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Buzinão na Ponte 25 de Abril foi há 25 anos
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Buzinão na Ponte 25 de Abril foi há 25 anos
Corria o ano de 2000 e o mui socialista e mui à esquerda Jorge Coelho, então ministro do Equipamento Social, renegoceia a concessão das pontes sobre o Tejo com a Lusoponte, passando para o Estado, que é como quem diz para os contribuintes, o ónus da manutenção das ditas, com o Tribunal de Contas a concluir que "As contrapartidas directas à concessionária ascendem, a preços descontados das taxas de inflação, a cerca de 180 milhões de contos (900 milhões de euros), isto é, o equivalente a uma nova travessia sobre o Tejo".
Ao PS interessa que se discuta se a ponte é ou não é segura, se as obras começam hoje, amanhã, ou em dia de São Nunca à Tarde sem pôr em risco os milhares que todos os dias cruzam a 25 de Abril. À direita radical, PSD e CDS, interessa que se discuta se a ponte é ou não é segura, se as obras começam hoje, amanhã, ou em dia de São Nunca à Tarde sem pôr em risco os milhares que todos os dias cruzam a 25 de Abril, porque enquanto se fala nisso não ficam entalados entre a opinião pública e os interesses das empresas privadas que sempre defendem em prejuízo do erário público. E a isto chama-se meter a carneirada a discutir aquilo que interessa discutir.
[Imagem de autor desconhecido]
A ponte 25 de Abril, concessionada à Lusoponte e que em 2012 já tinha recebido em rendas do Estado e portagens o dobro do que havia investido na construção da Ponte Vasco da Gama, também concessão sua e com participação accionista da Vinci, a concessionária dos aeroportos que vai encaixar mais uns milhões com o aumento de tráfego, consequência do novo aeroporto do Montijo, precisa de obras orçadas no valor de 18 milhões de euros, pagos pelo erário público que é como quem diz pagas com o dinheiro dos impostos dos contribuintes que é como quem diz pagas com o dinheiro de todos os cidadãos que todos os dias pagam portagem para atravessar o Tejo e que se reflectem nos lucros da Lusoponte. Não há dinheiro para nada, nem para saúde, nem para educação, nem para pensões e reformas e ainda vamos de ter de aumentar a idade para a reforma por causa da sustentabilidade da Segurança Social.
Miguel Macedo acabadinho de chegar de Marte que não sabe o que foi o 25 de Abril de 1974 nem o significado que a data matém 40 anos passados nem nunca ouviu falar em "margem sul" nem em "cintura industrial" nem em "De pé, ó vítimas da fome! De pé, famélicos da terra!" nem percebe nada de simbolismos e para quem "a ponte é uma passagem" e nunca uma ligação.
Miguel Macedo que nem sequer é ministro deste Governo, o tal, o que ressuscitou a luta de classes em Portugal:
[Imagem]
O corpo de intervenção da PSP que, na greve geral de Novembro de 2012, suportou, para lá do limite do insuportável, a chuva de pedras frente à Assembleia da República, dito de outra forma, permitiu que a "intifada" começasse e tomasse proporções inimagináveis quando a podia ter "morto" logo à nascença, é o mesmo corpo de intervenção da PSP que enquadra os manifestantes, à moda de Aljubarrota, e os encaminha para um ponto onde, inevitavelmente, o trânsito da auto-estrada seria cortado.
Coisas que não batem certo. Ou se calhar até batem:
O Governo Cavaco Silva/ Passos Coelho/ Paulo Portas já percebeu que não é pelo lado das centrais sindicais [CGTP/ UGT], pelos trabalhadores, sindicalizados ou não, enquadrados em manifestações e eventos organizados pelos sindicatos, que a coisa vai descambar. E também não é pelo lado dos anarkas, anti-sistema, okupas, anti-globalização, outsiders, uma miríade sem apoios ou estruturas de apoio, sem hierarquias institucionalizadas, sem relações de organização entre si [vários grupos]. Fazem mais barulho, mais estrago e ganham mais visibilidade mediática, mas não é por aí. São os idiotas úteis ao Governo PSD/ CDS-PP. Para mostrar serviço, como exemplo e como pressão psicológica sobre os outros, para ganhar a batalha da opinião pública, de pantufas em casa no sofá, ciosa da tranquilidade e da ordem pública.
Ninguém inventa nada de novo.
[Na imagem o Corpo de Fuzileiros da Marinha ocupa a sede nacional da PIDE/DGS, Rua António Maria Cardoso, Lisboa, 26 de Abril de 1974, Alfredo Cunha]
Ninguém é demitido, ninguém se demite, não há vergonha nenhuma, e há 4, 4 milhões de euros do contribuinte português, vezes xis meses, na conta bancária da Lusoponte.
"logo p’la manhã vem, o aconchego terno, do velho xaile de lã…"
[Na imagem "Tacoma Narrows Bridge Collapse", 7 Novembro de 1940, autor desconhecido]
Leio no Público (link só para assinantes) que um tal de João Gomes pôs a circular por aí um abaixo-assinado com o objectivo de devolver à ponte 25 de Abril o nome original de Ponte Salazar. E que o senhor até tem sítio na net (não é defeito é feitio, mas não escrevo o link nem para assinantes) dedicado à causa, não da ponte, mas de Salazar himself.
Ora eu nestas coisas dos nomes e da História até tenho uma atitude muito british, as coisas são como são e como foram e não se muda nada e prontes. Mas não é por isso que eu venho aqui.
Diz o tal senhor a-morrer-de-saudades-pelo-ditador-de-Santa-Comba que «quando andou na Mocidade Portuguesa, aprendeu “uma série de coisas boas”. “Como as meninas aprendiam a bordar, por exemplo.”». E permito-me acrescentar, casavam virgens, namoravam à janela, usavam um lenço a cobrir a cabeça, não usavam calças e andavam em escolas separadas dos meninos; as que andavam. Porque mulher digna do nome de mulher não tinha nada a fazer na escola; estava ali para precisar de homem e em silêncio, porque quem geme durante o acto sexual são as putas, como é sabido.
Agora, sff, descubram as diferenças entre os saudosos tempos do senhor João Gomes e os não menos saudosos tempos do Deputado da Nação.
(Foto via Wellcome Library)