"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Pessoas que nunca leram Naomi Klein, nas redes muito indignadas por a iluminação de Natal na baixa de Lisboa ter sido privatizada por uma administração camarária de direita e deslumbrada e desde pequenina, que é desde o tempo dos blogues, pelo american way of doing things para "poupar" o contribuinte.
Depois de postar “Com’eravamo, i giochi prima della PlayStation”, inspirado pela foto galeria do La Repubblica, ocorreu-me que já era mais que tempo de ser eu a lançar uma corrente (mais uma) nos blogues, e de uma vez por todas deixar de ser apanhado nas correntes. A minha história resumida à laia de crónica do Ferreira Fernandesjá aí está, disponível nas bancas. Vou assim desafiar 5 camaradas da blogosfera a contar como eram as suas brincadeiras em tempos que já lá vão; antes da PlayStation.
São eles o Teófilo, a Sofia, o Jorge Ferreira, a Shyznogud, e o Mário; vá, digam como era, isso de ter um blogue não é só re-béu-béu político; e de caminho vão chatear mais cinco!
Em meados da década de 60 do século passado, os meus pais que viviam em pleno coração a cidade de Setúbal, mais concretamente na Rua de Santa Catarina, uma transversal à Avenida 5 de Outubro que faz a ligação à Praça de Bocage, mudaram-se para uma então nova urbanização, próxima do Cemitério de Nossa Senhora da Piedade, agora conhecido como cemitério velho. À época aquilo era “bué, bué de longe!”; um descampado no fim-do-mundo; agora são 5 minutos a pé até ao centro do burgo… Foi aí que passei a minha infância e grande parte da adolescência.
Tempos em que saíamos de casa pela manhã e regressávamos ao fim da tarde, sem os pais entrarem em stress com pedófilias, raptos, roubos, acidentes de automóvel e outras coisas que tais. Lançar papagaios de papel nas escarpas de Santos Nicolau, jogar ao berlinde e ao peão; ao apanha e ao ró-ró e ao lá-vai-alho; ir ao banho em cuecas à Doca do Comércio e, na volta para casa, tomar um duche de água doce na Fonte do Bairro das Fontaínhas, de modo a que as nossas mães não dessem pela salmoura nos cabelos; jogar grandes futeboladas muda aos cinco e acaba aos dez na Rua Estevão de Liz Velho ainda sem alcatrão; apanhar lagartos e pardais na Quinta da Rendeira; descer a Ladeira das Fontaínhas em carrinho de rolamentos; ir à fruta à Quinta de São João e ao pomar das Águas da Bela-Vista, onde agora é um gueto de ex-habitantes dos bairros da lata e de descendentes de imigrantes dos PALOP.
Éramos reis, cavaleiros, cóbois, piratas, bandidos; o Zorro, o Tarzan, o Errol Flyn, o John Wayne, e até o Bruce Lee. Eram os tempos antes da PlayStation e do Canal Panda.
É desses tempos que fala a foto galeria do La Repubblica. Aqui.