"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Cada vez mais a CGTP e a UGT são centrais sindicais sectoriais (Função Pública e sector empresarial do Estado) e, por paradoxal, os sectores da sociedade que malgré todos os cortes e limitações gradualmente impostos pelos sucessivos governos, continuam a desfrutar de binómio “emprego-regalias sociais” (muito) superior ao da restante população que trabalha no sector privado.
Podemos marcar 24 de Novembro de 2010, e não digo isto com nenhum sentimento de satisfação, antes pelo contrário, como o dia em que oficialmente morreu o sindicalismo português e aguardar que no futuro um qualquer José Matosso escreva a história.
(Na imagem L'Angelo della Morte, Venezia, 1963, Paolo Monti)
Longe de mim pensar que a oferta de “maisum esforço” para se conseguir a aprovação do Orçamento do Estado possa estar relacionada com os resultados da sondagem da Universidade Católica. Nada que já não se estivesse à espera. Agora a dúvida é se José Sócrates vai continuar a insistir naquilo que Pedro Passos Coelho e a “geração Atlântico” sempre recusaram fazer: subestimar o instinto político do adversário, e até que ponto vai o cabo esticar para que, quando partir (uma inevitabilidade), arraste consigo aquele que colocou mais peso do corpo na outra extremidade.
(Na imagem,15th April 1933, A group of girls playing tug-o-war in the sea next to the pier at Clacton, Essex, via Getty Images)
Agora tudo passa (ainda mais) a depender da eficácia com que as máquinas partidárias da agit-prop conseguirem passar a mensagem. A percepção que fica, ouvindo as conversas soltas nos cafés, na rua, nos transportes públicos, é que o primeiro round foi ganho por Pedro Passos Coelho. E entrou logo a ganhar, não por mérito próprio mas por “erro técnico” de José Sócrates, com a inclusão de Jorge Lacão na equipa negocial, passando para a opinião pública a imagem da omnipresença do líder, por interposta pessoa, o “controleiro”, e, por consequência, a falta de confiança no seu ministro das Finanças.
(Imagem de Al Fenn para a Time Life Pictures via Getty-Images)
O PS representa a rábula dos polícias: Assis, o policia bom, Lacão, o policia mau (que por acaso, e só por acaso, acompanha as negociações). O PSD engole o anzol. Haja paciência.
A Direita gorda e nua em cima da cama, a laranja cortada e retalhada em gomos espalhados por cima dos lençóis, olha assarapantada para a factura que vai pagar. Muito bom!
A menos que o candidato da “Esquerda Grande” esteja a pensar em Cavaco Silva himself, não se percebe o que mais possa Eduardo Catroga estar a fazer à frente da “embaixada” do PSD ao Ministério das Finanças…
Manuel Alegre em velocidade de cruzeiro rumo ao abismo:
Estou farto de tentar encontrar uma razão (atendível) para ser o dinheiro do contribuinte a pagar a renda da casa do senhor juiz que já não é “de Fora” nem de nomeação régia.
Daqui por meia dúzia de meses chega o PEC IV, porque “algo” (que nunca se saberá o quê, como se fossemos todos burros) correu mal no PEC III, que por sua vez já havia sido necessário porque, algo que nunca se soube o quê (continuamos a ser todos burros), correu mal no PEC II.
E o IV Capítulo do PEC vem acompanhado pelo bicho papão FMI e, a União Nacional - com os banqueiros à cabeça e o professor Marcelo a carro-vassoura - que se desdobrou em justificações, apelos, prantos, rezas e mezinhas pela aprovação do Capítulo III, e onde só faltaram as vozes de Oliveira e Costa, Dias Loureiro, e Pinto da Costa, volta à carga outra vez com os mesmíssimos argumentos em defesa da mesmíssima imperiosidade da aprovação do Capítulo IV. Sem tirar nem pôr.
A ladainha da “imagem de credibilidade” que é necessário passar para “Os” mercados e para “As” instituições financeiras, rezada nos últimos quinze dias por todas as religiões e seitas num unanimismo que nem a selecção nacional de futebol consegue, resume-se a isto: Orçamento de Estado incompleto entregue quase ao foto finish, e conferência de imprensa adiada para hora incerta.
O aumento salarial de 52% não é aumento salarial de 52% porque entretanto acabaram as despesas de representação, devendo ser antes visto como uma compensação de 52% por se ter perdido 52% de despesas de representação, o que faz com que no próximo aumento salarial, na base da negociação na Concertação Social, incida sobre o anterior salário, acrescido de 52%. Confusos? As contas são muito mais simples de fazer para quem ganha pouco mais de €600 mensais e vê retirado 40 e picos euros de abono de família sem que lhe tenham aumentado o salário em €40 para compensar o abono de família perdido.