"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Os "40 anos disto", a hastag que nos últimos cinco anos tomou conta do Twitter, começaram quando Pinto da Costa passou a Jorge Nuno Pinto da Costa. André Villas-Boas ainda não é Luís André Villas-Boas. A incógnita é se quer ir por aí.
Só um irracional e profundo ódio a "Lisboua", à moirama, pode explicar as bojardas de alguém que anda há dezenas de anos no futebol e conhece como ninguém o comportamento dos adeptos bifes nas deslocações ao estrangeiro e a países sem restrição de venda de bebidas alcoolócias.
Portugal, segunda década do século XXI: Jorge Nuno Pinto & Pedro Ferraz, da Costa, todos os dias nas televisões, em todos os telejornais. Do que é que nos queixamos concretamente?
O primeiro-ministro, ou o ministro das Finanças, ou outro ministro qualquer que dê jeito invocar, não pode ter um clube do coração para não ofender o presidente de um clube regional que janta todos os anos dentro da casa da democracia com os deputados eleitos da nação.
Justiça poética é os dois clubes que no final da época passado se uniram para "tirar a arbitragem da alçada do Benfica" serem agora os principais [supostamente] prejudicados pela nova arbitragem saída da aliança com o Diabo e todos contra o Benfica e apesar de só os burros falarem de arbitragem e da nova arbitragem registar melhorias elogiáveis e do novel Conselho de Arbitragem estar a fazer um bom trabalho.
O patrão/ accionista, num acto falhado de gestão, contrata um administrador para um departamento da empresa que, além de incompetente, é arrogante, conflituoso, por um complexo de superioridade desrespeitador da concorrência e sem um mínimo de humildade para reconhecer as suas incapacidades e limitações, falhando todas as metas e objectivos definidos pelo contratante, apesar de ter ao seu dispor os recursos técnicos e humanos exigidos e exigíveis, mas a turba, acéfala, é levada a canalizar a raiva e a direccionar a fúria e a frustração contra os meros trabalhadores colaboradores da empresa que se limitam a cumprir ordens [trabalhar mais horas, com mais empenho, menos folgas e feriados, redução salarial], ilibando com isso o topo da hierarquia – o patrão/ accionista das más decisões tomadas e dando-lhe um voto de confiança para continuar com o acto de gestão falhado.
O verdadeiro diagnóstico neoliberal aplicado ao futebol:
E Luís Filipe Filipe Vieira, não tem nada a dizer? Já lhe passou o afã da moralização do futebol? Deu por encerrada a cruzada contra a corrupção e a promiscuidade no pontapé-na-bola?
"Nunca tive, em 50 anos que joguei na bolsa, uma acção do BES. Vi as acções descer e ouvi o primeiro-ministro dizer que o BES era um banco seguro, que tinha uma almofada para pagar o dobro das dívidas que tinha. E quando ouvi o Presidente da República, mais palavra menos palavra, a dizer o mesmo, eu, que confiava no que eles diziam, pela primeira vez, e como muita gente, fui comprar acções do BES".
Quase uma semana passada desde que o huno Christian Fischer representou, no Esprit Arena de Dusseldorf, a morte mais espectacular da história desde que os filmes de caubóis eram rodados em Almeria, Espanha, e ainda nenhum jornalista foi, a correr, de microfone estendido, para que Sua Excelência, O Senhor Jorge Nuno Pinto da Costa [o pormenor das maiúsculas] dissesse de Sua Justiça, desse largas ao ódio e acirrasse os hooligans, com aquilo que eufemísticamente se convencionou chamar de "sentido de humor". What the fuck?!?
Por uma vez estamos todos de acordo, tem razão o senhor da Costa, e sabe do que fala. Já tudo foi inventado. Como na canção, "já não há nada de novo aqui, debaixo do Sol".
Pinto da Costa, que há 18 dias dizia não analisar arbitragens, dedicou a flash interview a analisar a arbitragem para, no fim da análise, dizer que não analisava arbitragens, e continuar logo de rajada com a sua análise à arbitragem, não se inibindo de fazer um desvio até Barcelos para analisar a arbitragem do Gil Vicente vs. Sporting, antes de seguir em paz para a sua terra natal, e depois de sublinhar mais uma vez que não analisava arbitragens. Ainda um dia hei-de perceber a razão de Pinto da Costa ser o único presidente de um clube de futebol a ter direito a flash interview, antes, durante e depois dos jogos, independentemente de analisar ou não analisar arbitragens.
Adenda: Pinto da Costa tem razão, Eduardo, o guarda-redes do SL Benfica, estava a colocar "Hulk!-Hulk!-Hulk!" em jogo. Roubo na Catedral.
O senhor aparece com o jornal, o das primeiras páginas combinadas de véspera ao telemóvel com o conhecimento do Antero, com o cabeçalho estrategicamente bem virado para as câmaras de televisão, e eles todos vai de correr atrás de microfone estendido, na entrada do aeroporto, na saída do aeroporto, na entrada da inauguração da casa, na saída da inauguração da casa, na entrada do treino, na saída do treino, na entrada do casino, na saída do casino, na entrada do tribunal, na saída do tribunal, ah e tal muito sentido de humor, é único, humor muito inteligente, sim senhor, muito subtil o humor e tal, um senhor. E não falou do SL Benfica e de Lisboa e do bairro da Mouraria?
Entretanto o sindicato faz-se despercebido. Quem precisa de quem? Para a stand-up temos o Nilton e o Nogueira e o Herman mesmo velhinho. E sabem usar o pretérito perfeito.
[Imagem Stanley Kubrick’s Chicago, 1949, Lingerie model wearing a girdle and strapless bra smoking in an office in the background a woman sits at-a desk]