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DER TERRORIST

"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.

Pedir para morrer

por josé simões, em 15.11.07

 

Vi ontem o documentário da RTP1 sobre o desastre do Boeing 727 da TAP no aeroporto de Santa Cruz (Madeira), a 19 de Novembro de 1977. Nada do que vi me surpreendeu ou foi novidade para mim; recordo-me perfeitamente de à época ter acompanhado pela televisão e pelos jornais o desenrolar dos acontecimentos e, até aquelas histórias, milhentas vezes ouvir da boca de familiares que as viveram de perto, e que se safaram à justa, por só terem arranjado lugar no voo seguinte.
 
Nada do que vi me surpreendeu ou foi novidade para mim; com uma excepção: as razões, ainda que indirectas, por que cada um sobreviveu.
 
Um porque foi à casa de banho e, quando regressou, o vizinho do lado lhe pediu para trocar de lugar; ficou junto da janela, salvou-se, e quem tinha pedido a troca morreu. Outro, que ao entrar no avião, por ter sido rude e brutamente ultrapassado por uma senhora que ocupou à má fila o lugar que tinha escolhido para si e para a sua esposa, teve de se sentar uns lugares mais à frente. Salvou-se, assim como a esposa. A senhora mal-educada morreu carbonizada. Ainda outro que, trocou de lugar com um casal a pedido deste, de forma a viajarem em companhia um do outro. O casal morreu, ele ficou para contar a história e, pelo caminho, ainda salvou um puto também passageiro, de morrer afogado.
 
Não se desse o caso de ser agnóstico, desatava já para aqui a escrever sobre o “Diabo à solta” e o “Anjo da Guarda” e “Os desígnios de Deus são insondáveis”; assim resta-me o muito terra-a-terra “Ele há coisas do caraças; pedir para morrer!”.
 
(Foto surripiada no El Pais)