Do jornal Público; do capitalismo; dos pequenos e grandes accionistas
por josé simões, em 16.01.08
“Desde o início que a candidatura de Cadilhe foi vista como uma ousadia quixotesca e o resultado de ontem dá crédito a essa perspectiva. Mas num país onde tratar da vidinha é regra, é bom saber que há quem seja capaz de correr riscos e enfrentar as maiorias. Cadilhe fê-lo. Por isso foi o herói dos pequenos accionistas fartos de manobras de poder.”
Sobe e Desce na última página do Público
É censurável “tratar da vidinha”? Não; desde que seja feito dentro das regras da transparência e da legalidade.
Uma pergunta inocente: Cadilhe quando foi forçado a demitir-se de ministro das Finanças de Cavaco Silva, foi devido a uma cabala orquestrada pelo Independente, ou foi por andar a "tratar da vidinha"?
“O ex-presidente da Caixa foi eleito por um número muito mais reduzido de accionistas, que no entanto, detêm muito capital do BCP. Já Miguel Cadilhe era o “candidato do povo”, dos pequenos accionistas. Cada accionista de Santos Ferreira tinha, em média, 83 vezes o capital de cada accionista de Cadilhe.
As regras são mesmo assim. Em democracia, votam as pessoas. No capitalismo, vota o dinheiro.”
Editorial do Público assinado por Paulo Ferreira
Faz algum sentido falar em “candidato do povo”, num banco que teve na génese da sua fundação o renascido capitalismo português nos anos de Cavaco Silva primeiro-ministro, e cujo principal objectivo era mesmo esse, fugir ao espartilho da “banca da ralé”?
Anda tudo esquecido que após a fundação do BCP era impossível ao cidadão comum ter uma conta no banco devido aos plafonds mínimos exigidos, e que essa situação só foi ultrapassada com a criação da Nova Rede e mesmo assim com uma forte campanha de marketing; usando como alavanca o concurso Preço Certo; com a arte de Carlos Cruz?
Qual o objectivo do Público ao martelar sempre na mesma tecla dos “pequenos accionistas”, num banco que nunca foi “dos pequenos”, e onde “os pequenos” desempenham o mesmo papel que os não-sei-quantos-mil que correm a maratona de Londres ao lado das vedetas do atletismo mundial; para enfeitar?
O que a candidatura de Cadilhe demonstra é que é extremamente fácil fazer o “povo dançar”. Assim se saiba tocar a música que o povo quer ouvir. Ontem Cadilhe e os “pequenos accionistas” trouxeram-me à memória, a assembleia da OPA da Sonae sobre a PT, com Berardo a ser aplaudido pelos sindicatos e pelos “pequenos accionistas”.
Já agora: não é só no capitalismo que a uma pessoa não equivale um voto. Também no Benfica, por excelência o “clube do povo”, assim o é.
(Foto roubada na Time Magazine)