"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O grande embate vai ser entre José Luís Carneiro, um gajo do PS do "sentido de Estado", que nem 4 meses são passados sobre o spam cartoon da Cristina Sampaio e já anda por aí todo lampeiro a dizer que viabiliza governos do PSD, só para a direita aplicar políticas com a assinatura PS, que aplicaria na mesma com o apoio do Chega sem a subserviência dos alegados socialistas, e entre a next big thing do PS de esquerda, facção Play-Doh, um gajo que em pleno século das alterações climáticas, do aquecimento global e do degelo, aparece nas televisões, inchado que nem um pavão, a anunciar aeroporto em zona a ficar submersa num futuro mais próximo que o desejável, pelas águas do oceano a ocupar um Tejo que secou, para 24 horas passadas levar um puxão de orelhas do chefe em público, meter o rabo entre pernas e continuar no Governo como se não fosse nada com ele.
Montar um circo mediático do caralho com o regresso de Pedro Nuno Santos à bancada parlamentar, manadas de alegados jornalistas cada qual com a pergunta mais estúpida na boca, digna do maior coice como resposta, dezenas de minutos nisto, merdas que não interessam para nada ao cidadão comum, para dias depois, nos telejornais das noites de domingo, termos os comentadores avençados, cada um com menos vergonha na cara que o outro no outro canal, a concluírem a existência de um partido dividido, dois partidos dentro do partido, o partido do Costa e o partido do Pedro Nuno.
Diz que a notícia da morte da futura ex next big thing do PS, Pedro Nuno Santos, é manifestamente exagerada uma vez que meteu a TAP e a CP a darem lucro. Em menos de um fósforo foi o spin que caiu nas redes assim que se saiu a notícia dos resultados dos dois buracos sem fundo suportados pelo contribuinte com o nome de empresas de bandeira. "Sobre a Terra, sobre o Ar", agora que alguns falam em alterar a letra do hino. Porque é exactamente disto que a esquerda precisa, de um trafulha, de um pantomineiro, com lapsos de memória, caixas de e-mail e whatsappadas por medida, mas que consegue meter empresas de transportes a darem lucro com o dinheiro do contribuinte, enquanto inferniza a vida a passageiros e trabalhadores sem lhes dar soluções nem resolver problemas. Parabéns e passo.
Já nos aconteceu, irmos jantar fora, a um bar beber uns copos, e no dia a seguir ninguém se lembra, "quanto é que deixei de gorjeta ao empregado? Um euro, um euro e meio, uns tremoços que andavam aqui ao trambolhão na carteira? Não me consigo lembrar...". Assim foi com o ex-ministro Pedro Nuno Santos, tomou conhecimento dos 500 mil à camarada de partido mas no dia a seguir já não se lembrava. Quinhentos mil, número redondo, coisa que não lembra nem ao Musk nem ao Bezos. E não só não se lembrava como não achou esquisito uma empresa em reestruturação, com dinheiro do contribuinte e com os salários dos trabalhador... colaboradores a levarem uma talhada, dar tamanha gorjeta. Se calhar para a senhora não ter de pagar Louboutinis a prestações e fazer figuras miseráveis em tomadas de posse. Vá lá que que há WhatsApp para dar conta a ministros de minudências na vida de ministros. E com fita de tempo, coisa que não há na fita da registadora do restaurante ou do bar, não consta a gorjeta deixada, ficamos sempre com um peso na consciência pela dúvida de não termos sido suficientemente justos para com o garçon. Diz que Pedro Nuno Santos é a next big thing da esquerda à direita do Bloco. Prazer em conhecer.
A última bolacha no pacote da esquerda à direita do Bloco foi-se embora, com seis meses de atraso mas foi, desde a ópera-bufa da localização do novo aeroporto, onde desempenhou magistralmente o papel de baixo bufo que lhe foi atribuído por Costa, até à rabula dos poucos por cento detidos na marroquinaria do pai. Há quem lhe augure grande futuro, mais créditos no partido e na política, se calhar na base do "há muita fraca memória na política e nos políticos" celebrizado pelo malogrado camarada de partido, Coelhone. Tudo é possível, até espinha dorsal ou falta dela.
Na ópera-séria, o também baixo-bufo importado à ópera cómica, Marcelo, que o Baldaia no diário do Marco Galinha diz saber "distinguir corretamente o que é a "bolha mediática" do que é o sentimento do povo", a mesmíssima coisa que o pantomineiro do pin tinha deixado plasmado há oito anos nas teses ao XXXV congresso do partido, "um catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político", se por estas alturas o vento estivesse a soprar para o lado de São Caetano à Lapa já o Costa estava com um pontapé à Jorge Sampaio no traseiro, o tal golpe com que a direita não se cala e que mete Santana em modo Menino da Lágrima de todas as vezes que a ocasião lhe parece propícia para o calimerismo, de Calimero, a tal direita que agora apela a Marcelo para dissolver o Parlamento, o da maioria absoluta. Há golpes e golpes, golpes bons e golpes maus. Como cantavam Os Azeitonas, "anda comigo ver os aviões".
