"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
"Patrões dizem que um horário de trabalho é inoportuno".
"Patrões dizem que 8 horas de horário de trabalho é inoportuno".
"Patrões dizem que um dia de descanso semanal é inoportuno".
"Patrões dizem que dois dias de descanso semanal é inoportuno".
"Patrões dizem que duas semanas de férias é inoportuno".
"Patrões dizem que 22 dias de férias é inoportuno".
"Patrões dizem que férias pagas é inoportuno".
"Patrões dizem que atribuição de um 13.º mês é inoportuno".
"Patrões dizem que pagamento de subsídio de refeição é inoportuno".
"Patrões dizem que 3 meses de licença de maternidade é inoportuno".
"Patrões dizem que 120 dias de licença parental é inoportuno".
"Patrões dizem que 150 dias de licença parental partilhada é inoportuno".
E podíamos começar a contagem das inoportunidades, por exemplo, na Revolução Industrial, para não recuar muito no tempo, porque no que toca a terminar "o futuro a Deus pertence", como diz o povo, se é que alguma vez vão terminar. E o que falta ali atrás, que a descrição não é exaustiva.
E o problema nem é os patrões dizerem na câmara corportativ... concertação social o que lhes vai na real gana, o problema é os papagaios que não sendo patrões repetem o que os patrões dizem.
«[...] é altura de reverter algumas das medidas que desequilibraram as relações entre trabalhadores e empresas, para que "a desregulação do estado de excepção não se transforme na nova norma". "É imperioso reverter as medidas com incidência na negociação colectiva tomadas no período da troika"
[...] sindicatos e aos patrões [devem empenhar-se] em credibilizar a negociação colectiva, dando provas da sua representatividade, para evitar que organizações a que chama "ultraminoritárias" negoceiem contratos que depois podem ser estendidos a todo um sector»
Paulo Nunes de Almeida presidente da Associação Têxtil e de Vestuário de Portugal, discursando na abertura do 9.º Fórum da Indústria Têxtil, e na presença do ministro da Economia, contestou a meta imposta pelo Governo de chegar a 2011 com um salário mínimo de 500 euros mensais. E disse mais. Exigiu como forma de contrabalançar este aumento “a isenção dos descontos para a Segurança Social das horas suplementares, a limitação dos montantes globais das indemnizações por despedimento, bem como a alteração do pagamento do total do rendimento anual dos trabalhadores de 14 para 12 meses, ou seja, o fim dos subsídios de Natal e de férias” (Público, sem link), no que foi apoiado pelo presidente da Escola de Gestão do Porto, “Não se pode ter tudo ao mesmo tempo e se há problema que tem atingido a economia portuguesa é o encarecimento excessivo dos últimos anos e isso tem muito a ver com a evolução dos salários” disse Daniel Bessa.
O blogue não podia estar mais de acordo com Paulo Almeida e com Daniel Bessa. Não se pode ter tudo ao mesmo tempo! Onde é que já se viu; passa pela cabeça de alguém com um mínimo bom senso que um operário possa vir a ganhar 500 (qui-nhen-tos!) euros mensais em 2011?! Isto realmente é de loucos! Então e as margens de lucro do nosso querido patrãozinho, ein?! E o parque automóvel do Vale do Ave a necessitar de urgente renovação, ein?! Então e as margens de lucro que vão diminuir substancialmente, não permitido manter um estilo de vida consentâneo com o estatuto de “empresário”, ein?
Era disto que Cavaco Silva falava, – o Presidente porque nestas coisas há sempre que distinguir o heterónimoCavaco Presidente do heterónimo Cavaco Primeiro-ministro – quando apelou aos “empresários pela inclusão social”?
O blogue como prova de compreensão e de solidariedade para com a classe empresarial lusitana, vai fazer-se à estrada e lançar uma petição on-line para que se acabe de uma vez por todas com essa modernice do horário laboral, e se volte a introduzir o sistema de trabalho de sol-a-sol. A bem do empresário, perdão, a bem da economia da Nação. Amén.
Adenda: Proponho aos jornalistas destacados para estes eventos um exercício simples de fazer: na fase das perguntas peçam aos entrevistados – patrões do têxtil e do vestuário – para mostrarem as etiquetas dos fatos e das gravatas que usam. Portugal?! O que é isso Portugal?! Onde é que isso fica?! Pode parecer que não, mas tem a ver com o que atrás foi escrito.