"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O "operário" Raimundo foi à Madeira dizer coisas. A Madeira que, assolada com o regresso de milhares de retornados e descendentes de emigrados a fugirem à fome e à miséria na Venezuela, insiste em não perceber a mensagem do "operário" Raimundo, que a alternativa à governação de 47 anos é a CDU, a CDU do PCP que apoia Maduro na Venezuela, de onde esta gente toda parece não parar de chegar.
Invocar Martin Niemöller quando se é apanhado com a boca na botija, ou quando se lhe cai a máscara de grande democrata, como forma de desviar a conversa e passar a ideia de que vem aí o fascismo com pezinhos de lã, devia ser considerado uma emenda à Lei de Godwin. Vem isto a propósito do ex Brigadista Vitor Jara, 50 anos por estas alturas no Chile de Pinochet, convertido em observador independente numa região ocupada e em guerra, num processo eleitoral onde os eleitores votam sob coação do cano das AK-47, em eleições não reconhecidas pela comunidade internacional, poucos meses depois de massacres de populações civis e de deportações de crianças, e da desculpa/ justificação que amanhou para nos atirar à cara que aqui, no ocidente, burguês e capitalista, onde cresceu, engordou e tem qualidade de vida, somos todos uns ignaros. Não fora assumir a fraude da sua militância podia ter adaptado o tal do Niemöller para terminar o concerto de violino em 5374 caracteres nas páginas da Visão:
“Primeiro eles vieram buscar os constitucionais democratas [Kadets], e eu fiquei calado — porque não era constitucional democrata.
Então, vieram buscar os mencheviques, e eu fiquei calado — porque não era menchevique.
Em seguida, vieram buscar os anarquistas, e eu fiquei calado — porque não era anarquista.
Depois vieram buscar os socialistas revolucionários, e eu fiquei calado - porque não era socialista revolucionário.
Foi então que os bolcheviques vieram me buscar, e já não havia mais ninguém para me defender."
Mas isso era honestidade demais para tamanha espinha dorsal do militante de um partido que não é putinista.
É isso camarada, menos armas, menos munições, menos destruição, mais uma república, ficavam a faltar 13 para ser outra vez a URSS [a Bielorrússia já está integrada], e a Carta das Nações Unidas mais a Acta de Helsínquia é o fumo que que a gente sopra para os olhos de gente que não sabe o que diz a Carta das Nações Unidas nem a Acta de Helsínquia, nem se preocupa em procurar saber, com os pés de microfone à cabeça, a famosa "comunicação social a soldo do grande capital".
Defender que ditaduras podem "construir uma ordem económica mundial mais justa", mas a justeza das respectivas ordens internas nacionais um peru menor.
Falar em pensamento único imposto enquanto se chora o fim da URSS, esse berço do livre pensamento.
Defender o direito dos povos à autodeterminação e independência, a Declaração de Helsínquia, a Carta das Nações Unidas, enquanto se fala em "desagregação forçada de países como a antiga Jugoslávia" onde os povos quiseram seguir caminhos separados porque os 'amaricanos', a NATO e a União Europeia lhes disseram para seguirem, à imagem do que já tinham feito com os checos e eslovacos.
Ir colocar o embrião do Movimento Não Alinhado na Indonésia "ainda livre da sanguinária ditadura de Suharto" para não referir a sua fundação na Jugoslávia de Tito, ele próprio a fugir à sanguinária ditadura de Estaline.
Falar em validar eleições segundo "padrões assimétricos e a qualificar de ditadores todos os governantes que não obedecessem aos seus critérios de submissão, por mais democraticamente eleitos que tivessem sido" fazendo de conta que nada aconteceu na RDA em 1953, e que as eleições foram respeitadas na Hungria em 1956 ou na Checoslováquia em 1968.
O artigo do António Filipe no Expresso sobre os BRICS explica a coerência da Brigada Brejnev até ao seu desaparecimento do Parlamento e da vida autárquica.
[Link na imagem “According to the precepts of Ilyich”]
Já quanto ao Parlamento de Kiev, [...] um simulacro de instituição parlamentar de onde foram banidos todos os partidos que se opõem ao partido da guerra, erigido numa espécie de partido único.
