"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Para levar a sério era o PCP deixar de vez a palhaçada Os Verdes, aquela coisa que não se sabe quanto vale por nunca ter ido a votos em modo próprio, e desafiar o Bloco de Esquerda para um coligação eleitoral que podia duplicar a representação parlamentar das actuais bancadas. Cada qual ia às suas a seguir ao encerramento das urnas e cada partido continuava com o seu programa e agenda política, mas iam juntos a votos. Agora o PCP aparecer a propor-se solução governativa, prenha de adjectivação a lembrar a Rússia em 1917 ou Venezuela de 2002 do "socialismo bolivariano para o século XXI", uma "alternativa patriótica e de esquerda", com ministérios e secretarias de Estado distribuídas, depois de nos idos da 'Geringonça' a ter recusado liminarmente, não é para levar a sério, é mais do mesmo, manobras de diversão.
Antes de haver Iniciativa Liberal havia blogues, que foi onde eles se conheceram todos antes de fundarem a colectividade, e nos idos dos blogues, os agora ilusionistas liberais, vilipendiavam o Partido Comunista por apresentar uma moção de censura no Parlamento por dá cá aquela palha, ainda para mais se o Governo era de maioria absoluta.
E antes de haver blogues havia o Partido Comunista, o tal das moções de censura por dá cá aquela palha, o Partido Comunista que agora, pela voz de Paulo 'operário' Raimundo, diz fazer zero sentido apresentar uma moção de censura a um Governo com maioria absoluta no Parlamento.
Deve ser a isto que estes artistas de variedades chamam coerência.
Camaradas do maior bando de trolls no Twitter, logo a seguir aos ilusionistas liberais e aos adeptos do Foculporto - o PCP, a queixarem-se de atentado à democracia e liberdade de expressão, por contas temporariamente suspensas com a nova política de Elon Musk para a plataforma, eles, que todos os 26 de Dezembro lamentam o fim da URSS, essa pátria da democracia e da liberdade de expressão.
Depois de alegremente terem votado ao lado do Chega contra a morte medicamente assistida, e de alegremente fazerem gala disso com os RT's às notícias que dão conta que "eutanásia aprovada na especialidade com votos contra de Chega e PCP", alegremente continuam nas redes com a mobilização total de trolls para xingar o partido que mais trolls mobiliza nas redes, os ilusionistas liberais, num ponto em que até têm razão, a obrigatoriedade de um bidé para o licenciamento de uma habitação.Via rápida para a total irrelevância.
Curioso que num partido que não era chinês, isso era coisa dos eme erres pê pês e dos eme-eles, avulso ou atacado, o novel secretário-geral recorrer do mesmo argumento que a direita radical e liberal recorre para elogiar a globalização capitalista, "a globalização capitalista veio tirar milhões da miséria", falso, meteu os miseráveis globalizados ao nível dos miseráveis globalizadores, versus "a China acabou com a fome", também depois dos milhões de vítimas do Grande Salto em Frente era o que mais faltava, logo a supressão do direito à greve e do sindicalismo livre é um mal menor e até aceitável. "És liberal e não sabias" ou, como dizem os 'amaricanos', what a time to be alive, os liberais que andam em polvorosa nas redes a espalhar o clip, "estão a ver? é mais do mesmo, um ditadorzeco em potência" sem se darem conta de que a base argumentativa é a mesma.
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Depois de Bernardino com a democracia na Coreia, da Rato com o desconhecimento do Gulag, o operário Raimundo com o Grande Espalhanço em Frente.
De cada, e de todas as vezes, que há um assomo de protesto, revolta, contestação ao poder instituído nos "países que definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista - Cuba, China, Vietname, Laos e R.D.P. da Coreia, pelo seu papel de resistência à 'nova ordem' imperialista", e até mesmo na Arménia ou na Bielorrússia ou na Ucrânia, ficamos a saber, à quinta-feira no "a verdade a que temos direito", da mãozinha da CIA e do imperialismo 'amaricano' a manobrar atrás do arbusto, que no paraíso na terra não há razões para reviralhos, por oposição ao protesto, revolta, contestação ao poder instituído, em zonas do globo como a Palestina ou o Saara ocidental, aí sim, genuíno protesto de massas, de geração espontânea nas ruas e nas fábricas. O que nos transporta para os protestos na fábrica da iPhone em Zhengzhou, China, com a polícia a carregar indiscriminadamente sobre os trabalhadores, manobrados pela CIA e pelo imperialismo 'amaricano', mas por outro lado é o iPhone, o símbolo máximo do imperialismo 'amaricano'. E isto é um senhor imbróglio, não para os chineses, nem para a iPhone, que são muito mais práticos e pragmáticos a lidar com estas minudências, segundo o ponto de vista do capitalismo imperialista, claro, mas para quem constrói narrativas, teses ao congresso, e atribui cédulas de protesto genuíno aos povos, de forma a construírem uma realidade onde encaixar a ideologia e a peculiar visão do mundo.
