"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Que o Estado de direito democrático deve abdicar de sê-lo e condenar a pedido da turba só porque se não o fizer vai favorecer a ascensão do Chaga, é o argumento mais espantoso que se tem ouvido nestes dias, desde anónimos a políticos super star com assento e acento no prime time, passando por jornalistas. O medo do populismo de extrema-direita para se passar a actuar como se vivêssemos num Estado governado por um partido populista de extrema-direita é um jogo perigoso de se jogar e o Ventas, percebendo isso melhor que os anónimos, os políticos super star e os jornalistas, chapéu, começa a capitalizar por antecipação e força ainda mais com pressões inaceitáveis sobre o tribunal guardião da Constituição da República sob a forma de manifestações.
Em dia de manif das polícias, com o neo-fascismo populista do Chega sentado no Parlamento a levar a direita tradicional, CDS-PP, e os novos neo-liberais, Iniciativa Liberal, a reboque, ao invés de serem os próprios a demarcar território e a separar as águas, convém [re]lembrar os dois grandes perigos para a democracia e o Estado de direito neste início de século XXI: a judicialização da política e a autonomização das polícias.
Depois de no discurso do 25 de Abril ter alertado, sem ninguém perceber porquê, para os riscos do "messianismo salvífico" e do "populismo", Marcelo Rebelo de Sousa anuncia que nestas férias vai a banhos para as "Termas do Cartaxo".
Dear Europe is a collaborative video about the upcoming European elections and how lessons gleaned from Brexit and Trump, might relate. The piece was made by artists who call the US and the UK home. Turn on closed captions for French, Dutch and German and Italian!
Só 3 coisinhas a propósito do alarido que Trump causou numa Europa a tomar balanço para um Geert Wilders e uma Marine Le Pen, com Viktor Orbán devidamente integrado, um Farage por agora retirado já que Theresa May dá conta do recado sozinha, e um Grillo a esfregar as mãos em Itália.
- "Há que ter cuidado e estar atento ao populismo e aos populistas", insistem nisto depois de quase 20 anos de Paulo Portas à frente do CDS e duas vezes ministro em governos de coligação com o PSD.
- "Há que ter cuidado e estar atento aos radicais e ao radicalismo", insistem nisto depois de quase 5 anos de Passos Coelho primeiro-ministro, com Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque a meias na pasta das Finanças.
- "Há que ocupar o abandonado centro político como resposta aos radicalismo e aos extremismos", continuam com esta conversa depois do renascimento dos radicalismos e extremismos exactamente pela indiferenciação esqueda-direitra-esquerda depois da rendição da esquerda às políticas da direita, iniciada com Gerhard Schröder na Alemanha e com o apogeu na Terceira Via de Tony Blair.
Podem ir pondo as barbas de molho, vox pop, que com o mal dos outros posso eu bem, vox pop também, e porque a mulher dos outros é sempre melhor que a nossa, ainda vox pop.
[Na imagem a primeira página do populista The Sun]
E, quando pensávamos que já tínhamos visto de tudo, vemos o alerta para os perigos dos extremismos e dos populismos que põem em causa a construção europeia, pela boca de quem em quatro anos, sem uma única ideia para a Europa, não só apoiou as opções, as políticas e as opções políticas que fomentaram e propiciaram o nascimento dos extremismos e dos populismos, como ainda quis ir além de.
Os sapatos que Paulo Portas calça são Made in S. João da Madeira?
E quando ele começa a debitar populismo não há um jornalista, um só que seja, que lhe diga: oh stôr (assim mesmo que a direita é muito ciosa do seu estatuto) mostre lá aí as etiquetas da sua roupa (sff, que também se usa).
(Imagem de Narendra Shrestha para a EPA, via Guardian)