"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Uma vez vi, salvo erro no canal História, um documentário sobre uma empresa norte-americana especializada em mudar imóveis de local. Desde uma cabine telefónica a uma mansão, tudo mexe. Até uma catedral com quase 200 anos andou uns quilómetros para o lado (com padre e tudo!) para facilitar o traçado de uma auto-estrada.
Ora se quem, na prospecção de petróleo e gás e de novos mundos negócios ao mundo ao negócio não salvaguardou "uma área de protecção" à Liberdade, à Democracia e aos Direitos Humanos em terras do Magrebe e do norte de África, quem nos garante a nós que vai respeitar um monte de pedras, velhas do séc. XII? Contrate-se já os amAricanos da mobilidade e pregue-se com o mosteiro em Alfeizerão!
(*) Ou o estranho caso da Geografia de pernas para o ar (negrito meu):
«Bush, a CIA, o Pentágono e a Wall Street, cobiçavam (e cobiçam...) o petróleo do Próximo Oriente do qual a porta de entrada é o Iraque e o corredor central o Afeganistão»
O movimento xiita de Moqtada al-Sadr afirma-se contra a lei. Antes tinham sido os grupos sunitas e curdos. Os curdos dizem que estão contra porque não foram consultados antes das últimas alterações. Os sunitas do Partido Frente da Concórdia idem idem, aspas aspas; também alegam não terem sido consultados para a versão final da lei. O argumento comum a todos eles é que a lei permite que empresas dos países ocupantesvenham a explorar os recursos petrolíferos do País. Maliki, o Primeiro-Ministro, diz que a Lei do Petróleo é uma das prioridades do seu Governo. A Casa Branca alinha pelo mesmo diapasão. Temos assim que uma lei a aprovar pelo parlamento iraquiano com carácter de urgência tem toda a oposição (que é a maioria do Parlamento) contra, contra o apoio do Governo e… da Casa Branca. O que levanta a interrogação sobre a real importância do parlamento iraquiano e onde é que realmente a Lei foi elaborada, se em Bagdad se em Washington. No meu tempo isto tinha um nome: “Governo-Fantoche”; e dou comigo a pensar para com os meus botões, defensor que sou dos princípios da independência nacional e da não-ingerência, se fosse iraquiano, não seria também um acérrimo simpatizante do terrorista al-Sadr…
Para ajudar à festa, o ministro australiano da Defesa abriu a boca para dizer em entrevista à ABC que o Iraque é “um importante fornecedor de energia, petróleo em particular, e os australianos precisam de pensar no que aconteceria com uma retirada prematura”. Quem diz os australianos diz os americanos e os ingleses. Gradualmente as suspeitas sobre as reais intenções por detrás desta guerra vão ganhando contornos nítidos e definidos…
Continua a ser gratificante saber que todos os dias morrem soldados americanos no Iraque em prol de uma causa tão nobre como o é a do Petróleo. Ou como diz o meu amigo Zé (não é o do cartaz!), “Devem ganhar esta guerra mas é no dia de São Nunca à tarde!”
Segundo a edição de ontem do The Independent (link no blogue, secção jornais); empresas britânicas e americanas (BP, Shell e Exxon), vão dividir entre si nos próximos 30 anos, 75% do petróleo iraquiano.
Após a invasão do Iraque, o único Ministério a não ser pilhado por ter tido honras de guarda aliada, montada à porta, havia sido o do Petróleo.
Agora e, definitivamente, a máscara caiu. O petróleo, como verdadeiro casus belli, surge como a única verdade, na teia de mentiras que se transformou o Iraque.
O outro lado da questão é saber se, numa zona energética estratégica em que, todos os recursos petrolíferos nos Estados circundantes, estão nas mãos de ditaduras ou de monarquias absolutistas; com uma crise energética Rússia / EU em escalda ascendente, até onde irá a defesa dos princípios de não-ingerência e independência nacional tão caros à Europa, face a um bónus desta natureza.