Ontem o ministro tinha falado em nome do Governo. Está lá tudo, é ir à box e puxar atrás. O ministro não ia falar em nome do Governo sem autorização do primeiro-ministro. E o que aconteceu é que estava tudo decidido mas não era para ser falado. Uma maioria absoluta suporta um Governo, o Governo governa e decide com base em pareceres e estudos técnicos e ambientais facultados pelas entidades competentes, o líder do maior partido da oposição ser chamado é para português ver. Ou para entalar. E era para entalar Montenegro mas saiu o Santos entalado. O que para Costa deve ser igual ao litro. Por sua vez Marcelo não tuge nem muge, afinal Costa e metade do PS apelaram ao voto nele. E o congresso do PSD que ia ser uma sessão de masturbação colectiva ganha um interesse inesperado.
E assim, com uma frase seca, numa ocasião onde é suposto a intriga política e partidária não ter espaço, se desmonta mais uma pantominice de António Costa.
O problema dele, nosso, o problema com o ministro Pedro Nuno Santos é acreditar piamente no que diz, no que nos diz, sobre a TAP. Abre a boca e a gente vê que é mesmo aquilo, o homem é genuíno nas convicções, não há ali teatro nenhum. Ao contrário do "antecessor", secretário de Estado Sérgio Monteiro, que vendia banha da cobra em todos os mercados, a dizer-nos olhos nos olhos, sem pestanejar, que uma pedra era um pau, e a seguir vendia a mãe se disso tirasse proveito.
Eram manifestamente exageradas as notícias que davam conta da morte do velho PS, trafulha, da clientela política ligada ao pato-bravismo da construção civil à sombra do Estado, à especulação imobiliária, aos interesses privados que dão sempre na porta giratória público-privado-público, que se entreteve a negociar com a Vinci a localização do aeroporto do Montijo, ignorando o poder autárquico democrático e o aeroporto em Alcochete, com o apoio das câmaras comunistas e das câmaras PS, até o PS lhes dizer que tinham de apoiar a construção de outro aeroporto, decidido pelo PS, que decidiu a lei que agora se propõe alterar porque não diz aquilo que o PS quer que diga, a chamada democracia por medida e a pedido. O PS da governação autárquica bloqueada pelo Tribunal de Contas e pelas autarquias comunistas, que por pura maldade e falta de sentido de Estado não conseguem ver a "visão socialista para a região de Setúbal" [minuto 37:40], o finalmente malfadado investimento no "Deserto do Já Mé", sem a terceira travessia do Tejo, não vá algum atentado terrorista partir o país em dois, sem a plataforma logística Poceirão-Marateca, sem a linha de alta velocidade, sem a autoestrada do Baixo Alentejo entre Sines e Beja, sem a ligação ferroviária a ligar o terminal de Sines a Espanha. Deixem o PS trabalhar!
Do tempo dos comunistas, da CGTP, dos sindicatos correias de transmissão do PCP, irresponsáveis e apostados em destruir as empresas e a economia do país, para os comunistas, a CGTP, os sindicatos correias de transmissão do PCP, responsáveis e cheios de "sentido de Estado", alguém com quem se pode negociar de boa-fé apesar de não serem conhecidos “por fazer fretes a Governos ou empregadores”. À agremiação de sindicatos de bancários e serviços, que dá pelo nome de UGT e que há 40 anos negoceia concertações sociais e assina de cruz códigos do trabalho elaborados pelas associações patronais, resta-lhe pôr-se em bicos dos pés e dizer meia-dúzia de lugares-comuns.
Podemos ver a remodelação governamental de dois prismas completamente opostos e que ainda assim se complementam:
- O da nova geração promovida a cargos de governação, ganhando currículo e experiência governativa para um futuro mais ou menos próximo;
- O do estrangulamento de que padece o PS; dos cargos directivos em circuito fechado - pais/ filhos/ maridos/ mulheres, não colocando em causa as competências das pessoas em questão, questionando antes se um qualquer outsider com as mesmas competências e capacidade consegue alguma vez atingir semelhante patamar; da imagem passada para o exterior de um partido fechado sobre si, afastando ainda mais o cidadão da política.
Que os periféricos devedores têm um enorme poder negocial entre mãos, tão grande ou ainda maior que o dos credores, e que a Alemanha é muito mais dependente da Europa e do periféricos do que o contrário. Coisa que aliás Papandréou já havia insinuado com a história da convocatória de um referendo e do pânico que tão "descabelada" ideia provocou em Frankfurt.
Só que o problema dos periféricos devedores é que a Irlanda não é a Grécia e Portugal não é a Grécia nem a Irlanda e a Espanha não é a Grécia nem a Irlanda nem Portugal e a Itália que não é nenhum deles nem nenhum dos que hão-de vir. E ninguém fala com ninguém, quanto mais concertar posições e estratégias.
O Sarko, esse, fala com a Merkel. Ou a Merkel fala com o Sarko. Que para o caso tanto faz.