"Podem ainda não estar a ver as coisas à superficie, mas por baixo já está tudo a arder" - Y. B. Mangunwijaya, escritor indonésio, 16 de Julho de 1998.
O curioso, até estranho, nesta sequência de audições dos partido pelo Presidente da República, é nenhum, da esquerda à direita e da ditreita à esquerda, lhe ter dito "Fica desde já V. Exa. a saber que só aqui marcamos presença por deferência, respeito institucional, porque não cabem nas competências do Presidente da República audições aos partidos com assento parlamentar a propósito do final da legislatura, assim como não cabe ao Conselho de Estado fazer pontos da situação sobre o estado da Economia, situação social e política, relatórios de comissões parlamentares de inquérito e o mais que der na sua presidencial gana, e disso sabe muito bem V. Exa., uma vez que é professor de direito constitucional". Mas não o dizem e o circo continua.
No ano em que todos aprendemos que o que antes todos tínhamos aprendido afinal estava errado, que a Lei não é para interpretar literalmente mas antes que a Lei é a Lei mas...
- As pessoas vão para a política por facilidades nos negócios com o Estado?
- As pessoas têm negócios com o Estado por facilidade no acesso aos decisores políticos?
- Ambas as anteriores fazem sentido e complementam-se?
- Pedro Passos Coelho tinha razão quando dizia ser necessário "aliviar o peso do Estado na economia"?
- Ou entes é preciso aliviar o peso dos partidos no Estado?
- Uma das grandes conquistas do 25 de Abril foi alargar o espectro do "vira o disco e toca o mesmo" na relação de umas quantas famílias com o Estado, a democratização do clientelismo?
- Qual é o papel reservado ao cidadão anónimo que não a abstenção como forma de protesto ou o voto num qualquer justiceiro que lhe apareça a prometer disciplinar a causa pública?
Que "a democracia tem um custo" vai ser o argumento a atirar à cara de quem está contra o fim das restrições ao financiamento público dos partidos, no país onde desde 2009 o sector privado tem os salários congelados ou sofre aumentos simbólicos entre os zero virgula alguns e o um por cento. Logo seguido do inevitável "populista!". E é precisamente por a democracia ter um custo que da parte dos partidos fundadores da democracia devia haver algum pudor e alguma prudência para não fomentar o aparecimento de populismos fora do sistema, agora que Paulo Portas se retirou, e que têm como objectivo último suspender a democracia.
"los partidos tienen una manera de funcionar que es contraria a lo que llamamos la democracia de calidad o democracia real o simplemente la democracia"
"para cambiar las cosas hay que perder el miedo" y desobedecer leyes y políticas injustas
la financiación de los partidos necesita "cantidades tan importantes que se tienen que relacionar con intereses del gran capital y esto es una servidumbre política cuando tienen que tomar luego decisiones con la libertad democrática necesaria, tanto si están en el gobierno y tiene responsabilidades ejecutivas como si están en la oposición"
"Se ha agudizado […] el tema de las puertas giratorias, y vemos como personas que provienen de defender intereses muy concretos en lo privado, por ejemplo el ministro de Economía, Luis de Guindos, que representaba a Lehman Brothers, se pasan a lo público".
"¿Cómo podemos confiar en las instituciones que en teoría velan y articulan la democracia, si los partidos no tienen un funcionamiento democrático interno en su propio seno?"
"[…] ¿Cómo puede la Iglesia hablar de derechos humanos si en su seno no los respeta?. Y creo que es una crítica válida, pero creo que también se puede aplicar a los partidos. ¿Cómo vamos a dejar en manos de unas instituciones que no tienen democracia interna la articulación de nuestra democracia?"
"[…] en EEUU, donde yo podía estar atendiendo a un paciente y la enfermera me pedía que le dejara para atender a otro, no porque fuera más grave, que sería lo lógico, sino porque el que yo atendía tenía un seguro más barato y tenía que dejarlo para atender al que pagaba más"
Como está escrito no canto superior direito deste blog desde o dia da sua criação: "Podem ainda não estar a ver as coisas à superfície mas por baixo já está tudo a arder".