Militante destacado para a maior central sindical do país e destacado militante do partido que todos os dias 26 de Dezembro chora o fim da União Soviética, do sindicalismo interventivo e reivindicativo não autorizado e do partido único imposto a toda a sociedade, diz que o PCP, por interposta pessoa o operário Raimundo, se deve deixar de merdas e dizer preto no branco que a Ucrânia foi invadida pela Rússia, porque a prazo o partido pode ser prejudicado eleitoralmente, e até porque a coisa é mais abrangente e inclui, por exemplo, a ilegalização do Partido Comunista da Ucrânia, "Ou seja, o país que se diz que é um Estado de direito, que ilegaliza o Partido Comunista". Ou seja, o partido único era bom na URSS, que urgia aperfeiçoar e não implodir, mas o partido ilegalizado na ex República Socialista Soviética da Ucrânia já é mau. Se calhar porque desde a revolução de 1917, passando pelo Holodomor que não existiu, a colectivização forçada, as purgas paranóicas de Estaline, a industrialização estalinista acelerada, com as transferências massivas de população, e que havia de ser a génese dos actuais problemas actuais no Donbas, até à data da independência, os ucranianos só de ouvirem falar em comunismo ficam com pele de galinha, porque se lembram do partido que ao chegar ao poder acabou com todos os outros. Não, Arménio não é um trolha da Areosa, Arménio é um PhD erm estratégia comunista que consegue ver mais longe que outros na arte da maquilhagem para que tudo fique na mesma.
Com o advento das redes sociais, Twitter, Facebook, Insta, WhatsApp, Telegram, e o diabo a quatro, e com os exércitos de minions de todos os lados das barricadas 24 horas de serviço ao teclado, aquilo que antes era esporádico nos meios de comunicação social tradicionais, televisões, rádios, jornais, começou a ser invocado a cada minuto e por qualquer coisa que se diga ou escreva - tudo é anticomunismo, desde a crítica mais velada à fundamentada, e até à constatação óbvia - anticomunista, na tentativa de equivaler anticomunismo a antidemocrata, sem nunca ninguém explicar porque é que alguém não pode ser anticomunista, principalmente se o "anti" for anti o partido que é anti tudo o que não seja comunista.
"Etnocentrismo de Classe" há um capítulo em "O Século dos Comunismos" que ajuda a perceber as hagiografias dos secretários-gerais, e outros dirigentes, operários.
Temos Marcelo, o inimputável, que colecciona momentos de dizer merdas gratuitamente da boca para fora, e temos os outros, os que passam a vida a justificar as merdas que Marcelo, o inimputável, diz gratuitamente da boca para fora.
Temos o século XX, dos engenheiros mecânicos de fato de macaco dentro das fossas nas oficinas, ou dos agrónomos de galochas nas pocilgas, ou dos civis na obra ao comando da retro escavadora ou do cilindro no alcatrão, por exemplo, e temos a bandeira do início do séc. XX "é um operário sem formação universitária" que chega a secretário-geral do partido.
Podem parecer coisas distintas mas é tudo a mesma coisa.
O partido que todos os anos chora o fim da União Soviética, onde o partido comunista proibiu todos os outros partidos, está contra a ilegalização do partido comunista na Ucrânia e não reconhece legitimidade, "no que à democracia e aos direitos humanos diz respeito", à União Europeia, onde os partidos comunistas não são proibidos. Como diria o criador da Cheka, aprendam, aprendam, aprendam sempre.
Uma quantidade de artistas, alguns com história de luta contra o fascismo e peso histórico e institucional na música feita em Portugal, que se recusa actuar em eventos patrocinados pelo PSD e CDS, por causa da direita, das políticas de direita, da burguesia e do capitalismo, blah-blah-blah, isto em educadês porque em português é mais "não tocamos para esses filhos da puta, albergue de pides, legionários e outra bufaria fascista, alguns directamente da União Nacional para a democracia", digo-vos eu que fui roadie e assisti ao que a casa gastava, vai tocar à Festa do Avante porque o PCP é um partido que lutou contra os outros, os filhos da puta que fizeram a transição, um partido pela paz, que é contra a guerra, sem nunca mencionar quem é que começou a guerra e como é que se acaba a dita sem ser com resposta de guerra ou com a retirada do agressor-invasor para dentro de portas, de onde nunca devia ter saído, e que tem na sua festa anual, aquela onde os artistas foram actuar porque são contra aquelas coisas todas, distribuição de magnetos Z, do fascismo russo, dos nazis do Grupo Wagner a cometerem crimes contra a humanidade na Ucrânia, com origem num grupo marxista-leninista brasileiro apoiante da candidatura de Lula. À mulher de César e coise.