"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
Como na obra-prima de Fyodor Dostoyevsky, aqui o personagem também atinge a salvação pelo sofrimento. O sofrimento dos outros, do contribuinte.
Ainda em "modo" Fyodor Dostoyevsky, como diria Ivan Karamazov, "Se Deus está morto, então tudo é permitido". Ao critério de cada um, substituir "Deus" por: ________________________________________________.
A questão que importa é, neste caso concreto, como é que um Governo que acredita piamente na bondade do mercado auto-regulado [ler mercado desregulado] e no capitalismo financeiro, na exacta proporção em que abomina o "despesismo do Estado", via empresas públicas e sector empresarial do Estado [ler o Estado na economia], e que transformou a divida financeira em dívida pública, vai proceder quando os maus da fita, da sua confiança política porque partilham dos mesmos princípios ideológicos, mais não fizeram do que seguir o instinto que o seu fanatismo e fundamentalismo lhes mandou seguir.
Há uma sub-categoria no cinema porno, dentro de outra subcategoria – o porno amador, denominada "wife-swapping" – maridos possessivos e com problemas de erecção, "tratados" por interposta pessoa, a mulher submissa e obediente, objecto sexual às mãos de terceiros [no plural], para prazer voyeurista do marido [não confundir com swing onde a mulher tem papel activo e vontade própria].
É a isto que se referem quando referem contratos swap, não é? Gestores amadores de nomeação política, com o fetiche "administrador de uma grande empresa", ávidos em apresentar resultados que lhe permitam saltar para o privado, e que tratam as empresas públicas como objectos de recreação, com o final em modo bukkake para a cara o bolso do contribuinte.
Já nem é o populismo manhoso do primeiro-ministro que viaja de avião, em classe económica, na companhia de bandeira que tem por tradição oferecer as viagens aos membros do Governo, para depois ter motoristas, pagos a peso de ouro, numa secretaria de Estado, que o passou a ser porque não se justificava um ministério para o desperdício que é apostar na cultura e há que poupar porque o dinheiro não chega para tudo e a armada invencível precisa de combustível para ir rapidamente, e em força, impor a ordem na Guiné-Bissau. Não.
É o Governo que quis impor mais meia hora de trabalho gratuito aos portugueses porque «era absolutamente fulcralaumentar a mais valia do patrãoe em prol do interesse global» e depois, dentro do horário de trabalho, pago com o dinheiro dos contribuintes, um secretário de Estado que sai, como quem faz uma pausa de 10 minutos para ir ali beber um cafezinho, e vai de Lisboa a Braga, no carro de serviço e com motorista, tratar da vidinha na empresa que não declarou ser accionista. Esta gente não presta.
Não seria nada de especial, tudo absolutamente normal, não se desse o caso de ser [n]um Governo que, a bem da badalada mobilidade social, não vê impedimento de maior a que um cidadão vá todos os dias trabalhar para 50 ou mais quilómetros de casa, de Cascos de Rolha para Alguidares de Baixo, a ganhar o salário mínimo nacional e com os transportes e a alimentação às suas custas [não incluindo na equação o factor família], tudo por causa da competitividade da economia e dos custos do trabalho: