"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
No espaço de uma semana António Costa passou de estar a três deputados da maioria absoluta, com a esquerda em maioria no Parlamento, segundo sondagem da Pitagórica, para o homem que vai atrás de Rui Rio com a direita em maioria no hemiciclo, segundo uma tracking poll num universo de 180 eleitores, apresentada por uma televisão - a CNN Portugal, ex TVI24, como se de uma sondagem se tratasse, com a imprensa com agenda, onde a fronteira entre jornalismo e comentariado não existe, prontamente a dar eco do feito, e com mobilização geral dos milhares de perfis nas redes a fazerem alarde da boa nova. Assim se inventa uma dinâmica de vitória e se manipula uma parte do eleitorado, dos indecisos aos abstencionistas.
Mas depois a gente vai ler a pergunta colocada e vê uma manipulação grotesca das conclusões para compor o título da propaganda governamental "notícia". Não vai ser preciso muito engenho à Pitagórica para concluir que 50 e tal por cento dos funcionários públicos concordam com os cortes propostos pelo FMI para a Função Pública ou que mais de 50% dos utentes dos hospitais apoiam um aumento substancial das taxas moderadoras.
Não é que seja de todo surpreendente ver o PS de António José Seguro a descer nas sondagens, ele põem-se a jeito, como sói dizer-se. A surpresa é ver os dois partidos da maioria a subir. Mas como tenho um "problema" com a memória, não me consigo esquecer das coisas nem por nada…
A gente fica a perceber como e porque é que os cidadãos elegeram para primeiro-ministro um penteado com voz, a gente só não consegue perceber é como e porque é que os cidadãos caem duas vezes seguidas no mesmo logro.