"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
A PETA - People for the Ethical Treatment of Animals – em carta enviada à banda pop/ electrónica de Neil Tennant e Chris Lowe - Pet Shop Boys -, pede-lhes que mudem o nome para Rescue Shelter Boys como forma de protesto contra as cruéis condições de tratamento dos animais em muitas lojas de venda.
Inicialmente denominados West End (região de Londres de onde são originários), acabariam por mudar o nome para Pet Shop Boys por causa de uns amigos de Chris que trabalhavam numa loja de animais de estimação (Pet Shop).
“ (As agências de comunicação) devem ser apenas entidades que sabem, através de estudos, quais são os anseios das populações, dos públicos-alvo e preparam a informação, com base na verdade, para dar a esses públicos.”
António Cunha Vaz
Há qualquer coisa de Pet Shop Boys nesta entrevista de António Cunha Vaz à P2. António Cunha Vaz vs. Neil Tennant. Passo a explicar.
No início da década de 80, Neil Tennant, crítico numa revista “manhosa”, de nome de Smash Hits, pensou para com os seus botões que, ao invés de andar a perder o seu precioso tempo em críticas a bandas e interpretes, identificando-lhes os erros e apontando-lhes o caminho para o que considerava a “pop perfeita”, melhor era formar a sua própria banda e aplicar na prática as suas teorias. Se bem o pensou melhor o fez, e, em parceria com uma obscuro arquitecto de nome Christopher Lowe fundaram os Pet Shop Boys.
O resto é história; da pop. 36 músicas no Top 20; 10 LP’s no Top 10, vendas superiores a 55 milhões de discos; duas nomeações para os Grammy Awards, e, uma conta bancária recheada.
António Cunha Vaz não exclui a possibilidade de entrar na política. Para mandar; diz ele. Porque está farto de estar na sombra; leia-se de delinear estratégias para os outros seguirem. Tal qual Neil Tennant. E, como também já tem o seu Grammy Award na prateleira – a eleição de Carmona Rodrigues em Lisboa – não exclui a hipótese de se lançar noutros voos.
Só que, à imagem dos Pet Shop Boys de Tennant, António Cunha Vaz arrisca ficar para a história da política em Portugal como uma nota de rodapé. É assim a pop. Muita facturação; sem dúvida. Do ponto de vista estético, um formato irrepreensível. Conteúdo igual a zero. Por acaso, e para o caso, até me estou a lembrar de uma canção da pop portuguesa. Chiclete dos Táxi. “Mastiga e deita fora”.
Eram nulas as expectativas em relação ao congresso do PS.
Sócrates eleito secretário-geral com mais de 85 % dos votos.
A moção levada a congresso com maior número de votos era também a do secretário-geral.
A somar a isto, a maior maioria absoluta de sempre no parlamento.
Sócrates que apesar da idade revela uma astúcia politica digna de um Mário Soares dos “bons velhos tempos”, aproveitou com eficácia o tempo de antena dispensado e transformou o que seria o congresso do PS, no comício do Partido do Governo.
Neste plano, Helena Roseta e Manuel Alegre com as suas intervenções criticas a alguns aspectos da governação, caíram que nem ouro sobre azul na estratégia de Sócrates. È que involuntariamente, no teatro de Santarém, foram os actores que faltavam para preencher o lado esquerdo do palco, o toque de maquilhagem que faltava ao Partido para passar a ideia que não renegou nem o nome nem as origens.
As expectativas (se houveram) de confronto interno estavam mais no lado das Oposições, talvez com uma secreta esperança de ver assumido em Santarém, por parte dos militantes do PS, aquilo que elas próprias não conseguem fazer no Parlamento.
Um governo em exercício, com o ímpeto reformista que se lhe reconhece, alguém esperava da parte do partido que suporta o executivo um acto de haraquiri político?
Salvou-se a banda sonora. “Go west”, Pet Shop Boys.
Vox Populi: Palavras de Luís, vendedor no mercado grossista que se realiza todos os sábados em Santarém, esta semana coincidente paredes-meias com o congresso do PS, ao “Diário de Noticias”: “Estão lá como nós aqui, a ver se enganam alguém”.