"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O inestimável e impagável trabalho que o jornal do militante n.º 1 está a fazer para descredibilizar de uma vez por todas toda e qualquer investigação que venha a ser feita a paraísos fiscais.
A liberalização do eucalipto levada a cabo pelo CDS, pelas mãos de Assunção Cristas em parceira com Pires de Lima, não foi suficiente [7 posts para recapitular, aqui]. Nunca seria suficiente porque a voragem depredadora dos recursos naturais comuns não tem limites. E limites tem o território nacional, que já não é do Minho a Timor. Limites tem o território nacional mesmo valendo tudo, por cima de toda a folha, persistente ou caduca. Mas é mais forte do que ele e lá teve de mandar umas bocas para se armar ao pingarelho. Não foi para Moçambique porque nos territórios ultramarinos encontra a dimensão territorial que lhe falta na Metrópole. Não. Não foi para Moçambique porque, malgrado a desvalorização do factor trabalho levada a cabo pelo Governo que não tem um modelo de baixos salários para o país, nos territórios ultramarinos a mão-de-obre continua a ser muito mais barata e por consequência a mais-valia muito maior. Não foi para Moçambique porque, malgrado a revisão do Código do Trabalho, levada a cabo pelo Governo PSD/ CDS com o aval da UGT, as leis laborais nos territórios ultramarinos são praticamente inexistentes assim como inexistente é o movimento sindical. Não foi para Moçambique porque "existe uma grande apetência por celulose na Índia e noutros mercados asiáticos", mesmo ali ao lado, diminuindo com isto os custos com os transportes. Não. Foi para Moçambique porque foi empurrado para fora de Portugal pelas preocupações ambientalistas e de ordenamento do território. Deixou de investir em Portugal se bem que nunca ninguém tenha feito o deve e o haver das promessas de investimento, do investimento efectivamente concretizado, dos postos de trabalho, directos ou indirectos, criados, comparativamente com as mais-valias arrecadadas, isenções fiscais incluídas.
Palavras para quê? É um industrial português e só usa parlapiet manhoso.
Podia ter dito que a mulher de Salvador Caetano, outro "industrial" como ele, e como ele gosta de se denominar, criava galinhas e vendia os ovos. De dia.
Que alguém que se diz "industrial" venha, em tom jocoso e depreciativo, desvalorizar outro alguém que ousa ganhar dinheiro, à noite, com o fruto do seu trabalho, ainda por cima mulher independente que dispensa o braço protector do macho, diz muito da personalidade e do carácter desse alguém.
A ver se nos entendemos, o facto de PQP ser agora inimigo de RS não faz de PQP necessariamente "nosso amigo", muito menos um exemplo e um poço de virtudes. E, visto do ponto de vista marxista da luta de classes, este eterno conflito entre os detentores do capital financeiro e os detentores dos meios de produção e que os obriga a entendimentos, às vezes pontuais e efémeros, outras vezes duradouros, quem se lixa é o mexilhão. Sempre. Venda ele bolos à noite ou ovos de dia, mesmo sem ser mulher de outrem ou irmã de alguém, para manter a cabeça e a da sua família à tona da água.