"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"A minha política é o trabalho" era a máxima salazarenta usada para manter a carneirada arredada da coisa pública porque "para pensar está cá o chefe" e "manda quem pode e obedece quem deve".
Os imbecis que vibraram com o golo do Éder na final do Europeu, com as medalhas de Nelson Évora no atletismo, com Jorge Fonseca campeão do mundo a levar os adversários ao tapete, com as jogadas e os golos de Eusébio no top 10 das melhores da história do futebol, com Cristiano Ronaldo na final da Champions a receber a medalha de campeão da Europa com a bandeira nacional a servir de capa ao lado dos colegas de equipa, também cada um deles com a bandeira do país de origem, que enche o Pavilhão Atlântico para cantar "Ó Gente da Minha Terra" com a Mariza e que anda na rua a "Chamar a Música" da Sara Tavares são já nove mil a assinar uma petição pública para impedir a tomada de posse de Joacine Katar Moreira, primeira afro descendente a chegar ao Parlamento, porque na noite da celebração alguém empunhava uma bandeira da Guiné-Bissau.
Os abaixo-assinados, conhecedores do que foi a ditadura do Estado Novo, manifestam, em nome próprio e no da memória de milhares de vítimas do regime – de que Salazar foi principal mentor e responsável – , o mais veemente repúdio pela criação do Museu Salazar, recentemente anunciado pelo Presidente da Câmara de Santa Comba Dão. Apoiam a carta dirigida a Vossa Excelência, no passado dia 12 de Agosto de 2019, por 204 ex-presos políticos, apelando ao Governo para que intervenha no sentido de impedir a concretização de um tal projecto que, longe de visar esclarecer a população e sobretudo as jovens gerações, se prefigura como um instrumento ao serviço do branqueamento do regime fascista (1926 - 1974) e um centro de romagem para os saudosistas do regime derrubado com o 25 de Abril.
O que vai valendo é que vivemos numa democracia, pelo menos formalmente, e cada um é livre de dizer as asneiras que lhe passem pela cabeça, assim como é livre de beber café, chá ou laranjada, com mais ou menos açúcar, sem açúcar nenhum, e até é livre de vestir a pele de PIDE alimentar e fazer petições públicas para os famosos warholianos minutos de fama nas televisões e nos jornais.
E canalizar as energias para ter uma vida sexual saudável, não?