O operário Raimundo foi à China a convite do Partido Comunista indígena para confirmar in loco, para "ver com estes olhos que a terra há-de comer", expressão cara à base eleitoral do PCP, o que é liberdade sindical, sindicalismo reivindicativo, direito à greve, 35 horas de trabalho, férias pagas e mais um mês pelo Natal, e outras coisas assim. Quinta-feira o Avante! explica.
Por duas vezes a bancada do PCP ficou imóvel e muda enquanto o Parlamento aplaudia, primeiro Augusto Santos Silva, depois Lula da Silva, na condenação da invasão russa da Ucrânia. O PCP só quer a PaZ! A PaZ! a PaZ!
A Transparência Internacional acusa Bolsonaro de criar o “maior esquema de corrupção institucionalizada” no Brasil, vai daí o Ventas convida o mal-formado para Portugal e manda metade da bancada do Chaga para o Parlamento, de cartazes na mão xingar Lula, a outra metade de bandeira na Ucrânia para ver se a gente se esquece de que quando o energúmeno chegar também chegam Le Pen e Salvini, os amigos do Ventas financiados por Putin.
As pessoas tinham uma vida, bem ou mal, mas tinham. Trabalhavam, iam à escola, praticavam desporto, iam ao cinema, ao teatro, ficavam em casa a ver televisão, iam ao café, conversavam umas com as outras, iam às compras, namoravam, casavam, iam de fim-de-semana, tiravam férias, chateavam-se umas com as outras a meterem likes no Facebook e no Insta, iam jantar fora, iam a concertos, a parques e jardins, não faziam a ponta de um corno se não lhes apetecesse fazer. Como cantava o Frank que era Sinatra, "that's life (that's life), that's what all the people say". Até que chegamos ao dia 24 de Fevereiro de 2022 e Putin ordena uma invasão, assim sem mais nem menos, traduzida num êxodo massivo de populações em fuga para os países vizinhos, em massacres indiscriminados de população civil, violações, assassinatos, destruição cirúrgica de todas as infra-estruturas do país, de escolas a hospitais, passando por infantários, cinemas, teatros, tribunais, rede eléctrica, água e gás, raptos de crianças, uma política de genocídio programado como se não via em território europeu desde que o homem do bigodinho decidiu invadir a Checoslováquia a propósito de uns compatriotas que viviam no Donbas, perdão, nos Sudetas. A barbaridade, o mal e a malvadez em cirílico. Mais as ondas de choque em todo o território europeu, economia à cabeça. E desde aí até ao dia 2 de Abril do ano seguinte é o que se sabe e o que se vê todos os dias nas televisões e o que o Comité Central do PCP, que não é putinista coisíssima nenhuma, sentado em Budapeste desde 1956 "reafirma que é premente que os EUA, a NATO e a UE cessem de instigar e alimentar a guerra na Ucrânia e de obstaculizar a abertura de vias de negociação com os demais intervenientes". Um ano passado. O circo continua sediado no Palácio de Inverno.
"importante realidade do quadro internacional, nomeadamente pelo seu papel de resistência à 'nova ordem' imperialista, são os países que definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista - [...] e R.D.P. da Coreia" ou, como escreveu o "camarada" António Filipe no Twitter, Viva a República!
Mais que o Pacto Germano-Soviético, também conhecido por Pacto Molotov-Ribbentrop, houve dois momentos definidores na trajectória da esquerda no séc. XX: Hungria em 1956 e Checoslováquia em 1968. A história repete-se no séc. XXI com a invasão da Ucrânia. E os que antes estavam em Moscovo continuam exactamente no mesmo sítio.
[Link na imagem "Warsaw Pact troops invasion. Prague, Czechoslovakia. August, 1968", Josef Koudelka]
Os protestos nas ruas de Tiblissi são financiados e manipulados pelos Estados Unidos e pela CIA, o vandalismo nas ruas de Paris são a justa reivindicação da classe operária francesa. O partido pan-eslavista tuga, pelos minions de plantão às redes 24 horas/ dia, começa a ser uma anedota.
Lê-se e ficamos a saber que a NATO - Portugal incluído, os 'amaricanos', a União Europeia - Portugal incluído, não só declararam guerra à Rússia como a atacaram. Só difere do discurso alucinado de Putin na véspera porque aqui a NATO - Portugal incluído, os 'amaricanos', a União Europeia - Portugal incluído, se preparam para declarar guerra e atacar a China. Diz que o PCP não é putinista pero que las hay, las hay.