"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Porque o senhor é useiro e vezeiro neste tipo de afirmações e porque uma mentira muitas vezes dita não passa a verdade e porque esta história nunca há-de ser reescrita:
Eu sempre estive em todo o lado, e os meus pais comigo, porque sempre tive "idade suficiente para começar a compreender o que estava em causa". E a minha filha também sempre esteve em todo o lado comigo, a começar logo aos 6 anos nas manifs por Timor, porque também sempre teve "idade suficiente para começar a compreender o que estava em causa". E uns anos mais tarde o meu filho, nas descidas da Avenida no dia 25 de Abril ou, ainda em carrinho de bebé, na primeira gay pride que houve em Lisboa, quando só quem ia eram os paneleiros e as fufas, a maioria de cara tapada, porque também sempre teve "idade suficiente para começar a compreender o que estava em causa". E a "idade para suficiente para compreender o que está em causa" é como a idade suficiente para começar a andar ou a falar. É a diferença entre a cultura política de esquerda e a cultura política de direita. Depois admiram-se.
A discutir bitaites largados por um promovido do amiguismo lisboeta a comentadeiro-paineleiro com visão política para ter votado em Cavaco Silva, fazer campanha pela mudança que era Passos Coelho e que ainda há pouco tempo afirmou de viva voz que só não votou Soares Carneiro nas presidenciais de 1980 porque à época não tinha idade para votar, o visionário.
Manuela Ferreira Leite nasceu ontem para a política e Paulo Portas foi ainda há ’cadinho que viu a luz do dia; como é de todos sabido. E como nenhum deles exerceu alguma vez cargos de governação, nenhum deles tem culpas no cartório do estado do Estado e do estado da Nação - e já nem vou pelo défice 6,83% - e nem foram eles e respectivos partidos que foram duramente penalizados nas eleições que deram a primeira maioria absoluta da história da Democracia portuguesa ao PS. Como diz o outro: “Há muita fraca memória na política portuguesa”?
Adenda: Pensava eu que “populismo” era, por exemplo, no dia seguinte aos incidentes no Bairro da Bela Vista em Setúbal, Paulo Portas aparecer na baixa da cidade (não no Bairro!) a exigir mais polícia na rua e a exigir o fim do rendimento mínimo e a exigir políticas de não-imigração. Afinal enganei-me, populista é o Bloco porque não está «disposto a abandonar o discurso desbragadamente populista em função de uma solução de governo». A visão maniqueísta do populismo. O do Bloco é o “mau” populismo; “bom” populismo o do CDS que está disposto a usar o discurso desbragadamente populista em função de uma solução de governo. Recorrendo a uma velha máxima bolchevique: “Aprender, aprender, aprender sempre!”.
Nestas coisas do “populismo” o Bloco mete mais medo à Direita pensante que ao Povo anónimo. Os resultados eleitorais não se cansam de o mostrar.
Deve ter sido com isto no pensamento que Salazar lá se resolveu, por duas vezes na sua triste vida, viajar até Espanha (11 de Fevereiro de 1942, Sevilha e 15 Maio de 1963, Mérida).
E por estradas manhosas e mal-amanhadas. Por Duarte Pacheco não ter vivido o suficiente, e para Ferreira do Amaral faltar ainda meio século.
«Não deixeis nunca a cabeça e o coração nas mãos de outros, muito menos do Estado», disse Benigno Blanco, presidente do Fórum Espanhol da Família. Concordo inteiramente. Permitam-me acrescentar: nem ao Estado nem a nenhuma igreja.