"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Pedro Mota Soares, mais ponto menos vírgula, "a senhora deputada está equivocada. Em Portugal não há só dois sectores, o sector público e o sector privado. São três. Também há o sector da economia social, formado pelas IPSS e Misericórdias, que não se dedica ao lucro", é o novo "em Portugal há três estados – o Povo, o Clero e a Nobreza", sendo que o terceiro e maior estado – o povo, constituído pela classe média, funcionários públicos, assalariados vários, pequenos e micro empresários, trabalhadores rurais e trabalhadores a recibo verde, além de um grande contingente de desempregados, marginalizados e sem-abrigo, paga com o dinheiro dos seus impostos para que o clero e a nobreza tratem os excluídos e miseráveis pelas políticas implementadas pelo clero e pela nobreza em nome de uma maior qualidade de vida e de justiça social para o terceiro estado. Houve revoluções que começaram assim.
Diz Paulo Portas, com aquele ar de quem está vender a mãe aos canibais, com responsabilidade e sentido de Estado, e ainda consegue ser medalhado no dia de Portugal por relevantes serviços à Nação, que o PCP e BE no governo "não fará bem à confiança e criação de emprego". Criação de emprego.
Criação de emprego para Gabriel de Osório Barros, amigo de Paulo Portas e Assunção Cristas, de chefe de gabinete do ministro do CDS Pedro Mota Soares, para director do Instituto de Gestão Financeira do Ministério da Segurança Social, numa nomeação ilegal e sem resultado do concurso publicado em Diário da República.
Por uma vez na vida Paulo Portas falou verdade, uma ida do PCP e do BE para o Governo não fará nada bem à criação de emprego no CDS, pago pelo bolso do contribuinte.
«Jorge Bravo é economista. Na sua carteira de clientes, destacam-se os fundos de pensões e dos seguros, que há vários anos vêm defendendo um reforço dos descontos para os sistemas privados e que são parte interessada nas políticas públicas para a Segurança Social.
[...]
Mas como a vida custa a (quase) todos, o Governo pagou a Jorge Bravo para que ele defenda que a Segurança Social é insustentável. Desta vez, saíram dos cofres do Estado 75 mil euros. Mas, já em 2013, Jorge Bravo, quando a direita procurava justificar os cortes nas pensões da Caixa Geral de Aposentações (e que foram chumbados pelo Tribunal Constitucional), recebeu do Governo 40 mil euros para fabricar um papel a atestar a insustentabilidade da Segurança Social.»
O que nós gostaríamos era de ter um ministro, um só um, para o caso até podia ser mesmo o do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia de um Governo de "um país considerado rico no mundo" a lamentar num "país considerado rico no mundo" haver uma coisa chamada "Tarifa Social de Electricidade" e não a lastimar-se por a tal da tarifa continuar longe da meta estabelecida pelo Governo. Daí o outro lamento do outro do objectivo falhado de baixar o custo do preço do trabalho e a insistência em cortar 600 milhões nas pensões e reformas.
"A tarifa social não está a ter um nível de adesão tão elevado como gostaríamos"
Vão ver que não custa nada e que a meta vai ser largamente ultrapassada se continuarmos com mais 4 anos da mesma posologia, para lá de Outubro de 2015.
Já estava na hora de se fazer o deve e o haver, com números e percentagens e assim, da contribuição destes 4 anos de coligação PSD/ CDS-PP para a descapitalização da Segurança Social e para a sua insustentabilidade, no geral, e particularmente do CDS, a quem calhou em sorte o ministério com a tutela da Segurança Social, não só na sua futura insustentabilidade mas também na criação de um Estado paralelo ao Estado, pago com o dinheiro do Orçamento do Estado, para fazer exactamente a mesma coisa que o Estado fazia e faz, com o extra que é a criação e o fomento de uma nova classe de bem-instaldos na vida às custas do negócio com o infortunio e com a miséria alheia, com muita fé em Deus.
O CDS a sacudir a água do pacote por tudo isto, como se tudo isto nunca tivesse sido dito e como se não fossem juntos a votos, PSD e CDS, lá para o final do Verão.
Quanto é que custa uma gravata Hermès do vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, ou do ministro das IPSS e do Desmantelamento do Estado Social, Pedro Mota Soares, mais ou menos do que uma prestação do Rendimento Social de Inserção?
Era apenas uma "impressão", diz o outro que diz que "não é este o momento" para divulgar qual a posição sobre esta matéria. O calado vai longe, vox pop salazarenta.
