"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Ou há uma inversão radical de azimutes, ou muito me engano mas ontem foi dado o tiro de partida do processo que vai acabar na derrota eleitoral do PS e de António Costa em Lisboa. Com adversários assim, Santana Lopes nem precisa de “andar por aí”. Basta-lhe ficar sentado e calado.
(E parece que Miguel Sousa Tavares foi apupado e insultado e teve de sair com escolta policial por causa dos piquetes espontâneos convocados por sms pelo PCP de cada vez que há uma reunião do PS ou do Governo. O quê?!.. O Sousa Tavares não é do PS?!.. Nem do Governo?!.. Ah!)
Na generalidade (e na especialidade) subscrevo as suas cruzadas contra as inúmeras tentativas de expropriar os cidadãos – e não só de Lisboa –, do seu património comum, em favor de obscuros interesses privados e na maior das promiscuidades com o poder político. Mas desta vez acho que não está a ver bem o filme. Então um 1, 5 km de frente de rio ocupados com um muro de contentores empilhados até 15 metros de altura, roubam o rio à cidade, é prejudicial a Lisboa, mas já fica muito bem em Setúbal, onde «existe um perfeito para isso e cuja capacidade não aproveitada é de 95%!».
Por acaso o Miguel sabe da polémica que envolveu a construção do terminal de contentores de Setúbal? (Curiosamente com uma administração PS na Câmara; esta apetência do PS pelos terminais de contentores…). Da contestação que gerou; do impacte ambiental negativo; e que a juntar a outras polémicas decisões ditou o fim do reinado Mata Cáceres na cidade.
Setúbal é o contentor para o lixo que Lisboa não quer?
Por falar em lixo; aqui há tempos circulou aí pela blogocoisa a possibilidade de Santana Lopes ser candidato à presidência da Câmara de Setúbal. Aproveitando a boleia do Daniel: “Foi presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, deixou a Figueira da Foz falida e foi-se embora para ser presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Deixou Lisboa falida e foi-se embora (…)”. Uma certeza eu tenho: se o cromo decidir avançar para Setúbal não vai deixar a Câmara falida. Esse prazer foi-lhe retirado há 8 anos atrás.
(Na imagem The Container City, uma urbanização de luxo à base de contentores na frente ribeirinha de Londres. Aqui)
O Entroncamento se é o que é, deve-o à CP. E o Pinhal Novo também. E, por exemplo, a Covilhã por causa das ovelhas e dos pastores da Serra. E o Algarve por causa das praias. E podíamos assim fazer a Volta a Portugal.
«O porto de Lisboa é algo fundamental à cidade, pois nasceu porque tinha capacidade portuária. Lisboa não seria o que é se não tivesse tido o porto de Lisboa e se não o tivesse actualmente»
Música para os ouvidos da Administração do Porto de Lisboa.
O factor “eterna gratidão” a pesar na construção dos futuros mamarrachos e no empilhamento de contentores à beira-rio. À beira-Tejo, a muralha da China de Lisboa.