"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Das soluções milagrosas escondidas na manga e dos euros prometidos em campanha eleitoral "nem mais um cêntimo". Ponto. Até porque a quebra de receita com a baixa do IRC vai servir para distribuir dividendos pelo patrão e pelo accionista e o dinheiro investido na economia vai ser zero porque o trickle down não funciona e porque o tempo do "capitalismo reprodutivo" já lá vai.
Na convocatória para a cercadura ao Parlamento, a páginas tantas, o taberneiro diz "dia 4 às 15 horas" enquanto faz com a mão direita o gesto três dedos e um zero que, em linguagem gestual, todos já vimos no canto do ecrã a tradução, significa "dia 4 às 15 horas" e não o símbolo White Power dos supremacistas brancos e, por coincidência e só por coincidência, também o símbolo do Movimento Zero nas polícias, aqueles senhores e senhoras que nos grupos WhatsApp, Telegram e contas fechadas no Facebook se dedicam a insultar imigrantes e gente de outras cores, para, mais rápidos que a própria sombra, os ditos zeros responderem ao apelo do chefe e gritado presente. Nas televisões, rádios, jornais, que andaram com o senhor ao colo e o engordaram, ninguém deu por nada, mesmo depois de elevados à categoria "Inimigos do Povo". Espectáculo!
O cerco ao Capitólio foi arquivado pelo Ministério Público, o tal, o das escutas anos a fio, saídas para a opinião pública descontextualizadas, sem jeito nem trambelho, a dias certos, na maior das coincidências. Agora os polícias voltam a ser chamados a montar cercas, por dentro e por fora, desta feita à casa da democracia, símbolo maior do Estado de direito democrático, eles que estão obrigados a assegurar a legalidade democrtática, depois do partido que os convoca já ter à civil "cercado" o Tribunal Constitucional. Pé ante pé...
Manifestantes nacionalistas e antifascistas envolveram-se em confrontos junto ao Padrão dos Descobrimentos, "nacionalistas" é a maneira bonita que alguns media arranjaram para referirem os fascistas, e a polícia, para pôr cobro à refrega, escolheu o lombo dos antifa para largas à bastonada. Depois descobriram que a polícia é amiga dos fascist... dos nacionalistas. E até há fotos a circular pelas redes onde se vêm ambos, a polícia e os fascist... nacionalistas, em alegre confraternização, antes e depois da peleja. A seguir vão descobrir que o Partido alegadamente Socialista esteve 8 anos no Governo e não quis acabar com os zeros, com os amigos fardados do senhor Machado, pôr ordem nas polícias.
O partido das polícias e da lei e da ordem anda há 24 horas a desmentir e a desacreditar as polícias e a inventar insegurança para criar desordem. São os descartáveis na caminhada até ao poder, por mais hinos nacionais que entoem com a mão direita no coração.
E no rescaldo do 'cerco ao Capitólio' tivemos os dirigentes dos sindicatos da polícia a dizerem que está bem, a manif não foi autorizada, mas os polícias até se portaram bem.
"Se soubesse o que sei hoje tinha ido para a GNR quando saí da tropa. Fulano de tal fez isso e já está reformado com uma boa reforma sem se chatear nada".
"Não arranjas emprego em lado nenhum? Vai pra polícia, pá!".
Não há um único português que não tenha alguma vez na vida ouvido esta formulação, dos pais, de familiares, de amigos. Não há um único. À imagem do que antes acontecia com Direito, para onde ia toda a gente que não tinha média para entrar em mais lado nenhum, só vai para a polícia quem não sabe fazer mais nada. E chegámos aqui. Racismo, xenofobia, homofobia, justicialismo, desrespeito total pelo Estado de Direito, recurso à mentira, violência, condenações atrás de condenações no tribunal europeu. 50 anos do 25 de Abril.
Ah e tal o ministro Carneiro da Administração Interna telefonou para a RTP, e disso deu conhecimento ao povo e aos policias, e é inaceitável num Estado de direito democrático um governante pressionar ou tentar condicionar um órgão de comunicação social, e tal, a propósito de um cartoon que nem era sobre os dele, e tal, os que se viram cartoonados [inventei agora] sem dó nem piedade a puxar o gatilho sem dó nem piedade e vai daí meteram um processo em tribunal, e tal, e ficaram desde logo a saber que podem contar com o ministro Carneiro, e tal, porque isso o próprio se encarregou de badalar mais rápido que a própria sombra, que também envolve disparar, e podem ficar lá muito bem descansados nos grupos do WhatsApp e Telegram e nas páginas do Facebook, e tal, a tecerem loas ao Ventas e ao Chaga e que vão matar os pretos e os ciganos e ainda meter na ordem aqueles filhos da puta monhés que andam para aí a trabalhar em trabalhos de merda, e tal, que isso e os relatórios dos fóruns e organizações internacionais que dão conta de um problema sistémico de racismo, xenofobia, homofobia nas polícias portuguesas, ainda antes do Cabrita ser ministro, para o ministro Carneiro são pinares comparado com um cartoon sobre a polícia franciu, e tal.
[Na imagem, de autor desconhecido, Eduardo Cabrita, que conseguiu estar seis anos no Governo, 4 - quatro - 4 dos quais com a tutela, e não dar por nada]
O país onde os polícias até entrarem ao serviço não sabem o salário base que vão auferir; o país onde os polícias não sabiam que ser polícia era profissão de risco, foram enganados e agora exigem subsídio compensatório; qual América numa série da FOX Crime, o país onde os polícias são abatidos na rua que nem tordos.
[Imagem no Facebook do Sindicato Nacional da Polícia]