"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Diz que o criador entrou na campanha para dar uma mãozinha ao homem sem passado - "O meu passado chama-se Passos", e que entrou na campanha no Algarve por ser o sítio onde a criatura mais ameaça a casa mãe comum, o partido do criador, e passar a segunda força política. E entrou com um discurso securitário e xenófobo, a associar a imigração à insegurança e criminalidade, segundo ele "uma sensação que paira nas pessoas", em vez do discurso pedagógico alicerçado em dados estatísticos fidedignos - "Segundo as nossas estatísticas, 99% dos imigrantes vêm por bem", David Freitas, coordenador da investigação criminal da Unidade Nacional Contra Terrorismo.
E se o criador entrou na campanha na base de dar uma mãozinha ao homem sem passado acabou a potenciar a criatura que, mais rápido que a própria sombra e que o próprio Luís, veio surfar o discurso do mestre e colher os louros do elogio, "Basicamente o que Pedro Passos Coelho disse esta segunda-feira foi 'ponham os olhos no Chega'", metendo os crentes a olhar para o original e a fotocópia.
E se Passos, segundo a direita, é o federador da direita, qual é a direita que Passos federa, a que com fato grife e perfume caro enche a Praça do Município em Lisboa e o espaço do comentário "isento e independente" com as avenças nas televisões, ou os anónimos, pés rapados, excluídos do sistema, que não podem com eles nem com molho de tomate?
A direita a brincar com coisas sérias, com a liberdade e a democracia, mas a culpa há-de ser da esquerda.
O dia em que um ressabiado Passos apareceu para dizer que não tem muita fé no homem à frente do PSD, cujo passado se chama Passos e que o mais provável é que deixe o PSD atrás, foi o mesmo dia em que uma ressabiada Joacine resolveu dar um ar de sua graça, ela que nasceu para estar ali. Um teve o aplauso da direita radical, o que é uma bela profissão de fé no futuro radioso do PSD, a outra teve o aplauso dos minions do PCP de plantão nas redes, todas as migalhas contam nos amanhãs que vão cantar nas eleições de Março e nem um partido minúsculo escapa. Noves fora nada, estas aparições dizem mais sobre quem aplaudiu do que sobre os aplaudidos.
O homem cujo passado "se chama Passos" acha que o seu passado "podia dedicar-se à universidade" e que "devia investir na vida académica", por acaso apenas quatro dias depois de Passos que é passado, o seu e o dele, ter deixado escapar "estou na reserva", a avaliar um possível regresso, que o partido está entregue a uma troupe de nabos, subentende-se. Ele há coisas que contadas ninguém acreditava.
Ter Passos Coelho todos os dias em todas as primeiras páginas e em todos os telejornais, pela mão de Marcelo, o manipulador-mor do reino, esquecido de ser "cata-vento", outro valor mais alto se alevanta, em tamanho XXL no semanário do militante n.º 1, com os apóstolos a manifestarem disponibilidade permanente para pregar o evangelho, e um sorriso amarelo do homem que não tem passado, "o meu passado chama-se Passos", "será sempre motivo de satisfação", é o atestado de incompetência passado à absoluta nulidade que é o consulado de Luís Montenegro no PSD. Adaptando alguém do nosso tempo, "quando olhar para trás vai ver a sola do sapato, não vai ver a cara".
Diz que quer ser primeiro-ministro de Portugal e diz que o seu passado se chama Passos Coelho e joga com a fraca memória de quem já não se lembra das figuras que fez enquanto líder parlamentar do partido que suportava o governo da troika, primeiro como figura de ponto que deixava as dicas para o líder discorrer longamente sobre asvirtudes e bondade do acto governativo, depois com os números de contorcionismo na defesa do "além da troika".
Deu de novo à costa a fazer o que o definiu e caracterizou enquanto político, exímio na arte de apontar aos outros os defeitos de que padece e o radicalismo de que padece. O maior cego ideológico da história da democracia portuguesa. O tempo volta para trás?
O fabuloso governo de Pedro Passos Coelho, do não há dinheiro para nada, nem para a saúde, pública, nem para a educação, pública; do "fazer mais com menos", do "aliviar o peso do Estado na economia"; da "liberdade de escolha" das famílias, traduzida na liberdade de escolha das escolas; da excelência do privado, traduzida na retirada de competências ao Estado para as entregar ao sector privado, subsidiadas pelo Estado; da duplicação de serviços pelos privados, subsidiados pelo Estado em áreas onde o Estado já existia; da "gordura do Estado" traduzida no emagrecimento do rendimento mensal das famílias para ainda assim "baixar os custos do trabalho foi a reforma que ficou por fazer".
"Ex-ministro da Educação vai depor a favor dos colégios contra os cortes nos contratos de associação na batalha judicial que se avizinha. Aos tribunais podem chegar “dezenas de acções” nos próximos dias."
"Foi uma derrota em toda a linha a sofrida pelos colégios com contratos de associação na guerra jurídica que, em 2016, desencadearam contra o Ministério da Educação (ME): 55 processos judiciais concluídos, 55 decisões favoráveis às posições do ME que levaram a restrições no financiamento do Estado àqueles estabelecimentos de ensino particular."
Um gajo que teve mais-valias em acções não cotadas em bolsa, se esquece do sítio onde guardou a escritura da casa e que, enquanto governante, criou um inner circle que vai desde banqueiros corruptos a suspeitos de assassinato, junta-se em abaixo assinado contra aulas de Educação para a Cidadania a um gajo que fundou empresa única e especificamente para sacar dinheiro dos fundos comunistários, não se lembra do ordenado que recebia nem que era obrigatório descontar para a segurança social. Pelo meio recebem a assinatura solidária de um gajo que não declara ao fisco o dinheiro entrado em caixa [esmolas e donativos] nem paga IMI dos prédios de que é proprietário. Estas coisas não se inventam.
Depois de termos ficado todos a saber que António Mexia não é do PS, pelo silêncio dos minions da direita radical e liberal, 24 horas/ dia de plantão às redes, e pela ausência de comentário por parte dos comentadeiros avençados e com emprego para a vida nas televisões do cabo, ficamos agora também a saber que Artur Trindade não é socialista, nem sequer tem filiação partidária e foi secretário de Estado de um Governo incolor e inodoro, nem o seu primeiro-ministro à época tem alguma coisa a ver com o caso, aos contrário de outros primeiros-ministro que sabiam sempre de tudo, se não sabiam, tinham obrigação moral e ética de saber, e se dizem que não sabiam é porque estão a mentir com quantos dentes têm na boca.