"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Foi há muito tempo, foi no passado domingo, e hoje é quarta-feira e já ninguém se lembra, o Frazão, deputado eleito pelo partido da taberna, entrou em directo no ecrã do grupo excursionista Reconquista, reunido na Maia sob a batuta do Afonsinho do condado, um cromo com bigodinho gay anos 80, que não gosta de mulheres. Por uma daquelas coincidências, no dia em que a coisa começou a ser falada o taberneiro chamou os jornalistas para falar, outra vez, sobre cartazes e ciganos e sobre ciganos e cartazes, sobre a prestação do Frazão titubeou umas palavras, enrolou-se, seguiu em frente, os jornalistas também não o chatearam muito que não é para isso que eles ali estão. Não foi ele, foi o outro. É que todos os votos contam, o Frazão foi o cordeiro sacrificial, o chefe pode seguir em frente, "agora não me toca", como veio da terra dele cantar o Anselmo Ralph.
O partido das polícias e da lei e da ordem anda há 24 horas a desmentir e a desacreditar as polícias e a inventar insegurança para criar desordem. São os descartáveis na caminhada até ao poder, por mais hinos nacionais que entoem com a mão direita no coração.
Bruno Nunes, deputado eleito pelo partido que agora passa o pano das calças nas cadeiras onde antes se sentavam os doutores do CDS, inventou um esquema de legalização de paquistaneses em Setúbal, com a cumplicidade do ministério que tutela as polícias, sublinhou;
Rui Paulo Sousa, deputado eleito para ficar atrás do chefe no Parlamento a dizer "muito bem!" e "apoiado!", sentado nas cadeiras onde antes se sentavam os doutores do CDS, enquanto o ungido perora sobre todos os temas, é contra a imigração mas tem imigrantes indianos a trabalhar por conta, todos legais, não como aqueles na noite da passagem de ano no Terreiro do Paço, pela cara deles vê-se logo que entraram à socapa;
Pedro Frazão e Filipe Melo, deputados eleitos para passarem o pano das calças nas cadeiras onde antes se sentavam os doutores do CDS, dizerem "muito bem!" e "apoiado!" enquanto o chefe se desdobra a discorrer sobre todos os assuntos do dia, e para assinarem pedidos de presença de governantes em de audições urgentes e de interesse público fazem gazeta às audições pedidas. Apareceste tu? Apareceram eles.
É aqui que Luís Montenegro se propõe beber um copo de 3 caso no próximo 10 de Março a contagem dos votos não lhe chegue par se chegar ao poder.
Ontem tivemos no Parlamento um veterinário eleito deputado a comportar-se como se estivesse num chiqueiro ou num montado enquanto invocava a "liberdade de expressão" como escudo para desrespeitar a casa da democracia. Atrás de si uma pirralha, acabada de chegar do Twitter onde largou que um condenado não devia entrar na casa da democracia, emborcava garrafas de água e chamava "senil" à presidente em exercício, ela, suspeita de plagiar um discurso da italiana Meloni e que contra a lei teve como assessor o pai, suspeito de desviar dinheiro de uma IPSS, de a levar à falência e deixar 50 trabalhadores sem salário. Como diriam os espanhóis, yo no creo en sospechas, pero que las hay, las hay. O resto da bancada gesticulava, praguejava, largava apartes, fazia sons imperceptíveis com a boca em grande animação taberneira. São só 12, as últimas sondagens dão-os multiplicados por três. O último a sair apague a luz.
[Na imagem a capa de Maio da revista Texas Monthly que era o que tinha aqui mais à mão]