como o destino!
Nas campanhas eleitorais para as Legislativas, Autárquicas ou Presidenciais, enquanto as outras Jotas participavam ao nível das colagens, pinturas murais, distribuição de propaganda e animação dos comícios; a Jota do CDS fazia isso tudo e ainda se dedicava a boicotar as das outras formações políticas.
Doa a quem doer – e que me desculpem os meus amigos centristas dessa data, aqueles que nunca embarcaram nas atitudes hooligans – mas a mais pura das verdades é que, em todos os eventos relacionados com o então CDS, o mais natural era vermos os meninos betinhos armados de correntes, bastões, tacos de basebol e de capacete motard na cabeça em poses e atitudes intimidadoras que incluíam a saudação nazi.
(Como eu compreendi Eduardo Dâmaso quando escreveu um livro em que classificava Manuel Monteiro e os seus acólitos de fascistas! Fomos da mesma turma, passámos pelo mesmo; presenciámos o mesmo…)
Eram os “cães de fila”, como referiu Maria José Nogueira Pinto a propósito dos acontecimentos do último Conselho Nacional do CDS/ PP.
E era precisamente aqui que eu queria chegar com esta crónica.
Estamos a falar de um período temporal que se prolongou desde 1975 até à campanha eleitoral da AD, e a de Soares Carneiro às presidenciais – nestas duas últimas, o modus operandi da JC manteve-se, com a complacência do PPD.
Nunca se viu ou ouviu, Freitas do Amaral censurar ou condenar as acções dos seus putos. Nunca se viu ou ouviu, Adriano Moreira censurar ou condenar as acções dos seus putos. Nunca se viu ou ouviu, Francisco Lucas Pires censurar ou condenar as acções dos seus putos. Nem tão pouco Maria José Nogueira Pinto ou Ribeiro e Castro.
Porque se queixam agora por tudo o que aconteceu no Conselho Nacional?
Estão a ser vítimas do monstro que alimentaram e fizeram crescer, enquanto serviu os seus interesses políticos. (Lição correctamente assimilada e depois levada à prática pelos clubes de futebol com as suas claques).
Quando se fala em PREC a imagem que se faz passar é a do PC mais a extrema-esquerda a tomarem de assalto o país; o reverso da medalha que teve implicações tão ou mais graves, é sempre tacitamente omitido.
Se olharmos para os apóstolos de Portas o que vemos são os betinhos do bastão e da matraca, agora de fato Hugo Boss e gravata Armani.
Paulo Portas era teen no PREC. Paulo Portas não esqueceu nem desaprendeu os ensinamentos adquiridos nessas batalhas. É a sua geração ao seu melhor nível!