O momento é o da "impressão" do ministro canalha e fundamentalista ideológico impressionar, com números estratosféricos, uma maioria que na sua maioria trabalha 8 horas por dia - oficialmente, oficialmente 5 dias por semana, para receber metade daquilo que os malandros e manhosos do RSI recebem.
O momento é o da cumplicidade entre o ministro canalha e fundamentalista ideológico, que não olha aos meios para atingir os fins [justificar o fim de subsídios e apoios do Estado, acabar com o Estado social], e a caridadezinha das IPSS, maioritariamente heterónimos da Igreja Católica, que vai, gradualmente e como quem não quer a coisa, recebendo a seu cargo aquelas que eram as funções sociais do Estado e da Segurança Social, duplicando os custos para o contribuinte e a para o erário público, criando uma classe de profissionais da miséria alheia, bem remunerados, e assessorados por uma nova-classe-nova, que está agora a nascer, a do "voluntariado à força", dividida em duas castas, a mais baixa que engloba os "voluntários" do RSI e subsídios diversos, a mais alta, o dos empregados, na sua grande maioria quadros médios, médios-altos de empresas, bem remunerados, que praticam o voluntariado em horário pós-laboral ou nos dias de descanso, porque é bem aos olhos do patrão e do accionista, socialmente prestigiante numa sociedade formatada pela opinião privada publicada para a redução de custos [nunca aumento das margens de lucro e das mais-valias] e para "dar graças a Deus" por ter uma colaboração [não um trabalho] nem que mal remunerado ou até pago em senhas de racionamento .
Mas como é "preciso aliviar o peso do Estado na economia", dizia o senhor Coelho antes de se alçar ao poder, e porque "não é o Estado que cria emprego" mas porque "o emprego só virá da retoma económica", disse o senhor Coelho, já primeiro-ministro, numa comunicação de Natal ao pagode, há ainda que "limar algumas arestas", diz a dona Ana Vieira da Confederação do Comércio, neste acordo de concertação social, assinado pela UGT e onde, curiosamente, o secretário-geral Carlos Silva não aparece a dar o bigode ao manifesto e às câmaras, se calhar ainda a digerir o António Costa do passado fim-de-semana no congresso do PS, e as arestas todas limadinhas e com os rebordos boleados era os trabalhadores a trabalharem para as empresas os colaboradores a colaborarem com as empresas com a colaboração da Segurança Social com o salário pago na totalidade pela Segurança Social, que está descapitalizada e precisa de reforma e de consenso para a reforma, diz o Governo, todo, e o Presidente do Governo, no palácio que é da República.
E a prova provada de as empresas ultrapassaram as dificuldades, recuperaram e estão a responder aos desafios, de que a economia está aí, em modo milagre, e de que "chegou o momento do investimento" é que uma medida temporária, como era a suspensão dos feriados, pode até ser antecipada, diz agora o vice-pantomineiro, em modo barata tonta, à procura de uma nova vocação para o partido do contribuinte-pensionistas-ex-combatentes-lavoura-famílias-numerosas, a adivinhar o que lhe vai acontecer nas próximas legislativas. Viva!
De 2011 a 2014, 3 – três – 3 anos de Governo PSD/ CDS, ou de coligação Passos Coelho/ Paulo Portas, como queiram, com Pedro Mota Soares, CDS-PP, aos comandos do Ministério da Segurança Social, incapaz, pelo fundamentalismo ideológico que o cega, de fazer mais do que cortar pensões e reformas, quebrando o contrato de confiança entre o Estado e os contribuintes, cortar subsídios e apoios sociais, canalizados para a indústria das IPSS, maioritariamente ligadas à Igreja Católica, com o falso pretexto de serem quem no terreno está mais próximo dos necessitados beneficiários, mais não fazendo do que engordar uma classe de intermediários da miséria alheia, a mui famosa "economia social", e duplicando funções na mesma área ocupada pelo Estado social, para agora a culpa por não haver reforma da Segurança Social ser do Tribunal Constitucional e do Partido Socialista que, de 2011 a 21014, 3 – três – 3 anos, foi ignorado, desprezado e até achincalhado pelo Governo da direita, depois de ter escaqueirado a última reforma da Segurança Social feita com pés e cabeça, por coincidência e só por coincidência, por um ministro de um Governo do Partido Socialista, Vieira da Silva, ficando agora o PS com a responsabilidade de fazer, em dueto com o PSD, a "reforma da Segurança Social" que o PSD em dueto com o CDS, por fundamentalismo ideológico não souberam e não quiseram fazer, ou então quem vier que se desenmerde lá para 2016. É mais ou menos isto, não é?