"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Como é que um tribunal do sec. XIX, com juízes que citam a Bíblia nos acórdãos, consegue no séc XXI, das contas de e-mail a granel, dos telemóveis descartáveis, dos perfis falsos no Twitter, no Facebook, no Snapchat, consegue saber se os arguidos contactam entre si?
Parece que não foi só a mim a quem isto soou mal. E parece que ainda podia soar pior, muito pior:
«A circunstância objetiva do requerente ser vice-Presidente da República de Angola constitui uma desigualdade, uma diferença, relativamente a outros cidadãos que, como é manifesto, justifica e fundamenta, por um critério de justiça e bom senso, atenta a prossecução do interesse nacional português a que a Justiça não deve ser alheia, um tratamento distinto»
Face às "circunstâncias objectivas" e face a "um tratamento distinto", e também face à imagem que passa da justiça a espreitar por debaixo da venda, todas as dúvidas e interrogações são legítimas. Substituir "vice-Presidente da República de Angola" por primeiro-ministro ou ministro de um Governo Português? Substituir "vice-Presidente da República de Angola" por presidente de um banco português? Substituir "vice-Presidente da República de Angola" por presidente, em exercício, de um grande clube português? Substituir "vice-Presidente da República de Angola" por dono de um escritório de advogados? Substituir "vice-Presidente da República de Angola" por _________________________________.
Resta saber se o resultado do inquérito disciplinar não vai acabar como acabam todos os inquéritos, disciplinares ou não, abertos pela Procuradoria-Geral da República: Carimbo "Arquivar" na capa.