Mentiras à parte, o que as comissões parlamentares de inquérito, as audições parlamentares, e também os debates com o Governo no Parlamento, mostram, até à exaustão, aos cidadãos-contribuintes – termo mais alargado, por abarcar os cidadãos-eleitores e os cidadãos-que-já-deixaram-de-ser-cidadãos-eleitores, é que a fidelidade dos deputados eleitos da Nação vai para com o partido e nunca, ou raramente, para quem os elegeu, no sentido dar voz. Os partidos da maioria, nas comissões e nas audições parlamentares e nos debates com o Governo, são assim como aquele senhor que no teatro está dentro duma caixinha à frente do palco a sussurrar as deixas aos actores: o ponto. E quantas mais dicas sussurra perguntas faz, mais o grupo dos cidadãos-que-já-deixaram-de-ser-cidadãos-eleitores aumenta.
Dizem os analistas e os paineleiros do comentário político, nas televisões e nos jornais, que os partidos preferem trocar acusações e discutir o acessório em vez de serem esclarecedores e que o povéu vai a votos sem saber da bondade das propostas, nomeadamente dos partidos do “arco da troika” (expressão fanada a Medeiros Ferreira) e do programa de Governo comum aos três, previamente escrito e carimbado na Rua da Alfandega pelo “senhor olhos azuis” y sus muchachos.
E era suposto saber? A bondade do comentador.
Curiosamente, quando escrevia estas linhas, o Word perguntou-me se queria substituir “a bondade” por “a bondage”. A Bondage que vai vir, do ponto do vista do povéu, parece-me bem.
Quando a via eleitoral esgotou por falência dos partidos políticos e das suas propostas e a via armada não é sequer hipótese a equacionar, a alternativa passa pela desconstrução do passado e do presente através da paródia, da sátira, do nonsense, do copy/ paste, do ridículo e da profanação. Questionar tudo, atacar tudo, desorganizar tudo, ignorar (que não no sentido de “ignorância) deliberadamente todos as os significados e ideologias estabelecidas, entrar em choque com o mainstream instalado de forma a despertar o inconsciente, que não é erudito nem judicioso nem doutrinado, e que toda a gente tem um.
Se as agências de rating, que é como quem diz os eleitores, resolverem baixar a notação do Partido Socialista já nas próximas eleições, podemos falar em “ataque especulativo”?
Numa Democracia adulta e responsável não é necessário que uma entidade Superior e Omnipresente venha lembrar aos governos e aos partidos políticos aquilo que é óbvio e do bom senso. Ou pelo menos assim devia ser.
(Na imagem Crowd Looking via Science & Society Picture Library)
E da Festa do Chão da Lagoa e da Festa do Pontal e da Festa de Portimão, e de todas as outras festanças mui concorridas e mui populares, e de todos os foliões dispostos a abrir os cordões à bolsa, Jacintos ou não de nome próprio, e Capelos Leites de família.
“Porque decidiu trabalhar com Luís Filipe Menezes?
- Porque neste momento, apesar de ter uma boa carteira de clientes, interessava-me também poder aceder a outro tipo de clientes, mais próximos do Estado.”
António Cunha Vaz, na P2 do Público, em entrevista assinada por Paulo Moura.
O título é: «Partidos multados em 100 mil euros por causa da campanha das legislativas», e encima a notícia que ocupa toda a página 5, hoje no Público.
Ahahah!!! Eheheh!!! O PC pertence à segunda divisão e o CDS-PP à primeira? Ahahah!!! Eheheh!!! Depois de jogado que foi um campeonato inteiro, mais a Taça e as competições europeias? Ahahah!!! Eheheh!!! Eu era capaz de apostar que, para o campeonato, o CDS-PP tinha ficado a disputar a “liguilha” com o Bloco e o PC… Que para a UEFA o partido de Paulo Portas andava pela Taça InterToto… E que na Taça Cidade de Lisboa os “Populares” (só de nome…) iam perdendo a eliminatória para a equipe daquele senhor mal encarado que não gosta de imigrantes… Ahahah!!! Eheheh!!!
Vou parar de rir que o caso é mais grave! À atenção do senhor Procurador, à atenção de Maria José Morgado: talvez não fosse má ideia um Apito Dourado aos observadores dos campeonatos que classificam os partidos por divisões…
Adenda: Já faltou mais para terminar a Silly Season…
Adenda à Adenda: Desengane-se quem pensava que para pertencer à primeira divisão político-partidária em Portugal são necessários muitos votos, traduzidos em deputados. Não. A isto há que acrescentar um requisito: usar camisa às riscas com colarinho branco, gravata italiana e aquele penteado que todos os PP’s usam. (Vão todos ao mesmo barbeiro?!). Ah! E ter um discurso cheio de adjectivos e lugares-comuns, género: “Falam, falam, falam, mas não dizem nada…”