"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O mais interessante nesta ida de Pires de Lima para o Bank of America Merrill Lynch e de Adolfo Mesquita Nunes para a Galp é a contratação por empresas e grupos privados de agentes políticos e ex-governantes sem experiência na área nem curriculum para os cargos que vão ocupar e as funções que vão desempenhar, depois de terem passado a vida a vender-nos a ideia do supremo valor e da virtude da iniciativa privada e da urgência em aliviar o peso do Estado na economia, como se fossemos todos muito burros e ninguém percebesse o factor "porta giratória" e aposta a médio e longo prazo na inevitável alternância política governativa. Salazar era mais honesto, tinha o "condicionamento industrial".
Paulo Portas que na campanha eleitoral veio insinuar que os empresários só estavam à espera de saber se ele e o brother-in-arms Passos Coelho seriam reeleitos para decidir dos investimentos na economia, na economia que cria emprego, do emprego que cria riqueza, da riqueza que traz bem-estar às pessoas e crescimento económico ao país, blah-blah-blah, assim mesmo, tudo chavões em modo Twitter que entram nas orelhas dos mais distraídos e fazem as delícias da comunicação social câmara de eco, só precisou de esperar 4 – quatro - 4 dias para ter a resposta dos empresários, que investem na economia, que cria emprego e coise. Foi tiro e queda.
De uma coisa ninguém pode acusar o CDS, que é a de não ter um modelo de "desenvolvimento" económico para o país. Ou quando Pires 'soldado disciplinado' de Lima, pelo S. Martinho de 2013, anunciou no Parlamento investimentos na ordem dos 150 milhões de euros, 120 milhões pela Portucel e 26 milhões pela AMS Goma Camps, pensavam que os castanheiros iam ficar en su sitio, a dar castanhas para acompanhar a água-pé, e que os eucaliptos vinham por mar, importados em porões de navios, ou que, pelo contrário, se iria liberalizar a plantação do eucalipto e assistir à eucaliptização do país, do Minho ao Algarve?
O ambiente, a biodiversidade e o ordenamento do território têm de ficar para depois que a prioridade é fomentar a desertificação do terrirtório e desertificação humana e aumentar a mais-valia aos accionistas é tirar o país da crise e criar emprego. Os incêndios ficam por conta do Orçamento do Estado que por sua vez fica por conta do bolso do contribuinte.
Adenda: Há dados relativos ao emprego criado pelo investimento de 150 milhões de euros por parte das empresas de celulose? Há dados sobre qual a percentagem da riqueza criada por esse investimento de 150 milhões de euros que foi aplicada novamente na economia e sobre qual a percentagem que foi distribuída pelos accionistas?
Paulo Portas, vice-trampolineiro, vai dizer que a troika queria aumentar o IVA para 23, 50% ele, Viriato 2014, é que bateu o pé aos ocupantes estrangeiros, não deixou, vai ficar nos 23, 25%.
Pires de Lima, o soldado disciplinado, está a puxar lustro às botas para a formatura.
A presença de Rui Machete, à frente de um ministério incolor, inodoro e inócuo, é o rebuçado suficiente para calar o PSD "profundo", face ao "elevador social" de 12% de CDS no Governo?
Outra million-dollar question, não menos importante, é o que leva a que os "cabelos brancos", e respeitados [no círculo do arquinho e balão da governação à direita] de Rui Machete, em menos de um fósforo, passem a "cabelos Sonic", e desarvorados, ao aceitar embarcar num barco sem mastro, com rombos do porão ao convés, e com o Imediato na roda do leme? O "espírito de missão e sacrifício" explica tudo?
Está encontrada, e apresentada ao consumidor, a nova "Fórmula PP", de Paulo Portas. Enquanto o chefe contínua no Governo, prenhe de responsabilidade e de "sentido de Estado" patriótico, outro, do seu círculo mais chegado para matar possíveis veleidades oposicionistas internas, faz o papel de oposição ao Governo, na defesa das vítimas da fome e dos famélicos da terra, como no hino. Até quando é que isto vai colar?